Bactérias
e a moral sexual antiga foram mortas pela penicilina.
Os índios brasileiros
tinham poucas opções na hora de enfrentar um inimigo mortal. Quando alguém da
tribo apresentava alguma infecção, o grupo acendia uma fogueira debaixo da rede
do paciente e canalizava o ar diretamente para ele. Assim, o suor escorria e os
demais entendiam que a doença estava sendo expelida. Na Grécia e em Roma,
técnicas mais confortáveis faziam parte da rotina médica. Os antigos
depositavam em longos banhos, dietas e exercícios a esperança para a
recuperação.
Os hospitais eram
parecidos com os spas de hoje. No mesmo período, a cultura popular de outras
regiões da Europa vislumbrava o uso de ervas e plantas medicinais. Os métodos
eram envoltos em incerteza.
E as pessoas morriam.
Muito. De tuberculose, sífilis, lepra, coqueluche, peste bubônica e por aí vai.
Para todas estas doenças bacterianas, a solução sempre foi tocar um tango
argentino. Uma em cada três crianças jamais via a idade adulta - em países
desenvolvidos e em média. Entre as classes mais pobres, metade não chegava ao
primeiro ano. Não há estatísticas aqui no Brasil, mas é de se imaginar que não
fosse melhor.
A primeira mudança
significativa aconteceu na segunda metade do século 19, quando o francês Louis
Pasteur e o alemão Robert Koch descobriram a ligação da ação de
micro-organismos e doenças. Com isso, ficou claro que a porcalhice era um
veneno.
Isso daria origem às
noções modernas de higiene. E, com ela, bairros ricos batizados e Higienópolis
pelo Brasil afora e a rígida moral sexual do período vitoriano até os anos
1950.
Pois é, as pessoas
achavam que sexo era sujo porque era. Doenças venéreas eram uma realidade dura
e inescapável. A sífilis, hoje quase esquecida, causa dano cerebral grave e
deformidades no rosto antes de matar. Tirou do mundo algumas figuras como o
poeta Charles Baudelaire e (possivelmente) o filósofo Friedrich Nietzsche.
Gonorreia era tratada com dos métodos mais infames da memória histórica: raspar
a parte de dentro da uretra com um cateter de metal e aplicar mercúrio no
canal.
Os cientistas foram à
luta. Entre o fim do século 19 e o início do século 20, desenvolveram a
primeira tentativa de antibiótico: a Piocianase. A droga foi utilizada contra
casos de difteria, mas logo teve de ser abandonada, depois de os resultados
obtidos se mostrarem conflitantes. Nessa época, os registros do governo dos
Estados Unidos alertavam que 1% de todas as mortes eram decorrentes de alguma
infecção. Os americanos, a partir daí, deram início a uma verdadeira revolução.
Como ainda era
impossível combater as bactérias que já estavam instaladas no corpo, o jeito
era evitar o contágio. Os alimentos passaram a ser inspecionados, a água
tratada chegou a mais casas e a educação tornou rotineiros cuidados como lavar
bem as mãos.
Em 1940, as infecções
passaram a representar 0,2% dos óbitos no país, contra o 1% no início do
século. O primeiro medicamento eficiente foi a Penicilina, descoberta por
acaso, em 1928, pelo escocês Alexander Fleming. De lá pra cá, muitas drogas
foram inventadas e proclamou-se a salvação contra as infecções. Mas o uso
indiscriminado dos antibióticos fez surgirem as superbactérias, resistentes até
às drogas mais modernas.
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