terça-feira, 26 de janeiro de 2016

POR QUE O BRASIL FICA ATRÁS DE 15 PAÍSES SUL-AMERICANOS EM INCIDÊNCIA DE NATIMORTOS?...

FONTE: , Mariana Della Barba, Da BBC Brasil em São Paulo, (noticias.uol.com.br).

O Brasil ficou atrás de 15 países da América Latina e Caribe, entre eles Nicarágua, Equador, Cuba, Colômbia e Venezuela, em um ranking sobre bebês que morrem antes do nascimento, logo depois ou durante o parto.

No Brasil, a cada mil nascimentos, há 8,6 bebês natimortos. O índice é quase três vezes pior do que no Chile (3,1), país melhor qualificado da região.

Na listagem global, o Brasil ficou em 78º lugar do ranking (de 195 países), parte de um amplo e detalhado estudo feito periodicamente pelo London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Universidade de Londres, chamado "Ending Preventable Stillbirths" (colocando um fim em casos de natimortos evitáveis, em tradução livre) e publicado nesta terça-feira na revista científica Lancet.

Natimortos, no estudo, é definido como morte do feto com idade gestacional de 28 semanas (por volta de 7 meses) ou mais.

Mas o que está por trás desse resultado? Por que o Brasil está tão mal nesse quesito na comparação com outros países de sua região?

Disparidades.

Em entrevista à BBC Brasil, a médica e pesquisadora Hannah Blencowe, uma das responsáveis pelo estudo, disse que "em primeiro lugar, é preciso ter em mente que, no Brasil, a qualidade dos serviços de saúde varia muito dependendo da região do país ou da classe social", diz.

"O risco de um bebê natimorto se multiplica entre populações de baixa renda em um mesmo país."

A pesquisadora também afirma que, no caso brasileiro, apesar de não ser uma das causas diretas de um índice alto de natimortos, as altas taxas de cesáreas podem indicar um preocupante desvio de foco no acompanhamento da saúde das mulheres grávidas.

"Os dois problemas apontam para a mesma questão: 'A mulher está recebendo o melhor tratamento possível, um tratamento cujo foco é o bem-estar dela e de seu bebê?' Quando se vê bebês nascendo com idade gestacional de 37 semanas em cesáreas marcadas, fica claro que não."

Hannah afirma ainda estar ciente de que a epidemia de cesáreas no Brasil tem inúmeros fatores, inclusive a pressão dos médicos para se agendar uma cesárea, mesmo quando não há razões médicas claras para isso, além do fato de parte das mulheres acreditar que marcar a data do parto é algo normal.

"Esse alto número de cesáreas pode indicar que, no Brasil, há um foco muito grande na data do parto, e se deixa de lado questões mais importantes, como monitorar o crescimento do bebê e acompanhar bem de perto problemas como diabetes, que podem ser controlados."

Exemplo dos vizinhos.

O estudo cita exemplos de práticas adotadas por outros países - que poderiam servir de inspiração para melhorar a situação por aqui.

Um dos casos positivos citados pela pesquisadora é a prática do governo chileno em registrar em detalhes os casos de natimortos.

"É claro que é uma tragédia. E ninguém quer falar sobre isso. Mas o governo brasileiros poderia contabilizar melhor e com mais detalhes o número de natimortos. Não é uma questão de apontar dedos, mas sim de olhar de perto para os casos e ver o que aconteceu."

Cuba também entrou no estudo como o país da região que está fazendo mais progressos na redução do número de bebês que morrem antes de nascer.

Entre as razões para esse avanço estão um atendimento médico médico durante a gravidez de qualidade e acessível a maior parte da população.

E a pesquisa deixa claro que um país com pré-natal eficiente precisa diagnosticar, tratar com seriedade ou acompanhar de perto fatores que podem levar à morte de um bebê.

Diabetes, pressão alta e obesidade estão no topo da lista, assim como o tabagismo. Segundo o estudo, ao menos 10% das mortes desses bebês estão ligadas à hipertensão e outros 10% a diabetes.

Os pesquisadores também afirmam que países que agem para evitar que adolescentes fiquem grávidas se saem melhor. Acompanhar com mais atenção grávidas com mais de 40 anos também é recomendável. No dois casos, são gestações que podem trazer mais riscos à mãe e ao bebê.

Outros fatores de riscos apontados no levantamento são infecções durante a gravidez - 8% desses bebês morrem por a mãe ter contraído malária e 7,7%, sífilis.

Consequências ocultas.

Para Hannah Blencowe, outro ponto no qual o Brasil pode avançar é "aprender a lidar melhor com as mulheres e as famílias que tiveram um bebê natimorto, dando voz a eles e melhorando o tratamento, especialmente psicológico, a essas pessoas".
O estudo destaca que o impacto psicológico, social e até econômico nas famílias que perdem um bebê precisa ter mais atenção dos governos.

Novos estudos citados pela pesquisa sugerem que 4,2 milhões de mulheres em todo o mundo estejam vivendo com sintomas de depressão por terem perdido um bebê. Segundo o levantamento, elas sofrem estresse psicológico, estigma e isolamento, além de estarem mais vulneráveis a abusos, violência doméstica e a problemas familiares.

Os pesquisadores também detalham como o pai de um bebê que morreu também sofre com o luto. Metade dos pais entrevistados nos países desenvolvidos, por exemplo, disse sentir que a sociedade queria que eles esquecessem o bebê natimorto e tentassem ter outro filho.

160 anos.

No geral, o estudo conclui que há uma epidemia global negligenciada: são 2,6 milhões de bebês natimortos por ano em todo o mundo.

E afirma que o avanço na prevenção dessas mortes prematuras vem sendo extremamente lento. E a grande maioria dos casos (98%) está em países de renda média ou baixa. Segundo a pesquisa, no ritmo atual de progresso, vai levar mais de 160 anos para que uma grávida na África tenha as mesmas chances de seu bebê nascer vivo do que uma mulher em um país rico.

Um dos colegas de Hannah, a co-autora do estudo Joy Lawn, faz um apelo em sua conclusão da pesquisa:

"Precisamos dar voz a essas mães de 7.200 bebês que nascem mortos diariamente no mundo. É um erro acreditar que muitas dessas mortes são inevitáveis. Metade dessas 2,6 milhões de mortes anuais poderiam ser evitadas com melhorias no tratamento de mães e bebês durante o parto e no pré-natal."

MELHORES.
  1. Islândia
  2. Dinamarca
  3. Finlândia e Holanda (empatados)
  4. Croácia

PIORES


  1. Paquistão
  2. Nigéria
  3. Chade
  4. Níger e Guiné-Bissau (empatados).

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