FONTE: iG Minas Gerais - Raquel Sodré, TRIBUNA DA BAHIA.
Estado de espírito ruim aumenta também as chances
de infarto e de mortalidade.
As
consequências de nível nacional do pessimismo, nós estamos conseguindo ver
bastante bem: retração da economia, demissões, inflação e todas as outras más
notícias que os jornais têm trazido nos últimos meses. Mas esse sentimento
também tem efeitos muito nocivos para o nosso organismo.
O
pessimismo, se mantido por muito tempo, pode chegar a danificar o cérebro. “Ele
funciona como um fator estressor de pequena quantidade e longa duração. Os
neurônios possuem uma camada de proteção neurológica. Se a pessoa mantiver um
estresse crônico como esse, vai haver uma diminuição dessa proteção”, explica o
psiquiatra Kalil Duailibi, diretor científico do departamento de psiquiatria da
Associação Paulista de Medicina.
A
consequência direta disso é que essa pessoa fica muito mais propensa a
desenvolver qualquer tipo de doença neuronal, principalmente a depressão. Acima
de três meses de exposição a esse tipo de estresse, já é possível verificar
esse tipo de dano. Com seis meses de exposição, ele certamente ocorrerá.
Uma
pesquisa publicada no periódico “Science Translational Medicine” conseguiu
provar que os pensamentos negativos afetam a eficácia de tratamentos. Os
pesquisadores submeteram um grupo de 22 voluntários saudáveis a uma dor nas
pernas causada por um feixe de calor.
Em uma
etapa do estudo, aplicaram nos voluntários um potente analgésico – que aliviou
a dor dos participantes. Em um segundo estágio, os pesquisadores mentiram aos
voluntários, dizendo que o medicamento seria interrompido. Inacreditavelmente –
já que eles ainda estavam sob efeito da droga –, os participantes relataram um
aumento agudo da dor.
A
pesquisa comprovou que, quando a pessoa espera que vá sentir dor ou que o
tratamento não vá funcionar, de fato, essa expectativa se torna realidade.
Apesar de o experimento ter sido realizado com um grupo pequeno de voluntários
e de ser específico para a dor, a comunidade científica acredita que as
conclusões valham para outros tipos de tratamentos.
Outro
que sofre os efeitos do pessimismo é o coração. O estudo Women Health Status,
realizado com 97 mil mulheres, conseguiu demonstrar que as participantes
otimistas tiveram 10% a menos de chances de um infarto e 15% menos chances de
mortalidade de uma forma geral. É como se os otimistas tivessem um bônus de
vida.
“Na
medicina tradicional chinesa, determinados fatores comportamentais sempre foram
considerados importantes. Mas, para nós, isso é uma coisa muito nova, é algo
que estamos redescobrindo”, afirma o cardiologista Antonio Gabriele
Laurinavicius, membro da equipe de medicina preventiva do Hospital Albert
Einstein, em São Paulo.
Por que
o pessimismo está ligado à doença cardíaca ainda não está claro para a ciência,
mas há algumas hipóteses. “Essas pessoas também mostraram ter um estilo de vida
menos saudável. Outra possibilidade tem a ver com o fato de esses sentimentos
negativos levarem a um excesso de radicais livres no sangue, que prejudicam o
metabolismo e elevam a doença. “O que podemos concluir é que ser otimista é um
bom negócio”, afirma Laurinavicius.
Maioria vê luz no fim do túnel.
Uma enquete
feita durante os dias 24 a 27 de agosto pelo portal O TEMPO mostrou
que, diferentemente do que se poderia imaginar, a maioria dos internautas (56%)
se disse otimista com relação à própria vida nos próximos meses. Mas o
percentual dos pessimistas é alto: 44%. Responderam ao portal 1.206 pessoas.
O
administrador de empresas e consultor de negócios João Gabriel Almeida, 30,
percebe insegurança além do pessimismo. “Perdi alguns clientes que estão
querendo ver como o mercado vai ficar, pois querem contar com o dinheiro para o
caso de alguma emergência”, conta ele, que diz também estar se atendo aos
gastos básicos com sua esposa, Michele Vilas Bôas, e a filha, Ana Luisa.
Mas ele
acredita que isso vai mudar. “Acho que vamos passar talvez um ano e meio nessa nebulosidade.
Daqui a uns dois anos, as coisas vão voltar ao seu lugar”.
A
operadora de câmbio Danielle Santana, 35, é mais pessimista. “O que me incomoda
bastante é o fato de trabalharmos muito e não sermos recompensados como
deveríamos. Pagamos muitos tributos e não vemos nada. Não conseguimos
desenvolver as coisas dentro do país. A impunidade é um absurdo”, cita.
Trabalhando
em um banco, ela nem consegue enxergar luz o fim do túnel. “Temos uma doença
crônica política. Isso tem que ser mudado. A reforma política é importante, e
precisamos saber quando ela virá”, afirma.
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