FONTE: Elioenai Paes, TRIBUNA DA BAHIA.
Mutações genéticas passadas de pai para filho
podem causar os mais diferentes tipos de câncer; identificar precocemente pode
melhorar o monitoramento e evitar que a doença avance.
Sabe-se que os casos de câncer aumentam a cada ano. Cerca de 10% deles, no entanto, são causados por hereditariedade, ou seja, acontece quando alguém herda algum gene com “defeito” do pai ou da mãe e ele se manifesta em algum momento da vida. Uma mutação, porém, não é responsável por apenas um tipo específico de câncer, como se pensa. Se o avô teve câncer de próstata, a neta pode ter de mama, e tudo isso ser causado pela mesma mutação genética.
Segundo
o geneticista Ciro Martinhago, da Chromossome Medicina Genômica, há genes que,
quando com mutações, podem causar câncer em várias partes do corpo.
O gene
P53, um supressor tumoral, quando não funciona, pode deixar de reparar a
replicação errada de células dentro do organismo, deixando o corpo suscetível a
cânceres.
“Câncer
nós temos todos os dias, a diferença é que o organismo vai lá e mata”, explica
Martinhago, contando a função do gene P53.
A
informação, que parece assustadora, é mais simples do que se pensa. De uma
forma simplista, é comum, diariamente, células se replicarem diferentemente da
forma em que deveriam. O que acontece é que há um “guardião” no organismo que
vai lá e destrói essas replicações erradas. Quando esse mecanismo falha, o
câncer aparece.
Identificar
esse tipo de problema genético familiar é importante para um acompanhamento e
intervenção precoce em casos de câncer. É prudente que pessoas que tiveram
vários tipos de câncer na família façam exames genéticos para ver se há alguma
alteração.
“Existem
famílias que nitidamente você rastreia, em várias gerações, indivíduos que têm
câncer”, alerta o geneticista.
Veja
quais mutações genéticas podem causar câncer hereditário:
DSA 1 e 2:
a mutação nesses genes pode provocar câncer de mama, ovário, intestino e
próstata
P53: a
mutação do P53, considerado um supressor tumoral, pode causar câncer em
qualquer órgão, em teoria. Se a pessoa receber esse gene dos pais, ela pode ter
um câncer diferente dos familiares, e isso ainda ser considerado hereditário.
Pessoas com vários casos de cânceres diferentes na família devem buscar
aconselhamento genético
APC:
quando esse gene está mutado, a chance de desenvolver pólipos malignos no
intestino é alta
MEN 1: a
mutação nesse gene pode causar câncer em qualquer glândula endócrina,
principalmente na tireoide e pâncreas
RB1:
quando o RB1 está mutado, ele causa câncer na retina, o retinoblastoma, um dos
cânceres mais comuns em crianças. Quando é genético, normalmente o câncer
acontece nos dois olhos, explica Martinhago.
Síndrome de Lynch: caracterizada por uma alteração genética, essa síndrome
pode aumentar o risco de câncer no intestino, especificamente no cólon e no
reto.
MLH1, MSH2, MSH6 e PMS2: quando esses genes estão mutados, o risco de desenvolver
câncer de endométrio aumenta muito.
Quando
há mutações genéticas, usualmente o câncer se desenvolve mais cedo do que
aconteceria em outros casos, diz o geneticista.
“Com 60
anos é possível que uma pessoa tenha câncer, mas aos 30, isso não deveria
acontecer. Quanto mais precoce o câncer, maior o sinal de ele ser hereditário”,
alerta.
O
aconselhamento genético nos casos de câncer hereditário é importante para um
planejamento familiar mais adequado, explica Martinhago. “Eu vejo de uma forma
fundamental o planejamento familiar. Não apenas dos filhos, mas dos filhos dos
seus filhos. Hoje já temos condições [genéticas] possíveis de minimizar dentro
das famílias”, diz.
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