Alguém disse um dia que a hipocrisia é a homenagem que o
vício presta à virtude. Mas não é exatamente de hipocrisia que quero falar.
Quero falar da busca de equilíbrio no comportamento humano, que tanto nos exige
se estivermos realmente dispostos a mudar.
Muitos não querem mudar. Acho que a maioria. O que querem é que a situação mude, que as pessoas mudem, que tudo mude, menos elas mesmas. Se existe um padrão ideal de comportamento devemos conquistá-lo. Não se trata de deixarmos de lado nossas características, não se trata de nos estereotiparmos, de nos tornarmos todos iguais. Pelo contrário.
Justamente para podermos nos mostrar exatamente como somos é que precisamos alcançar um ponto de equilíbrio que nos permita nos manifestar tal como somos sem ferir o próximo. Porque o que mais vemos são dois extremos: Aquele que se mostra por inteiro, sem considerar direitos, sentimentos e conceitos alheios; e aquele que se esconde atrás de uma máscara de indiferença, como se nada lhe importasse, mas que por dentro fica se remoendo.
Comecei falando sobre hipocrisia. É que a palavra hipocrisia se refere a máscara, a essa máscara que alguns nunca tiram da cara, e que todos nós experimentamos uma vezinha ou outra. A palavra hipocrisia vem do grego e designava, originalmente, o ator de teatro. Quando Jesus chamava os fariseus de hipócritas era o mesmo que hoje chamarmos alguém de "artista", querendo dizer com isso que a pessoa finge, que ela representa como um artista.
Mas a designação pejorativa da palavra só se consolidou na Idade Média. Hoje hipócrita é um palavrão dos mais feios. E nós somos hipócritas mais vezes do que pensamos. Quando você cede no seu ponto de vista, sabendo que ele é verdadeiro, você acha que está sendo humilde? Eu, particularmente, evito discussão. Quando discutimos esquecemos a busca da verdade e só queremos que prevaleça o nosso ponto de vista.
Mas uma coisa é evitar discussão, outra coisa é fazer de
conta que aceita o ponto de vista alheio e ficar se remoendo por dentro. Isso
acontece muito em querelas religiosas. Alguns espíritas, por força do
preconceito, têm medo de assumir sua postura. E aceitam os argumentos fajutos
de pessoas descrentes do Espiritismo. Fazem cara de banana e fingem que
concordam. Cedem externamente e se revoltam intimamente. Isso não é humildade,
longe disso. Isso é hipocrisia grossa. Para com os outros a para consigo mesmo.
Não estou condenando quem faz isso. Eu já fiz coisas do gênero. Na tentativa de sermos humildes fazemos coisas muito ridículas. Ceder contra a vontade não é humildade, é hipocrisia. Ceder para evitar discussão, ser condescendente, dependendo das circunstâncias é atitude madura e meritória. Ceder por medo de assumir sua postura é covardia. Ser humilde não é ser covarde, ser manso não é ser medroso. Um cavalo para ser encilhado precisa ser domado. Depois da doma ele fica manso, e sua força e intrepidez podemos ser controladas e direcionadas. Mas o cavalo não deixa de ser forte e intrépido por ser manso. Não se torna medroso por ser manso.
Acho que o conceito de humildade foi muito deturpado. É verdade que a palavra deriva do latim humus, terra. Por causa disso, talvez, se pense que ser humilde é rebaixar-se, é andar se arrastando. Mas as palavras homem e humanidade também derivam de humus. Isso se deve ao fato de os antigos considerarem que o homem veio do barro, da terra, do humus. Ser humilde, então, é ser como se é, é ser conforme a sua natureza, ser apenas mais um homem, indivíduo da humanidade.
Ser humilde não é rebaixar-se, ser humilde é ser exatamente
como se é, nem acima, nem abaixo. Ser humilde não é andar se arrastando,
falando mole e aceitando desaforos e engolindo absurdidades. Devemos defender
as verdades que nos são caras. Para isso é possível que tenhamos que ser
firmes, enérgicos. Claro que não vamos perder tempo e energia discutindo ou
dando conversa pra quem nem sabe direito o que pensa. Mas algumas vezes nos
vimos na contingência de ter que defender nossas verdades, as posturas que
adotamos. E isso exige energia e coragem. Isso são virtudes, não defeitos.
Defeito é covardia, moleza, rebaixamento de si mesmo. Essas fraquezas não
condizem com a grandeza de Deus.
"A maior caridade que podemos fazer pela
Doutrina Espírita é a sua divulgação." Chico
Xavier – Emmanuel.
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