terça-feira, 20 de agosto de 2013

ALZHEIMER PODE SER IDENTIFICADO 10 ANOS ANTES DE SURGIREM OS PRIMEIROS SINTOMAS...

FONTE: Naira Sodré, TRIBUNA DA BAHIA.

No Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade. Seis por cento delas sofrem do Mal de Alzheimer, segundo os dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). A evolução da doença é lenta e o indivíduo pode levar décadas com ela. Estima-se que em todo o mundo, 17 milhões de pessoas têm Alzheimer, doença incurável acompanhada de graves transtornos da memória. Nos Estados Unidos, é a quarta causa de morte de idosos entre 75 e 80 anos. Perde apenas para infarto, derrame e câncer. Quem sofre desse mal, tem alteração da memória recente, mas consegue evocar coisas do passado.

Segundo o médico neurologista Antonio Cezar Galvão, a corrida científica em busca da cura do mal tem sido grande. Atualmente uma das pesquisas que está revolucionando o meio científico, tenta descobrir se uma pessoa tem o mal de Alzheimer antes dos primeiros sintomas da demência surgirem. A pesquisa está sendo desenvolvida pelos cientistas do Centro de Investigação Biomédica em Rede de Doenças Neurodegenerativas (Ciberned), de Barcelona, que garantem que encontraram uma forma de saber se um indivíduo desenvolverá a doença com pelo menos dez anos de antecedência, muito antes do que qualquer outro método já descoberto.

O estudo tem autoria e direção do professor de pesquisa do Instituto de Pesquisa Biomédica de Barcelona, Ramon Trullas, foi publicado na revista “Annals of Neurology”. Segundo Trullas, esta descoberta que pode permitir a busca de tratamentos mais eficazes a ser administradas durante a fase pré-clínica da doença, mostra que o segredo está nas mitocôndrias, organelas que processam a energia das células dos neurônios, que formam o tecido destruído pela doença, até agora incurável.   A pesquisa mostrou que: Onde há DNA de mitocôndria,há neurônios vivos. Logo, quanto menos material genético mitocondrial for encontrado no líquido espinhal, menores as chances dos neurônios sobreviverem.

Mitocôndrias são partes especiais das nossas células porque têm DNA próprio, diferente daquele que compõe o núcleo. Como há células nervosas no líquido espinhal, os pesquisadores do Ciberned explicam que a medição do nível de DNA mitocondrial dos neurônios pode ser feito por meio de uma punção na região lombar.Foram estudados 282 voluntários, entre eles pessoas com histórico familiar de Alzheimer, com e sem sintomas, e com diferentes concentrações de outros fatores de risco já conhecidos pela ciência: a proteína beta-amiloide, a proteína tau e mutações no gene PSEN1. Também foram analisadas pessoas sem qualquer histórico ou fator de risco, para comparação.

A importância de tratamentos mais eficientes.
Caso a descoberta torne-se viável clinicamente, abrirá portas para tratamentos mais eficientes, conclui o líder da pesquisa, Ramón Trullas. Mas, ao mesmo tempo, saber com tanta antecedência se a pessoa terá uma doença incurável criará novos desafios na relação com o paciente.É extremamente importante identificar a neurodegeneração em estágios iniciais antes de atingir o nível de sintomas clínicos irreversíveis, afirma Ramón Trullas.
Se o conteúdo de DNA das mitocôndrias for validado como biomarcador da doença de Alzheimer, vai ajudar no diagnóstico (no caso de pessoas ainda sem sintomas clínicos). No segundo grupo (dos que têm sintomas), pode ajudar a monitorar o progresso da doença e auxiliar no desenvolvimento de novos tratamentos.O próprio autor do estudo, no entanto, pondera que o método só poderá ser considerado eficaz quando passar por novos testes, em outros laboratórios.
Assim como o neurologista Antonio Cezar Galvão, especialistas brasileiros evitam a empolgação, mas apontam avanços. Estima-se que há mais de 1,2 milhão de idosos com o mal  de Alzheimer no Brasil. Atualmente, o diagnóstico pré-clínico, antes dos sintomas,  é feito por meio de testes que dão apenas probabilidades de risco, como os exames de ressonância magnética ou uma tomografia por emissão de pósitrons. Há também exames que detectam, por meio de uma punção, a presença das proteínas beta-amiloide e tau. Mas estes não oferecem um diagnóstico tão precoce como sugere o novo estudo.
Na realidade, testes como esses mostram que as pessoas estão em um grupo com risco muito mais elevado de desenvolver a doença, pondera o neurologista Paulo Bertolucci, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer.Ele lembra que, mesmo com a falta de precisão nos diagnósticos pré-clínicos, é grande a busca por medicamentos que atuem nessa fase inicial: “É preciso estabilizar a doença quando os lapsos de memória são pequenos e não quando há sofrimento”.

Com o diagnóstico em mãos, é possível mudar hábitos que são considerados fatores de risco da doença, como inatividade intelectual, falta de atividade física, hipertensão ou diabete na meia idade mal controlados, obesidade, depressão e tabagismo. O diagnóstico pode ter vantagem, mas saber que se está condenado a ter uma doença incurável no período de dez anos é muito difícil do ponto de vista psicológico — avalia Salo Buksman, diretor da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

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