FONTE: iG Minas Gerais -
Litza Mattos, TRIBUNA DA BAHIA.
Falta de paciência e de atenção é sintoma cada vez
mais comum em quem sempre recorre à internet ou ao smartphone para buscar
informações.
Quando
teve seu celular roubado, o publicitário Roger Henrique Ferreira, 22,
considerou que o maior trauma foi perder informações e números que guardava no
aparelho. Sem o smartphone, ele sentiu como se estivesse faltando um pedaço de
sua memória.
Com o
fácil acesso às informações na palma da mão, estudos recentes demonstram que a
falta de paciência dos usuários e o intervalo médio de atenção despencando para
apenas oito segundos têm relação com a chamada “amnésia digital”, fenômeno que
vem se tornando comum em um mundo cada vez mais conectado.
Esse
cenário prejudica a formação das lembranças de longo prazo, segundo a
professora Maria Wimber, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra.
A
docente participou de pesquisa feita pela empresa de segurança cibernética
Kaspersky Lab, que confirmou ser cada vez mais comum esquecer as informações
acessadas a partir de um dispositivo digital ou pela internet.
De
acordo com o estudo feito com 6.000 pessoas acima de 16 anos, cerca de um terço
dos adultos faz uma busca na internet antes de tentar lembrar a resposta para
uma pergunta, e 24% deles esquecem a informação após utilizá-la.
Além
disso, 91,2% dos entrevistados admitem usar a internet como uma “extensão
online do seu cérebro”. Usar avisos automáticos de celular, notebook e
tablet para lembrar-se do que precisa fazer é uma realidade na vida do músico
Carlos Eduardo Matias, 29.
“Tudo
está guardado lá. Em alguns fins de semana, nem lembro onde vou tocar – mas a
agenda virtual me informa. Minha cabeça está lá”, brinca ao reconhecer a
dependência.
Terceirização
da memória. Além da terceirização da memória, a pesquisa demonstrou que a
adoção massiva das plataformas móveis tem causado mais impaciência nas pessoas
– e essa urgência nos faz reter menos informações, já que, subjetivamente,
sabemos que elas poderão ser consultadas novamente e com a facilidade da
internet à mão.
“Com a
agenda de papel a pessoa se forçava a escrever, e esse hábito ajudava o cérebro
a guardar os números de maneira mais persistente do que no celular, que hoje,
por exemplo, sincroniza a agenda de contatos automaticamente”, observa o
analista sênior de segurança da Kaspersky Lab no Brasil, Fábio Assolini.
Segundo
o analista, essa facilidade de termos armazenado em um smartphone tudo o que
precisamos, e não conseguirmos lembrar os contatos de pessoas próximas, está na
lista de sintomas da amnésia digital.
Ter
muitos e-mails, senhas e números de telefones para memorizar e entrar em pânico
só de pensar em perder todas essas informações completa o “diagnóstico”.
Contraponto.
Porém, poucas são as evidências de que a utilização de dispositivos eletrônicos
perturba realmente a capacidade de formar memórias.
Para a
neurocientista Kathryn Mills, do Instituto de Neurociência Cognitiva da
Universidade de Londres, o esquecimento não é totalmente ruim e é até, muitas
vezes, necessário para dar lugar ao acúmulo de mais lembranças no cérebro.
“Não
faz mal não se lembrar de algo que você não precisa memorizar. Antes da
internet, nós usávamos outras ferramentas, como enciclopédias, para acessar
informações. Seja usando a web ou livros físicos, não significa que vamos
perder a nossa capacidade de formar memórias”, garante.
Ivan
Izquierdo, um dos maiores especialistas mundiais em memória, é ainda mais
enfático. “O amplo e bom uso desses dispositivos, pelo contrário, está nos
ajudando a usar melhor a capacidade de memória e discernimento que temos. Saber
mais coisas certamente ajuda qualquer atividade. Quanto mais velhos ficarmos,
mais memórias teremos. A menos que a própria velhice venha acompanhada de
doenças degenerativas”, afirma.
E ele
completa: “Minha longa experiência me indica que a falta de paciência perturba
qualquer operação que requeira o intelecto. Desde ler um texto até o simples
ato de comer sem se engasgar”, afirma Izquierdo.
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