FONTE: Herton Escobar, do Estadão Conteúdo, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Dois estudos publicados
na quarta-feira (19), nos Estados Unidos comprovam a eficácia de uma técnica
que, num futuro próximo, poderá permitir o monitoramento do câncer por meio de
exames de sangue e, talvez, num futuro um pouco mais distante, a detecção
superprecoce de tumores pequenos demais para serem percebidos pelos métodos de
diagnóstico convencionais.
Apelidada de
""biópsia líquida"", a estratégia é baseada na análise de
pedaços de DNA que vazam dos tumores para a corrente sanguínea, chamados de DNA
tumoral circulante (ou ctDNA, na sigla em inglês). Eles funcionam como
impressões digitais da doença, que os cientistas podem "ler" para
extrair informações genéticas essenciais para a caracterização do tumor e a
seleção do melhor tratamento.
A ideia não é nova;
já vem sendo testada há alguns anos por vários laboratórios ao redor do mundo.
O que os novos trabalhos trazem é uma "prova de conceito" contundente
do seu potencial para aplicações práticas na medicina. A principal vantagem
seria a possibilidade de monitorar continuamente a doença por meio de um método
relativamente simples, rápido e não invasivo - muito mais prático do que a
realização de biópsias "sólidas" de tumores (que muitas vezes estão
em locais de difícil acesso no corpo) e muito mais informativo do que o monitoramento
de outros marcadores moleculares - como o PSA, relacionado ao câncer de
próstata.
""É uma
estratégia que, provavelmente, vai ter uma utilidade clínica muito
grande"", prevê a pesquisadora Suely Marie, do Departamento de
Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ela e a
colega Sueli Shinjo são coautoras em um dos trabalhos, que testou o uso do
ctDNA na detecção e caracterização de tumores de 640 pacientes com vários tipos
de câncer. A eficácia da técnica variou entre 50% e 75%, dependendo do tipo de
tumor e do estágio da doença. A eficiência mais alta foi na detecção de tumores
avançados do pâncreas, ovários, intestino, bexiga, esôfago, mama e pele. A mais
baixa foi para tumores primários nos rins, próstata, tireoide e no cérebro -
órgão no qual o trabalho das pesquisadoras brasileiras está mais focado.
""Estamos
na luta ainda para encontrar biomarcadores eficientes para tumores do sistema
nervoso central"", afirma Suely. A dificuldade, neste caso, deve-se a
uma barreira natural de membranas que isolam o cérebro e a medula espinhal do
sistema circulatório em geral.
A aplicação mais
imediata da técnica, segundo Suely, deverá ser no monitoramento de casos de
câncer já diagnosticados. As informações genéticas contidas no ctDNA podem dar
pistas importantes sobre a melhor maneira de combater a doença, tornando a
terapia mais personalizada e, consequentemente, mais eficiente. Os estudos
saíram na revista Science Translational Medicine.
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