A vida inteira se acreditou que voltar a congelar um
alimento descongelado anteriormente era quase um pecado mortal. Na verdade, na
Agência Espanhola de Consumo, Segurança Alimentar e Nutrição (AECOSAN), vinculada ao Ministério da Saúde, afirmam
categoricamente: "Nunca de deve congelar de novo um alimento que foi
descongelado, a menos que seja cozido antes de voltar a ser congelado".
Mas nem todas as autoridades de saúde concordam. No Serviço de Inspeção Alimentar do Ministério da
Agricultura dos Estados Unidos afirmam:
"Os alimentos descongelados total ou parcialmente podem voltar a ser
congelados de forma segura sempre que ainda apresentarem cristais de gelo ou se
não tiverem excedido os 4,4° C. O recongelamento pode afetar a qualidade dos
alimentos, mas seu consumo continuará sendo seguro".
Em outras palavras, o
produto pode se transformar de uma iguaria em algo de gosto estranho. No caso
das frutas e legumes, por exemplo, "percebe-se mudanças de textura,
alterações na cor e no sabor, resultando nos chamados off-flavors,consequência da
ação de algumas enzimas oxidantes e hidrolisantes capazes de atuar em baixas
temperaturas", diz José A. Muñoz Delgado em seu estudo Refrigeração e
Congelamento dos Alimentos Vegetais. De
fato, no congelamento ou no recongelamento, a má reputação do processo de
conservação de alimentos em baixas temperaturas é merecida, no que se refere ao
paladar.
Alimentos descongelados total ou
parcialmente podem voltar a ser congelados de forma segura sempre que ainda
apresentarem cristais de gelo ou se não tiverem excedido os 4,4° C",
segundo o Serviço de Inspeção Alimentar do Ministério da Agricultura dos EUA.
Os alimentos são compostos quase que em sua totalidade de
água. É assim com 91% dos brócolis, 76% de uma merluza, 66% do frango e 71% da
carne bovina, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. Ao reduzir a temperatura para entre -2 e -18°C, esse
elemento líquido se congela e forma microcristais, tanto se o congelador for Frost Freecomo se for
congelado a vácuo ou em embalagens individuais, como lembra Don Meyer, da
Universidade de Guelph, em seu trabalho Guerra contra o Gelo. Imagine-os
como espadas afiadas que rompem os tecidos conjuntivos dos alimentos. Rasgadas
por dentro, essas iguarias nunca mais serão o que eram, segundo o professor de
Ciência dos Alimentos. "Uma vez descongeladas, estas estruturas furadas
como uma peneira serão incapazes de reter parte da sua própria água. Com os
sucos perdidos, adeus a muitas das suas qualidades organolépticas".
Imagine o que significa passar por isso duas vezes ...
Instruções para o descongelamento
adequado.
Os especialistas recomendam o descongelamento na
prateleira de baixo da geladeira, se houver tempo de sobra, ou no microondas
(usando a opção defrost ou 'descongelar'), em caso de pressa. Nunca ao ar
livre, devido à proliferação de bactérias com um possível risco para a saúde,
a1dverte Carmen Tejedor, professora de um curso de Segurança e Qualidade
Alimentar na Universidade de Salamanca.
Pense que logo após descongelar o seu bife, você muda de
ideia e decide colocá-lo de volta no congelador. O que fazer? Seguir as
instruções da AECOSAN ou se beneficiar da aparente permissividade das
autoridades norte-americanas? "O mais seguro é, na verdade, não voltar a
congelar novamente, como recomenda a AECOSAN. Em primeiro lugar porque o
alimento vai ficar seco e insípido. Se voltar a congelar, vão ocorrer mais
rompimentos e ficará ainda mais seco e insípido. Segundo, porque ao descongelar
algumas bactérias patogênicas podem se reproduzir mais rapidamente e atuar com
mais voracidade quando encontrarem esses tecidos já rompidos. Por isso se
recomenda cozinhar imediatamente. E ai então voltar a congelar.
O calor mata as
bactérias, o frio apenas as detém", diz Carmen Tejedor, do Departamento de
Microbiologia e Genética da Universidade de Salamanca. Insistimos: e se tiramos
o filé do congelador e antes de estar descongelado nos convidam para um jantar
irrecusável? "Depende do tempo que ficou descongelando e a temperatura. Se
ficou na geladeira a 4° C, não teria problema recongelar (a não ser pela perda
de sabor ou consistência). Mas se abrimos a geladeira com frequência ou
acabamos de guardar as compras, a temperatura interna será maior. E é difícil
determinar a temperatura real da geladeira de casa em todos os momentos.
Passando de 5° C as bactérias começam a se proliferar rapidamente e não se pode
garantir 100% de salubridade desse filé".
Agora, se você decidiu cozinhar a carne antes de sair
para o jantar que apareceu de surpresa, saiba que quando colocar a comida
quente na geladeira elevará a temperatura do aparelho, podendo afetar a
salubridade do restante dos alimentos, segundo a microbiologista, "mas
deixar à intempérie expõe ao ataque das bactérias". Nenhuma opção é
perfeita, mas na microbiologia nada é preto no branco.
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