FONTE: Fabiana Marchezi, Do UOL, em Campinas (noticias.uol.com.br).
Depois de
a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ter suspendido no país a
"vacina antiaborto", uma injeção do sangue do parceiro na mulher para
evitar rejeição ao feto, a Unicamp (Universidade de Campinas) parou de dar a
vacina, que era fornecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A técnica, usada há
décadas no Brasil, não tinha evidências que comprovassem a "qualidade,
eficácia e segurança desses tratamentos, podendo expor a risco as pacientes
submetidas aos procedimentos", esclareceu o órgão em uma nota técnica.
O Caism (Centro de
Atenção Integral à Mulher), da Unicamp, é o único no Brasil que oferecia o
método pelo SUS). O tratamento era oferecido no hospital desde 1993.
A designer de
sobrancelha Ariadne Almeida, de 28 anos, conta que depois de nove abortos
espontâneos, ela está grávida de cinco meses após passar pelo tratamento.
"É triste saber que outras mulheres talvez não tenham a chance de
concretizar esse sonho. Só quem passa por isso pode entender o sofrimento de
não conseguir manter a gestação", disse.
O CFM (Conselho
Federal de Medicina) considera que várias modalidades de tratamentos
imunológicos "ainda apresentam evidências insuficientes para comprovar
decréscimo efetivo das perdas gestacionais recorrentes". O tema ainda será
alvo de análises.
Ariadne é uma das
cerca de 500 mulheres que usaram o procedimento no Caism ao longo desses 23
anos. O método consiste em injetar o sangue do parceiro na mulher, quando há
provas de que abortos sofridos anteriormente são provocados pela rejeição aos
tecidos fetais dentro do corpo dela.
"O
sangue do parceiro é utilizado para impedir que haja essa rejeição. Separa-se
os linfócitos, ou seja, as células brancas do sangue do parceiro para injetar
na mulher. Essas células contêm as proteínas que precisam ser aceitas pela
mulher durante a gestação. O organismo habitua-se a essas proteínas, evitando a
rejeição", explicou o médico Ricardo Barini, professor da Unicamp,
ginecologista e um dos primeiros a utilizar a técnica nas pacientes.
O aborto
espontâneo recorrente consiste na perda de três ou mais gestações até a 20ª
semana e atinge cerca de 5% dos casais férteis, segundo divulgado pela Anvisa.
Vacina só poderá ser usada
para pesquisas.
"O uso dessas
técnicas de imunização possui os mesmos riscos de qualquer outro tipo de
transfusão, assim como a possibilidade de transmissão de vírus como a
imunodeficiência humana (HIV), Epstein-Bar, hepatites e o citomegalivírus. Além
disso, a técnica de manipulação do material, realizada em condições e ambientes
inadequados, pode levar à contaminação microbiológica das amostras",
informou a Anvisa.
Segundo o órgão, a decisão se apoia em uma recomendação do CFM, por meio de sua Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia, que aponta a inexistência de evidências científicas que validem a adoção dessa substância oferecendo segurança e eficácia aos pacientes.
Segundo o órgão, a decisão se apoia em uma recomendação do CFM, por meio de sua Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia, que aponta a inexistência de evidências científicas que validem a adoção dessa substância oferecendo segurança e eficácia aos pacientes.
Barini diz que a
determinação não é aceitável porque o tratamento não traz riscos à gestante e
tem sua eficácia comprovada por meio de estudos científicos no Brasil e no
exterior.
O médico informou que
pretende fazer um novo estudo para provar a eficácia do método para o CFM e
reverter a suspensão. "Vamos mostrar ao CFM que existem evidências de que
o tratamento é eficaz", concluiu.
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