FONTE: Melissa Diniz, Do UOL, em São Paulo, (estilo.uol.com.br).
Metade dos casais que não conseguem engravidar
sofrem com a infertilidade masculina. Veja quais são as principais causas, como
prevenir e tratar o problema, segundo os médicos Daniel Suslik Zylbersztejn,
especialista em reprodução humana do Hospital São Paulo e Márcio Coslovsky,
membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.
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Em que proporção a infertilidade masculina afeta o casal?
A infertilidade
conjugal atinge em média 15% dos casais em todo o mundo. Ao contrário do que
diz o senso comum, a mulher não é a principal responsável pela infertilidade
conjugal. O fator masculino representa metade dos casos, sendo que, em cerca de
25% deles, esse é o único motivo de infertilidade do casal e, em outros 25%,
aparece como fator misto, associado a alguma questão feminina.
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Qual a principal causa do problema?
A varicocele é a
principal causa da infertilidade masculina, sendo encontrada em 40% dos casos
de infertilidade primária (casal sem filhos) e em até 80% dos quadros de
infertilidade masculina secundária, em que o casal tem filhos, mas não consegue
engravidar novamente. Trata-se da dilatação anormal das veias que fazem parte
do cordão espermático, no testículo. Essa doença tem o seu início na puberdade,
podendo ser detectada em meninos acima de 12 anos. Devido à ausência de
sintomas e a prática incomum de levar os adolescentes a uma avaliação
urológica, passa anos sem ser diagnosticada, prejudicando a produção de
espermatozoides, devido ao aumento da temperatura testicular crônica. A doença
normalmente só é descoberta quando o homem tenta ter filhos e não consegue. A
"surpresa" aparece no espermograma por meio de uma baixa contagem de
espermatozoides. O tratamento é cirúrgico. Nos casos em que não há indicação
cirúrgica, o homem pode recorrer à fertilização in vitro. A coleta dos
espermatozoides pode ser feita por punção, mas quando há uma contagem muito
baixa, parte-se para microdissecção testicular, que localiza e extrai
espermatozoides sadios.
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Que outros fatores podem deixar o homem infértil?
As causas da
infertilidade masculina podem ser variadas, entre elas a ausência de
espermatozoides na ejaculação (azoospermia); baixa produção de espermatozoides
(oligozoospermia); alterações na forma e na motilidade dos espermatozoides;
doenças como o câncer (a radioterapia e a quimioterapia podem afetar o aparelho
reprodutor); obesidade e diabetes; doenças neurológicas; disfunções sexuais;
uso de drogas anabolizantes esteroides ou de certos tipos de medicação, como
alguns diuréticos e hipotensores. Tabagismo, torção de testículo, criptorquidia
(nascer com testículo fora da bolsa), infecção de testículo por caxumba e DSTs
(doenças sexualmente transmissíveis) também podem levar o homem à
infertilidade. O cigarro, por exemplo, atrapalha a produção de espermatozoides
de uma forma bastante específica, causando deposição de metais pesados dentro
do testículo. Esses metais geram uma toxicidade para as células que produzem os
espermatozoides, causando redução na produção e alterações morfológicas.
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Um homem normal produz qual quantidade de espermatozoides?
Um homem
considerado normal do ponto de vista da fertilidade gera algo em torno de 20
milhões de espermatozoides por mililitro, a cada ejaculação. O espermatozoide também
deve obedecer a um padrão em relação à morfologia (formato) e à capacidade de
movimentação (motilidade).
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O estilo de vida pode influenciar negativamente?
Sim. Pesquisas
recentes têm apontado outros diferentes fatores como causas prováveis da infertilidade
masculina, como obesidade, má qualidade de vida e o estresse. A obesidade e o
sobrepeso podem ocasionar alterações no sistema reprodutivo devido ao
aparecimento de doenças derivadas, como o diabetes. Além disso, a gordura afeta
a produção de espermatozoides por gerar calor na região testicular. Esse
aumento de temperatura atrapalha as células que produzem espermatozoides. A
doença também leva a um aumento da produção de hormônios femininos, associados
à redução dos níveis de testosterona. Já o estresse pode levar à disfunção
erétil, provocar problemas de ejaculação, aumentar o número de células
inflamatórias que interferem na qualidade dos espermatozoides e diminuir o
desejo sexual.
