FONTE: Naira Sodré, TRIBUNA DA BAHIA.
No Brasil, existem cerca de 15 milhões de
pessoas com mais de 60 anos de idade. Seis por cento delas sofrem do Mal de
Alzheimer, segundo os dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). A
evolução da doença é lenta e o indivíduo pode levar décadas com ela. Estima-se
que em todo o mundo, 17 milhões de pessoas têm Alzheimer, doença incurável
acompanhada de graves transtornos da memória. Nos Estados Unidos, é a quarta
causa de morte de idosos entre 75 e 80 anos. Perde apenas para infarto,
derrame e câncer. Quem sofre desse mal, tem alteração da memória recente, mas
consegue evocar coisas do passado.
Segundo o médico neurologista
Antonio Cezar Galvão, a corrida científica em busca da cura do mal tem sido
grande. Atualmente uma das pesquisas que está revolucionando o meio científico,
tenta descobrir se uma pessoa tem o mal de Alzheimer antes dos primeiros
sintomas da demência surgirem. A pesquisa está sendo desenvolvida pelos
cientistas do Centro de Investigação Biomédica em Rede de Doenças
Neurodegenerativas (Ciberned), de Barcelona, que garantem que encontraram uma
forma de saber se um indivíduo desenvolverá a doença com pelo menos dez anos de
antecedência, muito antes do que qualquer outro método já descoberto.
O estudo tem autoria e direção do
professor de pesquisa do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona, Ramon
Trullas, foi publicado na revista “Annals of Neurology”. Segundo Trullas, esta
descoberta que pode permitir a busca de tratamentos mais
eficazes a ser administradas durante a fase pré-clínica da doença, mostra que o
segredo está nas mitocôndrias, organelas que processam a energia das células
dos neurônios, que formam o tecido destruído pela doença, até agora
incurável. A pesquisa mostrou que: Onde há DNA de mitocôndria,há
neurônios vivos. Logo, quanto menos material genético mitocondrial for
encontrado no líquido espinhal, menores as chances dos neurônios sobreviverem.
Mitocôndrias são partes especiais
das nossas células porque têm DNA próprio, diferente daquele que compõe o
núcleo. Como há células nervosas no líquido espinhal, os pesquisadores do
Ciberned explicam que a medição do nível de DNA mitocondrial dos neurônios pode
ser feito por meio de uma punção na região lombar.Foram estudados 282
voluntários, entre eles pessoas com histórico familiar de
Alzheimer, com e sem sintomas, e com diferentes concentrações de outros fatores
de risco já conhecidos pela ciência: a proteína beta-amiloide, a proteína tau e
mutações no gene PSEN1. Também foram analisadas pessoas sem qualquer histórico
ou fator de risco, para comparação.
A importância de
tratamentos mais eficientes.
Caso a descoberta torne-se viável
clinicamente, abrirá portas para tratamentos mais eficientes, conclui o líder
da pesquisa, Ramón Trullas. Mas, ao mesmo tempo, saber com tanta antecedência
se a pessoa terá uma doença incurável criará novos desafios na relação com o
paciente.É extremamente importante identificar a neurodegeneração em estágios
iniciais antes de atingir o nível de sintomas clínicos irreversíveis, afirma
Ramón Trullas.
Se o conteúdo de DNA das
mitocôndrias for validado como biomarcador da doença de Alzheimer, vai ajudar
no diagnóstico (no
caso de pessoas ainda sem sintomas clínicos). No segundo grupo (dos que têm
sintomas), pode ajudar a monitorar o progresso da doença e auxiliar no
desenvolvimento de novos tratamentos.O próprio autor do estudo, no entanto,
pondera que o método só poderá ser considerado eficaz quando passar por novos
testes, em outros laboratórios.
Assim como o neurologista Antonio Cezar
Galvão, especialistas brasileiros evitam a empolgação, mas apontam avanços.
Estima-se que há mais de 1,2 milhão de idosos com o mal de Alzheimer no
Brasil. Atualmente, o diagnóstico pré-clínico, antes dos sintomas, é
feito por meio de testes que dão apenas probabilidades de risco, como os exames
de ressonância magnética ou uma tomografia por emissão de pósitrons. Há também
exames que detectam, por meio de uma punção, a presença das proteínas
beta-amiloide e tau. Mas estes não oferecem um diagnóstico tão precoce como
sugere o novo estudo.
Na realidade, testes como esses mostram que
as pessoas estão em um grupo com risco muito mais elevado de desenvolver a
doença, pondera o neurologista Paulo Bertolucci, diretor científico da Associação
Brasileira de Alzheimer.Ele lembra que, mesmo com a falta de precisão nos
diagnósticos pré-clínicos, é grande a busca por medicamentos que atuem nessa
fase inicial: “É preciso estabilizar a doença quando os lapsos de memória são
pequenos e não quando há sofrimento”.
Com o diagnóstico em mãos, é possível mudar
hábitos que são considerados fatores de risco da doença, como inatividade
intelectual, falta de atividade física, hipertensão ou diabete na meia idade
mal controlados, obesidade, depressão e tabagismo. O diagnóstico pode ter
vantagem, mas saber que se está condenado a ter uma doença incurável no período
de dez anos é muito difícil do ponto de vista psicológico — avalia Salo
Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
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