FONTE:
www.bolsademulher.com
Saber que em uma
simples caixinha com uma tarja preta estão horas e horas de sono é uma tentação
para quem sofre com insônia. Mas o uso indiscriminado dos remédios para dormir
é um recurso perigoso que pode trazer sérias conseqüências.
Quem tem uma relação conturbada com Morfeu sabe
muito bem a importância que algumas boas horas de sono têm para o funcionamento
do corpo e da mente. Por isso mesmo pode ser tentador saber que numa certa
caixinha, com uma tal tarja preta pintada, moram alguns comprimidinhos com o
mágico poder de fazer o sono chegar em poucos minutos. O problema é que, mais
rápido do que se imagina, ceder a essa tal tentação pode se transformar em um
perigoso hábito, ainda mais tendo como álibi o velho jeitinho brasileiro que
faz com que remédios vendidos apenas com prescrição médica circulem livremente
por muitas mesinhas de cabeceira.
Tranqüilizantes, hipnóticos e sedativos são as
classes de remédios mais utilizados no Brasil e nos Estados Unidos. Estima-se
que cerca de 20% da população desses dois países já usaram ou estão usando
calmantes, autorizados ou não pelos médicos. “Apesar de só poderem ser
adquiridos legalmente com receita, esses medicamentos circulam quase que
livremente, seja pela falta de fiscalização das secretarias de saúde nas
farmácias ou pelo uso irresponsável de alguns médicos”, denuncia a psiquiatra
Miriam Albuquerque.
Existem basicamente quatro tipos de medicamentos
utilizados para induzir o sono. A buspirona, ansiolítico presente em
comprimidos como o Buspar e o Ansitec, o zolpiden e o zolpiclone, conhecidos
comercialmente como Lioram e Imovane, e os benzodiazepínicos, mais comuns, como
o Valium e o Lexotan. “Esse é o tipo mais perigoso no que se refere à dependência
e à tolerância”, garante a Dra. Miriam. Os benzodiazepínicos também modificam a
arquitetura do sono, causando uma supressão da sua fase mais pesada, o que
acaba gerando uma sensação de sono artificial. “Durmo, mas não me sinto
descansada no dia seguinte. Não é uma coisa natural, não tem sonho, acordo me
sentindo estranha, como se tivesse passado um tempo desligada da tomada”,
comenta a socióloga Tereza Coutinho, que faz uso esporádico de medicamentos do
tipo, receitados por seu clínico geral.
O psicofarmacologista Bernardo Campana alerta que
os benzodiazepínicos devem ser usados pelo menor tempo possível, em função do
alto risco de dependência. “Todas essas medicações precisam de acompanhamento
clínico periódico para examinar a evolução do tratamento, comportamento dos
sintomas e níveis de tolerância e dependência”, acrescenta ele. No entanto,
como todo mundo sabe, não é sempre isso o que acontece. “Precisei normalizar o
sono depois de um jet-lag e consegui uma receita de Dormonid com a veterinária
do meu cachorro. Sabia dos riscos de dependência se fizesse uso indiscriminado
do comprimido, mas uma pessoa desavisada poderia acabar se dando mal, tomando
aquele remédio todo dia”, assume a bancária Elizabeth Pinho.
O maior risco dos remédios para dormir é mesmo a
dependência. Com o uso freqüente, o organismo desenvolve uma tolerância ao
princípio ativo, fazendo com que uma dose maior do medicamento seja necessária
para que o mesmo faça efeito. “Aí cria-se uma bola de neve e o que deveria ser
usado como recurso valioso em uma terapia, acaba se transformando em doença”,
diz a Dra. Miriam. Segundo ela, calmantes funcionam como analgésicos para a dor
emocional e só devem ser utilizados quando essa dor existir. “Esses comprimidos
apenas aliviam os sintomas, não tratam nada. Não podem se transformar em
hábito, só devem ser tomados quando existir uma insônia que impossibilite o
descanso e justifique seu uso”, acredita.
No entanto, os calmantes e indutores de sono não
devem ser temidos. Prescritos com responsabilidade por profissionais e
utilizados em tratamentos, eles são armas importantíssimas. “Muita gente tem
medo do psiquiatra, acha que é médico de louco, que vai encher todo mundo de
remédios que dopam. E muitos clínicos gerais não se sentem à vontade em indicá-lo
aos pacientes, com medo de ofendê-los. Nenhum remédio sozinho resolve a vida de
ninguém, ele não pode ser usado como uma fuga”, afirma a Dra. Miriam, lembrando
também que os medicamentos não são a única saída para os problemas da insônia.
“Da mesma maneira que procuramos um ortopedista quando temos dores na coluna,
devemos aceitar uma consulta ao psiquiatra quando temos, por exemplo,
dificuldade em dormir. Um bom profissional saberá avaliar corretamente cada
caso e pesar os prós e contras de cada tratamento”, conclui.
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