FONTE:, Lígia Formenti, Em São Paulo, (noticias.uol.com.br).
A velha ideia de que
aleitamento materno traria efeito protetor apenas para crianças de famílias de
classe econômica menos privilegiada foi sepultada de vez por uma série de
estudos sobre o tema, coordenada pelo professor da Universidade Federal de
Pelotas Cesar Victora e publicada na revista Lancet.
O trabalho, o maior
já realizado sobre o tema e que teve como base a revisão de 1.300 estudos,
demonstra que amamentar salva vidas de crianças, mulheres de todas as faixas
sociais, e, de quebra, ajuda a economia de países, qualquer que seja o nível de
desenvolvimento.
O efeito protetor não se dá apenas na primeira fase da vida. O aleitamento materno tem uma ação importante para a inteligência das crianças, previne a obesidade, sem falar no impacto positivo na saúde das mães
O efeito protetor não se dá apenas na primeira fase da vida. O aleitamento materno tem uma ação importante para a inteligência das crianças, previne a obesidade, sem falar no impacto positivo na saúde das mães
Cesar Victora
Dados reunidos de 153 países mostram, por exemplo, que mulheres que amamentam por períodos mais longos têm redução de 30% no risco de desenvolver câncer de ovário. Os efeitos protetores para câncer de mama também impressionam: cada dois anos de amamentação podem reduzir o risco da forma invasiva da doença em 6%.
Dados reunidos de 153 países mostram, por exemplo, que mulheres que amamentam por períodos mais longos têm redução de 30% no risco de desenvolver câncer de ovário. Os efeitos protetores para câncer de mama também impressionam: cada dois anos de amamentação podem reduzir o risco da forma invasiva da doença em 6%.
Pelas contas dos
pesquisadores, o aumento das taxas de aleitamento pode evitar por ano 800 mil
mortes de crianças e de cerca de 20 mil mulheres.
Cesar Victora
Os estudos indicam
que o leite produzido pela mãe vai se adaptando às necessidades da criança, ao
longo do tempo. "Ele é uma espécie de medicamento feito sob medida: com
nutrientes, com elementos protetores contra infecções, para flora intestinal do
bebê. Quando o bebê é prematuro, o leite produzido pela mãe tem uma composição
específica, totalmente diferente, por exemplo, do que é produzido meses mais
tarde", completa.
O impacto positivo da
amamentação sobre a inteligência do bebê já havia sido demonstrada por uma
pesquisa anterior, também coordenada por Victora e pela equipe da Universidade
Federal de Pelotas. Os dados mostram que crianças alimentadas com leite materno
por mais tempo tiveram um aumento médio de 3 pontos no QI - algo que pode melhorar
o desempenho escolar e, em consequência, a renda.
De acordo com um dos
trabalhos que compõem a série agora publicada, a ausência da amamentação
materna e seus consequentes estragos na capacidade cognitiva podem provocar
perdas para economia calculadas em US$ 302 bilhões anuais, o equivalente a
0,49% do rendimento bruto mundial. Um das conclusões do trabalho é que para
alcançar esses ganhos, há necessidade de se reforçar políticas que garantam o
aleitamento materno.
A meta proposta é que
todas as crianças sejam amamentadas exclusivamente por leite materno até seis
meses. Embora o compromisso tenha sido firmado na década de 90, ele está longe
de ser alcançado.
Autores do trabalho
reforçam a necessidade de se colocar em prática uma série de ações: disseminar informações
sobre benefícios do aleitamento, desenvolver ações que incentivem a prática,
como ampliação do período de licenças maternidade, a criação de salas de
aleitamento em ambientes de trabalho e a previsão de pausas durante a jornada,
para que criança possa ser amamentada, regular a indústria de alimentos
substitutos ao leite materno, restringindo a propaganda e a distribuição, por
exemplo, de amostras gratuitas.
O Brasil é citado
como exemplo no relatório em razão das práticas adotadas. São elogiados o
sistema de banco de leite materno e a ampliação da prática de alojamento
conjunto, que permite à mãe ficar próxima do bebê, o que facilita o
aleitamento. As consequências dessas políticas ficam claras nas estatísticas.
No período entre 1974 e 1975, uma criança brasileira recebia leite materno por
um período médio entre dois e cinco meses. Entre 2006 e 2007, essa marca havia
saltado para 14 meses. Entre 1996 e 2006, a média de crianças que recebiam
leite materno por pelo menos um ano havia crescido 15%.
Embora avanços tenham
sido muito significativos, Victora afirma ser necessário ampliar essa marca e,
sobretudo, evitar que ocorra no Brasil problemas como registrados em outros
países. O estudo indica haver uma tendência de que, com aumento da renda familiar
haja uma migração do aleitamento materno para substitutos. Victora considera
essencial, por exemplo, a realização de campanhas que incentivem a amamentação.
"A regularidade dessas iniciativas foi bastante reduzida. O ideal é que
elas sejam retomadas", completou.
Victora afirma também
ser essencial movimentos que garantam o aleitamento e evitem constrangimento,
quando isso é realizado em espaços públicos. "A aprovação de regras, a
exemplo de São Paulo, que garantem a amamentação é um ótimo instrumento",
completou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário