FONTE: Flávia Villela, da Agência Brasil, no Rio (noticias.uol.com.br).
Dados do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) apontam que o alcoolismo é o principal motivo
de pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais e comportamentais por uso
de substância psicoativa. O número de pessoas que precisaram parar de trabalhar
e pediram o auxílio devido ao uso abusivo do álcool teve um aumento de 19% nos
últimos quatro anos, ao passar de 12.055, em 2009, para 14.420, em 2013.
Os dados mostram que
os auxílios-doença concedidos as pessoas com transtornos mentais e
comportamentais devido ao uso de drogas passaram de 143,4 mil. Cocaína é a
segunda droga responsável pelos auxílios concedidos (8.541), seguido de uso de
maconha e haxixe (312) e alucinógenos (165).
São Paulo teve o
maior número de pedidos em 2013 por uso abusivo do álcool, com 4.375
auxílios-doença concedidos, seguido de Minas Gerais, com 2.333. Integrante do
Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP), o assistente
social Fábio Alexandre Gomes ressalta que o aumento é extremamente superficial,
visto que boa parte da população não contribui para o INSS e por isso não tem
direito a este benefício.
"O impacto do
álcool hoje na vida das pessoas é muito maior. Muitos casos inclusive de uso
abusivo do álcool estão associados com a situação de desemprego. E a juventude
tem iniciado experiências cada vez mais cedo", explica ele. "Tenho
casos frequentes de crianças fazendo uso abusivo de álcool a partir dos oito
anos. Estou acompanhando um menino que hoje, com dez anos de idade, usa crack,
mas a porta de entrada foi o álcool", conta o assistente social ao relatar
que por ser uma substância socialmente permitida em casa, acaba sendo de fácil
acesso.
Ele também relata
aumento sensível de mulheres que não aderem ao tratamento, fruto de preconceito
social. "Na minha experiência como assistente, este consumo abusivo está
ligado principalmente a relações de violência, sobretudo, amorosas. E
geralmente o consumo é de cachaça", ressaltou. Ele criticou a concentração
de políticas públicas dirigidas a substâncias ilícitas, quando o álcool é uma
das substâncias lícitas cada vez mais usadas por adolescentes e mulheres,
independentes da classe social. Gomes ressalta que faltam campanhas que falem
do impacto do álcool na gravidez.
"O consumo do
álcool durante a gestação é algo que não se discute muito. Muitas gestantes
pensam 'ah está muito calor vou tomar só um copinho', sem saberem o impacto que
isso tem na formação das crianças", alertou Alexandre Gomes.
Há 24 anos sem beber
uma gota de álcool, o vendedor autônomo João Souza, 54 anos, morador do Rio de
Janeiro, acredita que largar o vício sem ajuda profissional é
"praticamente impossível" e afirma que não existe cura para a doença.
"A família é muito importante, mas sozinha não dá conta se não houver
apoio profissional. A questão não é moral, é bioquímica, de estrutura e só com
muito tratamento", pondera ele. "Procurei os Alcoólicos Anônimos (AA)
e vou lá até hoje, faço a manutenção, porque preciso" conta.
O auxílio-doença é um
direito de todo trabalhador segurado pelo INSS, que não perde o emprego ao se
ausentar. Para pedir o auxílio-doença por uso abusivo de droga, o solicitante
deve ter pelo menos 12 meses de contribuição e comprovar, por meio de perícia
médica, a dependência da droga que o incapacite de exercer o trabalho. A valor
do benefício varia de acordo com o valor recolhido pela Previdência Social.
Segundo a assistente
social Andresa Lopes dos Santos, também integrante do Cress-SP, o benefício é
um grande avanço para o trabalhador brasileiro, pois assegura a manutenção
financeira da família, mantém o vínculo do trabalhador no emprego, que pode se
tratar enquanto estiver de licença. "É importante um trabalho para dar o
suporte à família e ao dependente do álcool, que muitas vezes sustenta a
família poderá fazer um tratamento", salientou.
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