FONTE: Alana Gandra, da Agência Brasil, no Rio de Janeiro (noticias.uol.com.br).
O PNCT (Programa Nacional
de Controle da Tuberculose), do Ministério da Saúde, começa a fazer, ainda este
mês, nas cidades do Rio de Janeiro, de Manaus, do Recife, de São Paulo, Porto
Alegre e Brasília o novo exame rápido que identifica a doença em menos de duas
horas.
Um teste piloto para
avaliar a implantação do novo exame foi feito no ano passado nas capitais dos
Estados do Rio e do Amazonas e chegou ao fim em dezembro. O piloto fez
parte do projeto Inovação no controle da tuberculose no Brasil, desenvolvido
pelo PNCT em parceria com a Fundação Ataulpho de Paiva e o patrocínio da
Fundação Bill e Melinda Gates.
O coordenador do
PNCT, Draurio Barreira, explicou à Agência Brasil que se trata de um teste novo
no mundo. Dois países tiveram uma postura pioneira em relação a esse exame,
embora diferenciada. Enquanto a África do Sul decidiu implantar
imediatamente o teste rápido, em substituição à baciloscopia, que é o
exame tradicional de detecção da tuberculose, o Brasil optou por fazer um
estudo piloto em duas cidades consideradas de alta carga "para avaliar a
performance do teste e depois implantar".
Agora, o PNCT decidiu
implantar o teste rápido em todo o país. As máquinas para o exame já estão no
Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão - Antonio Carlos Jobim, aguardando
liberação pela alfândega. A encomenda total soma 160 máquinas. Na primeira
leva, foram entregues 50 máquinas e as 110 restantes deverão chegar ainda em
fevereiro.
"Nosso
compromisso é que seis Estados, este mês, iniciem o teste como rotina. Agora
não mais como estudo, mas como rotina", reiterou Draurio Barreira. Ele
lembrou que após a liberação pela alfândega, as máquinas serão doadas pelo
Ministério da Saúde às secretarias municipais de Saúde das seis capitais
brasileiras que iniciarão o processo.
A expectativa do
coordenador do PNCT é que em 24 de março, quando se comemora o Dia Mundial de
Luta contra a Tuberculose, todas as capitais mais 92 municípios já estejam
realizando o teste rápido. Ele acredita que antes que se faça uma campanha de
divulgação do início da nova rede de testes rápidos, muitas unidades de Saúde
já estarão utilizando o método, considerado revolucionário.
O novo exame mais
rápido e eficaz para o diagnóstico da tuberculose, o Xpert, é o primeiro método
de biologia molecular usado com essa finalidade. Draurio Barreira explicou que
o bacilo da tuberculose, conhecido como bacilo de Koch, foi descoberto em 1882.
"E desde então, o método de diagnóstico, basicamente, é o mesmo. É
visualizar o bacilo no escarro das pessoas. Agora, não. A gente começa a
trabalhar com biologia molecular, o que já é uma tecnologia utilizada para
várias doenças, mas a tuberculose foi, infelizmente, durante muitas décadas,
uma doença negligenciada". A partir de agora, com investimentos da
indústria e dos governos, esse cenário foi alterado, disse.
Como a tuberculose é,
atualmente, a doença que mais mata as pessoas que vivem com HIV, o investimento
que sempre foi feito no campo da Aids, a partir da década de 80, também se
voltou para a doença. "Com isso, começam a aparecer os primeiros
resultados". Entre eles, estão o teste rápido de biologia molecular
e novas drogas desenvolvidas especificamente para a tuberculose. A doença foi
declarada prioridade global pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 1993.
Draurio Barreira
informou que até a sua vinculação com a Aids, a tuberculose era uma doença que
não interessava à indústria farmacêutica em geral, por não se tratar de uma
doença rentável, uma vez que afeta mais a população pobre. Em termos de
investimento público, disse que o Brasil aumentou em 14 vezes o orçamento para
a tuberculose nos últimos dez anos.
O teste rápido para
detecção da tuberculose será usado apenas na rede pública de saúde. O
coordenador do PNCT informou que alguns laboratórios privados do Rio de Janeiro
e de São Paulo já realizam esse exame. "Só que o valor para a iniciativa
privada é muito mais alto. É praticamente proibitivo para a população mais
pobre". Por meio de convênio com a Fundação Bill e Melinda Gates, o Brasil
foi incluído entre os países em desenvolvimento e de alta carga para conseguir
as máquinas que fazem os novos testes. "O Brasil entrou duplamente no
critério de país emergente e também de alta carga de tuberculose".
Segundo Barreira, o
custo desse teste hoje para o setor privado é entre quatro e cinco vezes maior
do que no serviço público, que tem o subsídio da Fundação Gates. Ele lembrou
que a tuberculose, no Brasil, "é de absoluta responsabilidade
pública". Mesmo uma pessoa diagnosticada na rede privada com tuberculose é
referenciada para o SUS (Sistema Único de Saúde), onde recebe o tratamento
gratuito. Os medicamentos para tuberculose não estão disponíveis nas farmácias.
Barreira disse que a
situação da tuberculose no Brasil não é tão dramática como em países africanos
ou asiáticos. Enquanto a mortalidade por tuberculose no mundo é 25 mortes
por 100 mil habitantes, o índice no Brasil é 2,4 mortes na mesma proporção.
"Menos que dez vezes a mortalidade média global". A incidência, ou
seja, o número de casos pela população, está em 36 casos por 100 mil pessoas no
Brasil, contra 250 casos por 100 mil no mundo.
"Então, temos
uma situação relativamente confortável". O coordenador do PNCT acrescentou
que mesmo assim, considerando que se trata de uma doença antiga, com métodos
diagnósticos e terapêuticos desenvolvidos há mais de 100 anos, é inadmissível
que se tenha ainda tantos casos e tantas mortes. A prioridade dada à
tuberculose pelo governo brasileiro decorre também do fato de a doença estar
associada à classe social mais pobre, além de fatores como a concentração
demográfica, o tabagismo, os hábitos alimentares, a Aids.
Por essa razão, o
enfrentamento da tuberculose pelo governo brasileiro é feito do ponto de vista
biológico e social. Daí a existência de propostas de benefício social
para adesão ao tratamento por parte de populações mais pobres, incluindo
moradores de rua e de favelas e a população prisional. "Porque um dos
grandes desafios é o abandono do tratamento", disse Barreira.
No dia 24 de março, o
Ministério da Saúde, por meio do PNCT, vai lançar campanha na mídia. Draurio
Barreira acredita que uma das principais formas de controle da doença se dá
pela divulgação correta de informações. Pesquisa feita pelo programa em 2012
verificou que metade da população desconhece a tuberculose e acredita que se
trata de uma doença do século passado, que afetava somente os poetas e boêmios.
"Há sempre a surpresa, ao mesmo tempo carregada de estigma e preconceito
contra as pessoas que têm a doença". Esses aspectos serão abordados na
campanha governamental.
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