O mercúrio é um metal muito presente na indústria.
Utilizado em objetos como termômetros e lâmpadas fluorescentes, tem um papel
importante na odontologia, principalmente na área restauradora. O Projeto de
Lei (PL) 654/2015 trouxe à tona um debate sobre o uso do amálgama, uma liga
metálica que possui mercúrio em sua composição e é amplamente utilizada em
obturações. De acordo com o texto, o metal presente no material seria altamente
nocivo ao organismo humano. No entanto, em outubro de 2015, o próprio autor do
PL pediu sua retirada, por entender que “o uso do mercúrio em amálgama dentária
pelos profissionais habilitados não implica em risco para seus usuários”.
Porém, o projeto continua tramitando na Câmera dos Deputados.
Ana Tokunaga (CROPR 19056), autora do blog Medo de
Dentista e especialista em Radiologia Odontológica, esclarece como acontece a
aplicação do amálgama: “hoje em dia, compra-se o amálgama em capsula, que
é colocado em uma máquina que agita o material e o deixa pronto para o uso. O
dentista abre a capsula e, com um instrumento adequado, coloca o material no
dente do paciente e após o molda conforme a necessidade”, explica.
De acordo com os professores do Departamento de
Dentística da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo
(USP), José Mondelli (CROSP 2058), Juliana Bombonatti (CROSP 56586), e Adilson
Yoshio Furuse (CROSP 73828), quando corretamente manipulado e empregado, o
material não traz nenhum risco para os pacientes e nem para os profissionais. O
amálgama é muito utilizado por ser resistente, ter fácil aplicação, baixo custo
e uma maior durabilidade. “Este material é indicado na restauração de dentes
posteriores, sendo uma substância com comprovação científica e sucesso clínico
há mais de 150 anos”, salienta Mondelli. De acordo com os professores da USP, o
amálgama é o componente restaurador de uso direto na boca com maior tempo de
acompanhamento científico.
“Em pacientes com necessidades especiais, por exemplo, em
que não é possível garantir que o dente esteja completamente seco durante o
procedimento restaurador, o amálgama pode ser o único material viável. A
substância pode ser inserida e condensada mesmo na presença de saliva, algo
impossível no caso da resina, que é adesiva e não se fixa em um dente úmido”,
salienta Tokunaga. A maior desvantagem do uso deste material consiste na
questão estética, em função de sua cor metálica.
Maria de Fátima Ramos Moreira, pesquisadora e professora
do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz, coloca um
contraponto em relação à utilização do amálgama. Ela afirma que o problema do
material está no preparo, pois há emissão de vapor de mercúrio nesse momento.
“O risco de efeito sobre o sistema nervoso existe para o profissional da
odontologia, uma vez que esses trabalhadores se expõem cronicamente (baixas
doses e longo tempo) ao vapor de mercúrio”, assegura. Segundo a pesquisadora,
para o paciente, o risco de exposição ao vapor de mercúrio acontece apenas
durante a colocação ou remoção do amálgama do dente.
Já para Tokunaga, a liberação de vapor do mercúrio
durante o manuseio do dentista é insignificante. Ela explica que esse vapor,
caso seja absorvido, é liberado pela urina, pois o corpo humano dificilmente
absorve a forma inorgânica do mercúrio, que é utilizada nas restaurações.
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