sábado, 23 de julho de 2016

DESEMPREGO ESTIMULA HÁBITO PERIGOSO À SAÚDE...

FONTE: Nelson Rocha, TRIBUNA DA BAHIA.


Segundo especialistas, três em cada quatro brasileiros se automedicam.

Poucos podem dizer que nunca recorreu a um analgésico sem a prescrição médica para aliviar dores no corpo, dor de cabeça, gripe ou febre. O  assunto é mais sério e preocupante quando se trata do hábito do brasileiro de se automedicar, uma atitude perigosa que pode trazer muitos riscos para a saúde, podendo levar à morte. Segundo especialistas, três em cada quatro brasileiros se automedicam. 
O ICTQ - Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial concluiu estudo em maio deste ano que aponta os baianos como os que mais se automedicam no País. Uma pesquisa de 2013 feita pela Associação da Indústria Farmacêutica (Abifarma) apontou que 80 milhões de pessoas tomam remédios para amenizar as dores sem consultar um médico. Também o desemprego em alta e a perda do convênio médico contribuem para que mais pessoas estejam se automedicando cada vez mais.
A era digital tem realmente fortalecida a tendência de se automedicar do brasileiro. Marcos Vinícius Andrade, diretor de pesquisa do ICTQ, instituição responsável pelo levantamento sobre o consumo de medicamentos em 16 capitais, revela ter observado “que um maior número de pessoas está se diagnosticando, mais de 30 por cento, pela internet. Vejam o tamanho do absurdo! Intoxicação medicamentosa é uma questão séria, que as pessoas não levam a sério. Fizemos essa pesquisa já duas vezes e percebemos que as pessoas não mudam. É uma questão cultural já enraizada”, pontuou.
Os farmacêuticos de plantão em Salvador confirmam a tendência do baiano nesta prática perigosa. A experiente farmacêutica  Eliane Dias, há 40 anos atendendo, diz que com a crise “não só aumentou a automedicação, como a compra de remédios”. Ela revela não se surpreender com o hábito perigoso à saúde dos baianos “que querem se automedicar até com remédios controlados, psicotrópicos”.  
Farmacêutico deve orientar.
Eliane atende diariamente dezenas de pessoas que procuram remédios sem receitas. ”Cabe ao farmacêutico orientar e dizer que tem que procurar o respectivo profissional. Pessoas que vêm pra poder pedir medicamento para o coração, para pressão - ah!, eu estou tomando tal medicamento, não estou me dando bem, a senhora pode substituir? - Eu, como farmacêutica imediatamente digo, não. Tem que procurar o médico pra poder ele substituir a medicação”, afirma.
O jovem farmacêutico Giovane Santana dos Santos se diz surpreso com o comportamento dos baianos na hora de buscar os remédios na farmácia.
“Aparece muita gente mesmo e até antibióticos eles pedem. Os medicamentos isentos de prescrição são bastante procurados. Tem quem chegue e peça, por exemplo, Dipirona, indicado para dor de cabeça que não precisa de receita. Em casos como este, o farmacêutico tem que informar que provoca alergia e costuma baixar a pressão, assim como saber se a pessoa é alérgica a medicamentos, porque cada medicamento funciona pra cada organismo”, afirma.
Entre os remédios que aparecem como alvos principais da automedicação estão os que combatem dor de cabeça, dor muscular, tosse e resfriados, e perturbações digestivas, como prisão de ventre, diarreia e ardor no estômago. Remédios para rinites alérgicas, aftas, hemorroidas, queimaduras solares, verrugas, e problemas de pele moderados completam a lista. O uso de remédio de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que a utilização inadequada pode esconder determinados sintomas.
Substância pode gerar efeitos adversos.  
Quanto ao fato do baiano liderar o ranking nacional de consumo de drogas adquiridas nas farmácias, Marcos Andrade diz que isto foi revelado depois de um trabalho de campo realizado “durante 15 dias e longe das farmácias. O resultado surpreendeu porque hoje todo mundo tem acesso ao farmacêutico. Infelizmente a estrutura médica hospitalar do País é deficitária”, concluiu.  
Como diz o ditado popular que de médico, técnico de futebol e louco todo mundo tem um pouco, o aposentado Antônio Cordeiro dos Santos, 67 anos, sentiu uma dor no pé e resolveu se automedicar. “Tomei um antiinflamatório, mas não resolveu. Aí uma senhora me recomendou experimentar chá de aroeira, não é que eu fiquei bom!”. Porém, o que muita gente não sabe é que essa simples atitude pode trazer problemas para a saúde. 
Segundo o experiente dentista Walter Cardoso Dantas, os medicamentos tomados sem prescrição médica podem, em alguns casos, ter efeito contrário ao de amenizar os sintomas. “Tenho observado que tem gente que diz estar sentido uma determinada dor e alguém diz toma isso ou toma aquilo, e isto pode vir a afetar a própria saúde”, alerta.
Já para o cardiologista Mauricio Lyra, a automedicação “é algo comum no Brasil, mas qualquer coisa, como antiinflamatório, antibióticos, utilizado por um leigo não é boa e pode gerar complicações mais sérias. É muito ruim a automedicação”, pontua.
Efeitos colaterais.
Especialistas também garantem que ingerir constantemente e indevidamente analgésicos para dor de cabeça, febre e gripe pode colocar o equilíbrio do seu organismo em risco. Os analgésicos podem aumentar a incidência de dor de cabeça em longo prazo, podem alterar a coagulação do sangue, causar gastrite, sangramento, diarreia, náusea e vômito. 
Já os diuréticos - que levam a pessoa a urinar mais - eliminam água e sais minerais importantes para o corpo, como potássio, cálcio, magnésio e sódio. O uso frequente de laxantes provoca alterações na mucosa do intestino, causando irritações e inflamações crônicas. E os antiinflamatórios que agem contra dores de garganta, por exemplo, podem irritar a mucosa do intestino e causar gastrite, úlcera, diarreia, náusea e vômito.

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