Embora
atinja uma a cada sete pessoas, a enxaqueca
não tinha no Brasil um tratamento específico – as drogas utilizadas para
controlar as crises são voltadas a outras doenças. Mas isso mudou com a
aprovação do erenumabe (nome comercial: Pasurta), o primeiro remédio feito
exclusivamente para esse problema, marcado por episódios intensos de dor
de cabeça, enjoo e sensibilidade à luz, entre outros
sintomas.
“O medicamento abre uma
nova via terapêutica contra a enxaqueca”, afirma a neurologista Aline Turbino,
chefe do Setor de Investigação de Cefaleias do Hospital Santa
Marcelina, em São Paulo. “Ele tem boa eficácia e as reações
adversas são brandas”, completa.
Comecemos, então, pela
sua capacidade de amenizar a enxaqueca. Produzido pela farmacêutica
Novartis, o erenumabe diminuiu pela metade o número de crises
após quatro meses de uso, em uma pesquisa da King’s College de Londres, na
Inglaterra. Isso entre voluntários que, em média, sofriam com as dores de
cabeça oito vezes ao mês.
“A droga também reduz a
intensidade dos incômodos e melhora a funcionalidade do paciente”, completa a
médica.
Essa nova opção é
administrada uma vez por mês diretamente na pele com uma espécie de canetinha.
Ela é parecida com aquelas utilizadas para aplicar insulina em diabéticos.
Mas como o erenumabe
funciona? Basicamente, bloqueando ação de uma molécula chamada CGRP, que está
envolvida no processo inflamatório associado aos sintomas da enxaqueca.
Efeitos
colaterais.
Atualmente, os
profissionais lidam com a enxaqueca prescrevendo remédio para epilepsia,
pressão alta, depressão e por aí vai. “Eles ajudam em muitos casos, mas as
reações adversas podem ser intensas”, destaca Aline.
Sonolência, ganho de
peso e tontura estão entre os efeitos indesejados. Isso sem contar que esses
fármacos precisam ser tomados com frequência, o que dificulta a adesão.
Já o erenumabe teve um
perfil de segurança similar ao do placebo, segundo os estudos. As reações mais
comuns estão ligadas ao modo de aplicação – ou seja, às vezes pode surgir um
pouco de vermelhidão e desconforto na pele.
“A contraindicação
formal é para as gestantes, porque não foram realizadas pesquisas com esse
grupo”, complementa Aline.
Quando
o tratamento estará disponível.
A Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) já deu seu aval.
Mas a novidade ainda precisa passar por outros trâmites, como a definição do
seu preço na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos
(CMED), também vinculada à Anvisa.
Por meio de sua
assessoria de imprensa, a Novartis estima que o erenumabe chegará às farmácias
ainda no primeiro semestre de 2019.
Seu valor no Brasil não
foi decidido. Nos Estados Unidos, onde foi liberado no ano passado
com o nome de Aimovig, o custo anual fica na casa dos 7 mil
dólares. No entanto, os preços das medicações às vezes variam consideravelmente
entre uma nação e outra.
Ao desembarcar por
aqui, essa opção estará restrita ao sistema privado. Pelo menos em um primeiro
momento.
Para
quem é.
Até pelo custo e pelo
fato de as primeiras pesquisas estarem saindo nos últimos anos, o erenumabe não
deve ser aplicado em todas as pessoas com enxaqueca.
“As recomendações
americanas e europeias o indicam para indivíduos que já passaram por outros
dois tratamentos sem sucesso. É um paciente mais complexo”, analisa Aline.
Pessoas que não toleram
os outros fármacos ou que correm risco de alguma interação medicamentosa também
são potenciais candidatos.
E um recado final: nos
Estados Unidos, outra droga com ação similar já foi aprovada. É o fremanezumabe, da farmacêutica Teva.
A estimativa é que desembarque por aqui em 2020 como mais uma opção para a
turma que reclama da enxaqueca.
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