quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O QUE COMEMOS PODE AFETAR NOSSA FERTILIDADE?...


FONTE:, (www.msn.com).

Muitos acreditam nos poderes de certos alimentos que vão além da nutrição.

"Soja ajuda as mulheres a ter mais óvulos", alega um comerciante chinês em um mercado de rua.

As conexões entre o que comemos e nossa capacidade de gerar vida têm sido fonte de folclore, religião e medicina há milhares de anos, intrigando pessoas que pretendem ter um filho.

Estatísticas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) mostram que cerca de 12% das mulheres entre 15 e 44 anos têm dificuldades para engravidar ou para concluir uma gestação, mas é difícil conseguir dados globais confiáveis sobre o tema.

Sendo assim, até que ponto a alimentação pode ajudar ou aumentar a fertilidade?

O programa Food Chain ("Cadeia Alimentar", em tradução livre), da BBC, consultou vários especialistas a respeito. Confira o que eles disseram.

Abundância.

Em vários períodos históricos, é possível observar a ligação entre abundância e fertilidade. No fim da 2ª Guerra Mundial, por exemplo, a taxa de natalidade aumentou para mais de 39% em países como a Inglaterra no intervalo de apenas dois anos.

Uma das explicações é que o número de casamentos também cresceu muito.

Mas muito do aumento populacional pode ser explicado pela mudança da quantidade ─ ou tipo ─ de comida disponível. A transição demográfica ocorrida no período Neolítico aconteceu há 10 mil anos e é um exemplo disso.

"A importância do milho nas dietas começou por volta de 300 a.C. e as taxas de natalidade foram subindo em paralelo", disse Tim Kohler, professor de Antropologia da Universidade Estadual de Washington, nos Estados Unidos.

"O aumento na quantidade de carboidratos nas dietas teve como resultado a melhora no equilíbrio de energia para mulheres. Elas provavelmente puderam ovular com mais frequência e então as taxas de natalidade aumentaram naquelas circunstâncias."

Qualidade x Quantidade.

Mas, uma vez que a comida é abundante, outros fatores entram na equação. Por exemplo, o tipo de alimento.

Jorge Chavarro, da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Harvard, explica que especialistas em problemas de fertilidade começaram a considerar as dietas como um dos fatores que contribuem para a concepção.

"Era uma ideia difícil de vender para especialistas, mas, à medida que as provas (a favor da dieta) começaram a se acumular, as pessoas começaram a aceitar que a dieta e o estilo de vida eram importantes", afirmou Chavarro à BBC.

O professor conta que as taxas de sucesso nos tratamentos de fertilidade permaneceram estáveis na última década apesar dos avanços na tecnologia, e esses números não devem melhorar tão cedo.

"É do interesse de todo mundo, incluindo da indústria farmacêutica, identificar outras formas de melhorar as taxas de sucesso, então existe um grande interesse em fatores que podem ser modificados, como a dieta."

Especulação e polêmica.

Receitas para aumentar a fertilidade do século 16, um livro que está na Biblioteca Wellcome, em Londres.

O comportamento que pode ser modificado ─ ou o que a pessoa pode fazer para melhorar a fertilidade ─ é motivo de especulação e polêmica há muito tempo entre médicos.

No Egito antigo, acreditava-se que o deus da fertilidade Min teria o poder de ajudar homens a ter filhos e um dos elementos usados para sua adoração era o alface, que os egípcios acreditavam ser afrodisíaco.

Já os figos frescos estavam associados a divindades da fertilidade como o grego Dionísio e a romana Juno.

A lista é longa. Livros de receita de 300 anos atrás recomendam todo tipo de alimento, desde testículos de veado a berinjelas. Acreditava-se que a comida tinha que "esquentar" o corpo para gerar uma nova vida.

"Um que aparece com frequência é algo chamado 'cardo marítimo', um xarope feito com as raízes de uma planta que cresce perto do mar e que as mulheres tinham que tomar de manhã, em jejum", explicou Jennifer Evans, historiadora da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, que analisou um livro de receitas do século 16.

Também existem registros de "pratos" como útero de lebre ou coelho assado ou moído. Séculos atrás, as pessoas acreditavam que esses animais eram muito férteis.

