Pesquisa
americana, com 3.000 roedores, custou cerca de US$ 30 milhões.
Nova York - Os
especialistas em saúde vêm batalhando há décadas para determinar se telefones
celulares são ou não capazes de causar câncer.
Na semana passada, uma
agência federal dos EUA divulgou os resultados finais de um dos maiores e mais
caros experimentos do planeta para investigar a questão. O estudo começou na
presidência de Bill Clinton e custou US$ 30 milhões, envolvendo cerca de 3.000
roedores.
O experimento foi
conduzido pelo Programa Nacional de Toxicologia americano e achou indicações
positivas, ainda que modestas, de que as ondas de rádio de alguns tipos de
celulares podem elevar o risco de câncer cerebral em ratos machos.
"Acreditamos que a
conexão entre a radiação das radiofrequências e os tumores dos ratos machos
seja real", anunciou John Bucher, cientista sênior do Programa Nacional de
Toxicologia.
Ele disse, porém, que
era preciso cautela porque os níveis e as durações de exposição eram muito
superiores àqueles que uma pessoa normalmente encontraria, e que, assim, não podem
ser diretamente comparados à exposição que os seres humanos enfrentam.
Além disso, o estudo
com ratos examinou os efeitos de uma frequência de rádio associada a uma
geração anterior de tecnologia de celulares, que terminou por cair em desuso
anos atrás.
Quaisquer preocupações
derivadas do estudo se aplicariam, portanto, a pessoas pioneiras no uso de
celulares, que utilizavam esses modelos descontinuados, e não aos usuários de
modelos atuais.
Ainda assim,
especialistas argumentam que até mesmo uma pequena alta demonstrada na
incidência de câncer poderia ter implicações amplas, já que bilhões de pessoas
usam celulares hoje.
O nível mais baixo de
radiação no estudo federal era equivalente à exposição máxima que a
regulamentação federal dos EUA permite para usuários de celulares. Esse nível
de exposição raramente acontece no uso típico de celulares, de acordo com o
Programa Nacional de Toxicologia. O nível mais elevado era quatro vezes
superior ao máximo.
O programa de
toxicologia já havia divulgado uma avaliação prévia das constatações do estudo
em maio de 2016, afirmando que a radiação "era causa provável" de
tumores de cérebro. Em fevereiro deste ano, um texto preliminar do relatório
recuou da conclusão relativamente firme.
Em março, um painel de
revisão científica formado por 11 especialistas setoriais e acadêmicos votou
por aconselhar a agência a elevar o grau de confiança quanto ao resultado, de
"indicações equívocas" a "algumas indicações" de um vínculo
entre a radiação dos celulares e os tumores cerebrais em ratos machos. (Ratas
não mostravam sinais de vínculo entre a radiação e tumores.)
Especialistas dizem que
não é incomum que padrões de incidência de câncer variem entre os sexos, tanto
em pessoas quanto em animais.
Os roedores participantes
ficaram expostos a radiação por nove horas por dia, por dois anos. A exposição
começou antes do parto e foi mantida até seus dois anos de idade.
De 2% a 3% dos ratos
machos expostos à radiação desenvolveram gliomas malignos, um câncer cerebral
fatal, contra zero espécimes em um grupo de controle.
Por outro lado, muitos
epidemiologistas não viram aumento na incidência de gliomas na população
humana.
O estudo também
constatou que entre 5% e 7% dos ratos machos expostos ao nível mais elevado de
radiação desenvolviam certos tumores cardíacos, conhecidos como schwannomas
malignos, contra zero no grupo de controle. Os schwannomas malignos são
semelhantes aos neuromas acústicos, tumores benignos que podem surgir em seres
humanos, no nervo que conecta o ouvido ao cérebro.
Os ratos foram expostos
à radiação em frequência de 900 megahertz, típica da segunda geração de
celulares, da década de 90, quando o estudo foi concebido.
Os celulares atuais são
aparelhos de quarta geração, ou 4G, e a quinta geração (5G) deve surgir no
mercado em 2020. Suas ondas de rádio têm muito menos sucesso em penetrar os
corpos de pessoas e ratos, segundo os cientistas.
Em junho, em uma
reunião de consultores científicos do Programa Nacional de Toxicologia, Donald
Stump, um dos participantes, expressou preocupação com o fato de o estudo
"poder ficar vulnerável a críticas de que foi conduzido com o uso de
tecnologia desatualizada".
O desafio, ele
acrescentou, é como ir adiante com experimentos que sejam grandes o bastante
para oferecer resultados significativos e ao mesmo tempo ágeis o suficiente
para acompanhar a rápida evolução dos aparelhos.
A agência de
toxicologia está construindo câmaras de exposição menores que lhe permitirão
avaliar novas tecnologias em semanas ou meses, em vez de anos. Esses futuros
estudos terão como foco os sinais físicos mensuráveis dos potenciais efeitos da
radiação de radiofrequências, entre os quais danos ao DNA, que podem ser
detectados mais rapidamente que o câncer.
*** Tradução
de Paulo Migliacci.
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