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É comum os homens quererem reverter a vasectomia?
Estima-se que mais
de 30 milhões de casais usem a vasectomia para controle de natalidade. Nos
últimos anos, o número de homens que querem reverter a cirurgia, principalmente
após um novo casamento, vem crescendo. Cerca de 6% dos homens desejam realizar
a reversão. A cirurgia, feita por um urologista, é sempre possível, porém,
quanto mais recente for a vasectomia, melhores são os resultados. O ideal é que
a reversão seja realizada em um período de até dez anos após a vasectomia, com
uma taxa de gravidez natural ao redor de 60%. Essa taxa é muito maior do que a
média de sucesso de um tratamento de fertilização in vitro, por exemplo.
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A idade do homem pode atrapalhar a fertilidade?
Sim, o que está em
jogo é a fragmentação do DNA do espermatozoide, que diminui a taxa de gravidez.
Estudos científicos já mostraram que homens acima de 40 anos começam a
apresentar espermatozoides com alterações cromossômicas e mutações genéticas,
embora em menor intensidade quando comparadas às alterações vistas em mulheres
mais velhas. Essa pode ser causa de infertilidade conjugal, inclusive associada
a abortamento de repetição. Doenças mentais, como esquizofrenia e autismo,
embora sejam multifatoriais, também têm sido associadas a espermatozoides de
homens mais velhos.
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O espermograma é mesmo uma prova de fertilidade?
Não há dúvida de
que seja o teste mais importante e deve ser sempre solicitado para avaliar o
potencial de fertilidade masculino. Entretanto, o espermograma pode ser visto
apenas como uma fotografia dos espermatozoides e como tal não permite ver por
completo sua qualidade. Muitas vezes, um exame completamente normal esconde a
presença de espermatozoides com muitas alterações cromossômicas. Portanto, é
correto afirmar que um espermograma normal não é um verdadeiro atestado de boa fertilidade
do homem, mas, sim, um bom indicador. Hoje existe o teste de fragmentação de
DNA, que mostra o quanto a carga genética do espermatozoide está bem
compactada. Quanto maior for a fragmentação, pior será a qualidade da célula e
menor será o potencial reprodutivo desse homem. Em algumas situações, os
tratamentos de reprodução assistida não têm capacidade de reverter essa
situação.
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Quando o congelamento de espermatozoides pode ser uma boa opção?
Ao contrário da
criopreservação dos óvulos, o congelamento de espermatozoides vem ocorrendo há
décadas, sendo uma técnica bem estabelecida de preservação de fertilidade
masculina. Os homens podem congelar sêmen sempre que enfrentem situações de
saúde que possam comprometer o potencial reprodutivo. Tratamentos de câncer,
com quimioterapia e radioterapia, cirurgia da próstata, vasectomia, cirurgias
abdominais que possam impedir a ejaculação no futuro são indicações precisas de
criopreservação de sêmen. Quanto maior for o número de espermatozoides e quanto
mais móveis eles forem, melhor será o processo de congelamento e
descongelamento. Atualmente, alguns centros reprodutivos conseguem, inclusive,
congelar um único espermatozoide pelo processo de vitrificação. As taxas de
gravidez com o uso de espermatozoides a fresco ou descongelados são basicamente
as mesmas, não havendo, portanto, prejuízo para o tratamento reprodutivo do
casal.
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É possível prevenir a infertilidade masculina?
Levar uma vida
saudável, evitar o uso de drogas e de cigarro, praticar atividades físicas
regulares, manter um peso adequado, ter uma vida sexual sem risco para DSTs são
formas diversas de evitar um prejuízo para a produção de espermatozoides.
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Quais os tratamentos disponíveis para o homem infértil?
Na maioria dos
casos, a infertilidade é resolvida com medicamentos ou cirurgia. Porém, em
situações mais complexas, é preciso recorrer a tratamentos de reprodução
assistida. Para esses pacientes, é indicada a fertilização in vitro, em que o
embrião é produzido no laboratório e posteriormente implantado no útero da
mulher. Outra técnica bastante utilizada é a injeção espermática
intracitoplasmática, que consiste na introdução de um único espermatozoide
dentro do óvulo para promover a fecundação. Já a azoospermia (ausência de
espermatozoides na ejaculação) não pode ser tratada. Recomenda-se, então, a
busca por bancos de sêmen para tentar engravidar.
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