Dezenas de milhares
de pessoas torcem o tornozelo todos os anos. Mas as lesões recebem pouca
atenção, já que a maioria considera que são um problema sem consequências e
logo volta às atividades normais.
No entanto, vários
estudos recentes em pessoas e animais sugerem que os efeitos de mesmo uma
pequena torção no tornozelo podem ser mais severos e duradouros do que
pensamos, potencialmente alterando nossa maneira de andar e a frequência de
movimentos por toda a vida.
Tornozelos saudáveis
são, claro, essenciais para o movimento.
"O tornozelo é a
base do corpo. Tudo começa nele", explica Tricia Hubbard-Turner,
professora de Cinesiologia da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte,
que participou dos estudos.
Mas ele pode ser
incrivelmente frágil e vulnerável para quem é desajeitado (ou talvez isso só
aconteça comigo). Dê um passo torto em uma curva, escorregue do salto, apoie o
pé de modo errado enquanto corre ou faz esporte e você vai luxar ou romper os
ligamentos em volta das juntas e torcer o tornozelo.
Até recentemente,
poucos de nós ficávamos preocupados com a lesão, achando, na maioria dos casos,
que o problema passaria dentro de uma semana ou duas, com ou sem atenção
médica.
Mas três novos
estudos, todos com Tricia Hubbard-Turner como coautora, levantam questões
sérias sobre a importância de se prestar atenção às lesões nos tornozelos.
No mais preocupante,
já que envolve jovens, Tricia e seus colegas recrutaram 20 universitários com
instabilidade crônica no tornozelo -- uma condição causada por torções, nas
quais o tornozelo facilmente se vira durante os movimentos -- e 20 estudantes
saudáveis e pediram a todos que usassem um pedômetro por uma semana. Os
pesquisadores controlaram as variáveis como sexo, índice de massa corporal e
saúde geral.
A pesquisa mostrou
que os alunos com instabilidade crônica no tornozelo se movem
significativamente menos do que os outros, dando cerca de dois mil passos a
menos em média todos os dias.
Essa descoberta está
de acordo com os resultados de um estudo anterior de Tricia, apesar da
experiência envolver ratos jovens. Nele, os pesquisadores lesaram de leve os
tornozelos dos roedores tirando cirurgicamente um dos ligamentos da parte de
fora da junta. Depois, danificaram mais severamente outros animais tirando dois
ligamentos e fizeram uma cirurgia falsa nos outros para servirem de grupo de
controle.
Então, deixaram que
os ligamentos curassem por vários dias antes de dar aos animais acesso às rodas
de corrida e os testaram para equilíbrio, pintando seus pés e fazendo com que
andassem por cima de um feixe estreito de luz. Os pesquisadores podiam
descobrir onde eles se desequilibravam vendo quando as pegadas estavam foram do
raio luminoso.
Os pesquisadores
avaliaram os ratos por um ano.
Ao final desse tempo,
os animais que tiveram cirurgias falsas -- aqueles cujos ligamentos
permaneceram intactos -- estavam correndo muito mais em suas rodas do que os
ratos com tornozelos danificados, especialmente aqueles com lesões severas,
mesmo que, supostamente, o problema tivesse sarado há muito tempo.
Os animais com lesões
anteriores também continuaram a se desequilibrar durante os testes com muito
mais frequência do que os do grupo de controle. Seu equilíbrio estava
comprometido e, os pesquisadores concluíram, cerca de 70 por cento dos ratos do
grupo dos que tiveram danos desenvolveram, como resultado de apenas uma lesão,
o equivalente nos roedores da instabilidade crônica do tornozelo.
No entanto, esse
estudo com animais e o com alunos universitários duraram relativamente pouco
tempo. Apesar de os ratos com um ano já estarem perto da idade da aposentadoria
para roedores, esse período em geral não representa sua vida inteira, e os
pesquisadores se questionaram se essa torção afetaria os padrões de movimento
até sua morte.
Assim, para outro estudo,
publicado no mês passado no The Journal of Sports Science and Medicine, eles
continuaram a avaliar e testar o mesmo grupo de ratos até a morte, normalmente
cerca de 12 meses depois.
Os cientistas
descobriram que as repercussões de uma simples torção no tornozelo duraram por
toda a vida dos animais. Em geral, os ratos que tiveram danos leves quando
jovens continuaram a correr menos e mais devagar até morrer em comparação com
os que tiveram a cirurgia falsa, e aqueles com lesões severas correram ainda menos
e mais lentamente.
"Nesses animais,
uma única torção levou a muito menos atividade" por toda a vida do que
entre os que estavam com os tornozelos intactos, afirma Tricia.
Claro, eram ratos,
não humanos, então é impossível saber se um declínio parecido em atividade por
toda a vida acontece com pessoas que torcem o tornozelo.
Mas essa
possibilidade significa que deveríamos levar as lesões no tornozelo mais a
sério, explica ela.
"Não ignore uma
torção", diz Tricia.
Se você torce ou
machuca seu tornozelo, consulte um médico ou um terapeuta físico para conseguir
diagnóstico, tratamento e reabilitação. E se você teve uma lesão no passado,
mesmo que pareça totalmente curada, pense em fazer um teste de equilíbrio com
um terapeuta corporal para determinar se é mais instável do que imagina.
Por fim, se você
nunca torceu um tornozelo, congratule-se, de preferência sobre um pé só.
"Treinar o equilíbrio é uma boa ideia para todo mundo", avisa Tricia.
Porém, a melhor
maneira de evitar os problemas futuros de um tornozelo torcido, diz ela,
"é não torcê-lo".
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