Um dos maiores
problemas associados ao consumo de drogas sintéticas, vendidas e consumidas em
festas, raves e festivais de música pelo mundo afora, é que o usuário quase
nunca sabe o que vai ingerir. Numa estratégia de redução de danos, ONGs ou
mesmo iniciativas governamentais têm levado equipes para fazer a testagem
voluntária de substâncias em alguns eventos desse tipo.
Como toda estratégia de
redução de danos, a ideia tem apoio de muitos especialistas em drogas,
familiares de vítimas e, claro, dos usuários. Mas desperta resistência de
outros setores da sociedade e do governo. Essa discussão tem aparecido bastante
na mídia australiana desde que duas mortes foram registradas em festivais de
música no sudeste daquele país há poucos meses.
A testagem em eventos é
aprovada em alguns países da Europa. Em outros, como Reino Unido, Canadá,
Estados Unidos e até no Brasil, é feita eventualmente por alguns coletivos ou
ONGs. Algumas pesquisas indicam que a iniciativa pode salvar vidas e até evitar
que algumas pessoas consumam drogas. Uma delas, feita pelo grupo de redução de
danos canadense Ankors, mostrou que cerca de dois terços dos compradores
descartam o produto quando descobrem que, em vez de ecstasy ou LSD, estavam
para consumir substâncias que já foram associadas a mortes, como o PMA ou o
NBOMe.
Um estudo publicado em
dezembro pela revista científica Drug and Alcohol Review, também
mostra que nem todo usuário está disposto a se arriscar com drogas
desconhecidas. Médicos das universidades de Nova York (EUA) e de Curtin, na
Austrália, avaliaram entrevistas com cerca de 350 jovens de um clube noturno
americano que já tinham submetido amostras para testagem. Metade deles afirmou que
deixaria de usar ecstasy se descobrisse que o produto comprado continha outras
substâncias, como metanfetamina ou sais de banho.
Para muitos críticos,
como alguns políticos australianos têm destacado recentemente, a testagem pode
dar uma falsa sensação de segurança para os usuários, o que incentivaria o uso.
Os defensores argumentam que os voluntários que oferecem o serviço orientam os
usuários sobre os riscos do consumo, mesmo que a amostra dê positivo para a
droga buscada. Há sempre o incentivo a mudar de ideia, ou usar uma dose menor,
mas ninguém recebe um sermão ou é denunciado se, no final, decidir ficar com a
amostra – se fosse assim ninguém usaria o serviço.
A cada semana surgem
novas drogas sintéticas no mundo, produzidas em laboratórios ilegais para
burlar a polícia. Os efeitos são imprevisíveis, e, como os usuários não
denunciam os traficantes, é impossível coibir esse tipo de fraude. Claro que
seria melhor convencer os jovens a não usar essas substâncias. Mas, por mais
que a gente avise, uma parte vai sempre querer experimentar.
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