"Grãos também são mencionados nestes livros. Pastinacas e castanhas também", acrescenta Evans.

Estilo de vida.

É quase um clichê afirmar que dieta, exercício e estilo de vida afetam o tempo de vida e a saúde de uma pessoa. Mas e seu impacto na fertilidade?

Chavarro explica que existem poucos dados científicos que mostrem exatamente como nossa fertilidade é afetada pela dieta.

Mas especialistas da Universidade de Harvard fizeram uma grande pesquisa analisando a vida de 19 mil mulheres durante muitos anos. E descobriram que dieta e estilo de vida eram fatores "responsáveis por aproximadamente dois terços de casos de infertilidade devido a problemas de ovulação".

"Dito isso, problemas de ovulação são uma pequena subcategoria de todas as causas de infertilidade. Minha suposição é que, uma vez que você leve outros fatores em consideração, cerca de 50% dos casos de infertilidade podem ser ligados à fatores da dieta e estilo de vida que podem ser modificados", diz Chavarro.

'Supercomida?'.

Outros estudos com cobaias mostraram que a exposição a determinadas dietas por homens e mulheres antes de tentar conceber gerou implicações importantes na saúde dos filhos.

"(Mas) Se você está procurando uma supercomida, não vai encontrar. Isso não existe", alerta Chavarro.

"O mais perto que você pode chegar (de uma supercomida) é com a soja", acrescentou.

O especialista de Harvard explica que testes aleatórios mostraram que soja ou suplementos de soja melhoraram as taxas de nascimento entre mulheres que estavam se submetendo a tratamentos para infertilidade.

Mas, e quanto aos outros alimentos que as pessoas associam à fertilidade como coco, figo, inhame ou batata-doce e nozes?

"Na maior parte é mito, não há provas científicas", sentencia.

O que existe é uma indicação de que uma dieta saudável pode ajudar, ressalva o especialista.

"Prefira carboidratos de baixo índice glicêmico, ou carboidratos lentos como grãos integrais, e também peixes e fontes vegetais de proteína, como soja. E mantenha o peso nos níveis normais antes de engravidar", recomenda Chavarro.

Suplementos.

Os suplementos alimentares também tiveram um aumento na popularidade entre os que pretendem engravidar.

Provavelmente o mais popular é o ácido fólico, uma forma sintética de vitamina B que teoricamente é absorvida mais facilmente pelo corpo do que a forma natural da vitamina, encontrada nos alimentos.
O suplemento também é associado à redução de riscos de má-formações no bebê caso seja consumido pelo menos um mês antes da gravidez.

Em alguns países chega a ser obrigatório adicionar o ácido fólico em alguns alimentos básicos como farinha de trigo. O Brasil é um deles.

"Mas tem alguns problemas. Nós não sabemos com exatidão qual é o mecanismo biológico pelo qual o ácido fólico reduz o risco. E o uso obrigatório de ácido fólico (para uma população inteira) pode ter um impacto na saúde, aumentando os níveis de ácido fólico não metabolizado principalmente em crianças", alertou Mark Lawrence, professor de saúde e nutrição pública na Universidade Deakin, na Austrália.

Redução.

Com tantas opiniões de tantos especialistas sobre o que comer para aumentar a fertilidade, surge outra pergunta: existe algo em nossa alimentação que pode nos deixar menos férteis?

De acordo com alguns cientistas, existem algumas substâncias que podem sim afetar a fertilidade, principalmente aquelas com hormônios ou com substâncias que imitam a ação dos hormônios.

Algumas vezes é possível encontrar esses hormônios naturalmente em animais, mas outros são adicionados para ajudar na fertilidade ou crescimento deles.

Neste sentido, acabamos encontrando vestígios deles na carne e no leite.

Ainda existe muito debate sobre o que acontece quando consumimos tais produtos.

"Não há provas verdadeiras de que esses hormônios afetam de forma adversa a fertilidade em humanos", disse Richard Lea, biólogo da Universidade de Nottingham e especialista em pesquisa hormonal.

Mas a possibilidade de que eles possam prejudicar a reprodução gerou a pressão por mudanças na política de alguns países e agora são necessárias mais pesquisas.

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