Todos os ovos de pássaro têm a mesma
função: proteger e nutrir um filhote em desenvolvimento. Mas existe uma grande
variedade de formas. E isso intrigou os biólogos durante séculos. Agora, no
estudo mais abrangente sobre as formas dos ovos publicado em junho na Science,
uma equipe de cientistas parece ter encontrado uma resposta.
Os pesquisadores catalogaram a
variação natural dos formatos dos ovos através de 1.4 mil espécies de aves.
Criaram, então, um modelo matemático para explicá-la e depois procuraram as
conexões entre a forma do ovo e outras características importantes dos
pássaros. Em uma escala global, os autores chegaram à conclusão que um dos
melhores métodos para predizer qual será a forma de ovo é por meio da
capacidade de voo da ave: as voadoras mais resistentes tendem a botar ovos
longos ou pontiagudos.
"Este artigo é notável porque
cria uma teoria muito bem costurada sobre a variedade de formas de ovos que há
na natureza", disse Claire Spottiswoode, ecologista especialista em
pássaros da Universidade de Cambridge e da Universidade da Cidade do Cabo, que
não participou da pesquisa.
No novo estudo, os autores conduziram
uma investigação com várias etapas, que reuniu biologia, ciência da computação,
matemática e física. Eles primeiro desenvolveram um programa de computador, chamado
Eggxtractor, que classificou diferentes ovos com base em suas elipses e
assimetria. Ovos elípticos são alongados e redondos nas duas extremidades, como
pepinos. Já os assimétricos são pontudos em uma extremidade apenas, como
abacates.
Com o Eggxtractor, os pesquisadores
analisaram quase 50 mil ovos, com representação de todas as principais aves, a
partir de um banco de dados de imagens digitais disponibilizado pelo Museu de
Zoologia de Vertebrados de Berkeley, na Califórnia.
"Vimos então que o ovo varia
entre formas esféricas e elípticas. Alguns até muito pontudos", disse Mary
Caswell Stoddard, professora assistente de ecologia e biologia evolucionária da
Universidade de Princeton e principal autora do estudo.
Depois, os pesquisadores tentaram
responder como os ovos podem adquirir essas diferentes formas. Em vez de
examinar a casca, eles se concentraram na membrana do ovo (aquela película que
você vê quando descasca um ovo cozido), que é essencial para o formato.
Os cientistas identificaram dois aspectos
que poderiam influenciá-lo: variação na composição da membrana e as diferentes
pressões aplicadas nela antes de o ovo chocar.
Ajustando estes dois parâmetros,
"fomos capazes de recuperar completamente toda a gama das formas
observadas". O que é um bom teste do modelo, disse L. Mahadevan, professor
de Matemática Aplicada, Biologia e Física na Universidade de Harvard e autor do
estudo.
Por fim, os pesquisadores buscaram o
motivo para que as formas dos ovos sejam tão diversas. Uma hipótese mais aceita
baseia-se na localização do ninho: acreditava-se que pássaros que montavam seus
ninhos em penhascos também botassem ovos pontudos, pois, em caso de choque,
eles girariam, ao invés de rolar e cair. Outra hipótese sugeriu que as aves
põem ovos em formas que se encaixam melhor nos diferentes tamanhos de garras.
Mas, quando os autores relacionaram a
forma com essas e outras variáveis, ficaram surpresos ao constatar que nenhum
deles se encaixa em uma escala geral (embora possam desempenhar um papel mais
importante em escalas menores). Em vez disso, o formato do ovo foi fortemente
correlacionado com a medida da forma das asas, o índice chamado de
"mão-asa", que reflete a capacidade de voo.
Então o que conecta o voo à forma do
ovo? Em geral, as aves querem colocar tantos nutrientes quanto possível em seus
ovos. Mas, para voar, devem manter seus corpos saudáveis – o que significa que
seus ovos não podem ser muito grandes.
Os Airos, por exemplo, são rápidos,
poderosos voadores e têm ovos assimétricos, como os pássaros maçariquinhos, que
migram longas distâncias.
O errante albatroz é um dos voadores
de maior alcance – sabe-se que alguns cruzam o Oceano Antártico três vezes em
um ano – e seus ovos são elípticos.
A coruja Megascopsasio raramente
ultrapassa seu pequeno território, onde tende a voar pouco, planar em baixa
potência e possuir ovos praticamente esféricos.
"Talvez, evolutivamente, os
pássaros tenham se deparado com esta solução muito natural e geométrica, que
consiste em aumentar a forma elíptica e a assimetria dos seus ovos", disse
Mahadevan, dessa maneira eles conseguem maior volume sem aumento de diâmetro.
Contudo, acrescentou que essa explicação requer mais pesquisa.
Em última análise, o estudo mostra
que "podemos desafiar velhas suposições", disse Stoddard. "Em
algo tão familiar e comum quanto um ovo de pássaro há ainda descobertas que
levam a novas verdades."
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