FONTE: , Athar Ahmad, Nicholas
Rotherham e Divya Talwar,
Do Newsbeat e da BBC Asian Network, (noticias.uol.com.br).
A primeira palavra
que vem à mente quando se está diante de Pradeep Bala é "grande". O
indiano de 25 anos tem braços enormes, ombros largos e um grande peitoral. Mas
ele não está feliz com seu tamanho.
Sua obsessão em
conseguir o corpo "perfeito" é, na verdade, um distúrbio de ansiedade
pouco conhecido: a vigorexia. Formalmente conhecido como "dismorfia
muscular", também é descrito às vezes como uma anorexia ao contrário.
Ele se caracteriza
por uma incompatibilidade entre o corpo de uma pessoa e a imagem que ela tem de
si mesma. Mesmo sendo grande e musculosa, ela se vê "pequena".
Para Pradeep, que
mora em Londres, no Reino Unido, tudo começou quando ele passou a se comparar
aos homens musculosos que ilustram páginas de revistas. "Pensava que, se
eles conseguiam ficar assim, eu podia também", diz.
Com 1,70m de altura,
ele tem um físico que se encaixaria perfeitamente numa revista de
fisiculturismo, mas que considera insuficiente.
"Definitivamente,
sou pequeno. E costumo ser duro comigo. Digo para mim: 'Qual é o seu problema?
Olhe para você. Vire homem'", afirma.
"Esse diálogo
interno faz com que pouco a pouco eu fique mais ansioso e depressivo."
Distúrbio desconhecido.
A vigorexia pode
afetar homens e mulheres, mas costuma ser mais prevalente entre eles.
Estima-se que um de
cada dez homens que frequentam academias no Reino Unido sofra deste problema,
que pode levar à depressão, uso de anabolizantes e até mesmo ao suicídio.
No entanto, muitos
casos não vêm a público, segundo Rob Willson, presidente do conselho da
Fundação de Distúrbio de Dismorfia Corporal.
Ele diz que esta
condição vem se tornando mais frequente, mas que muitas pessoas deixam de ser
diagnosticadas, porque o distúrbio ainda é desconhecido.
"Temos milhares
e milhares de pessoas assim, que se preocupam excessivamente com sua aparência
e têm baixa autoestima", afirma Willson.
"Esta ansiedade
e preocupação em demasia podem deixar alguém deprimido a ponto de levar ao
suicídio."
Fora de controle.
No caso de Pradeep,
começar a malhar e seguir uma dieta rígida fez ele sentir-se ótimo a princípio,
mas logo isso saiu do seu controle. Por mais musculoso que ficasse, ele nunca
estava satisfeito.
Ele diz ter chegado à
conclusão de que tinha vigorexia no fim da adolescência. Mas não foi algo
simples.
"No início, não
me importei. Não queria acreditar que a vigorexia existia e que tinha esse
problema", conta Pradeep.
"Foi somente
anos depois, ao ver alguns documentários, que eu assumi que tinha algo
errado."
A vigorexia gerou
vários outros problemas em sua vida. "Perdi amigos, porque me isolava, não
falava com ninguém, não atendia ligações nem respondia emails. Só acordava,
trabalhava, malhava e dormia", diz.
"Sentia a
necessidade de bloquear qualquer vida social até estar satisfeito o suficiente
com meu corpo para ter a autoestima necessária para falar com as pessoas."
Desequilíbrio.
Mas o que causa a
vigorexia?
Sua origem não está
clara, mas especialistas acreditam que pode ser uma condição genética ou fruto
de um desequilíbrio químico no cérebro.
Experiências de vida
também podem ser um fator. A vigorexia pode ser mais comum em pessoas que
sofreram abusos ou foram alvo de gozação de colegas durante a infância.
A mãe de Oli Loyne,
Sarah, acredita que ele tornou-se vigoréxico por sua insegurança com sua baixa
estatura, de 1,57m.
"Ele queria
compensar isso tendo o corpo mais largo possível", afirma ela.
Loyne começou a
malhar excessivamente e a tomar anabolizantes quando tinha 18 anos. Aos 19,
teve dois ataques cardíacos e um derrame. Ele morreu após o terceiro infarto,
um ano depois.
"Não conseguia
mostrar a ele o que estava fazendo com seu corpo. Ele dizia 'Preciso atingir o
corpo que vejo na minha mente. Preciso ficar grande'", diz Sarah.
'Perdi minha casa, a
namorada e o emprego'.
O uso de anabolizantes
pode ser um sintoma da vigorexia. Estas drogas podem aumentar o crescimento
muscular, mas geram muitos efeitos colaterais, como queda de cabelo, atrofia
dos testículos e problemas cardíacos e de fígado.
Willson diz ainda
que, hoje, homens são cada vez mais condicionados a pensar que precisam ter
determinada aparência para sentirem-se bem-sucedidos, poderosos e atraentes.
"Há uma pressão
para que sejam musculosos, tenham um físico em formato de 'V' e tenham um
abdômen definido."
Adam Trice, de 31
anos, era um fisiculturista amador obcecado em ficar cada vez maior. Essa busca
pelo corpo "perfeito" fez também com que estivesse sempre na
academia.
"Comecei com 76
kg e com a meta de chegar aos 95 kg. Quando cheguei aos 95 kg, quis chegar aos
105 kg. Depois, aos 120 kg. Você sempre quer algo mais. Seu objetivo vai
aumentando", diz ele.
Ele acabou perdendo
seu emprego, sua namorada e sua casa. Ficou tão deprimido que tentou se matar.
"Estava infeliz.
Não tinha paz. Não estava lidando com meu problema e cheguei a um ponto
horrível", diz Trice, que foi parar no hospital e obrigado a obter ajuda
profissional.
"Fiz muita
terapia e descobri muitas coisas sobre mim mesmo. Aprendi a gostar de como
sou", afirma.
Batalha mental.
Pradeep, que abre
esta reportagem, também diz que a vigorexia se transformou numa constante
batalha mental.
Ele diz que, nos
piores dias, sua autocrítica excessiva o faz pensar que tudo está errado em seu
corpo.
"Houve diversas
vezes que olhei no espelho e fiquei enojado comigo mesmo", conta.
E diz que, apesar de
ter um físico que deixaria alguns com inveja, ele não se sente orgulhoso de seu
corpo.
"Quando estou na
academia, uso um casaco com capuz. Não quero atenção nem simpatia. Não quero
que ninguém me elogie. Quero apenas malhar", afirma.
"Isso me faz ser
muito modesto. É simplesmente a forma como me sinto."
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