FONTE: Redação, CORREIO DA BAHIA.
Tá sentado em casa sem fazer nada? Se ligue!
Uma hora de atividade física moderada diária, como uma
caminhada acelerada ou uma pedalada casual, seria o suficiente para compensar
os malefícios à saúde trazidos por passar oito ou mais horas sentado durante o
dia, rotina comum de muitos trabalhadores ao redor do planeta. A conclusão é de
um estudo publicado esta semana na prestigiada revista médica “The Lancet” como
parte de nova série especial que mostra o fardo global do sedentarismo tanto no
bem-estar pessoal quanto na economia global.
Lançada às vésperas do início
das Olimpíadas no Rio, onde milhares de atletas do mundo inteiro vão exibir os
resultados de vidas dedicadas ao esporte, a série revisita o tema da
inatividade - que aumenta as chances de desenvolvimento de diversas doenças
como problemas cardiovasculares, cânceres e diabetes do tipo 2 e é apontada
como fator de risco à saúde modificável tão importante quanto a obesidade e o
tabagismo – quatro anos depois da publicação da sua primeira edição na revista,
pouco antes dos Jogos de Londres em 2012, quando o sedentarismo foi apontado
como uma “epidemia global” responsável por estimadas 5,3 milhões de mortes
anuais.
Segundo outro dos estudos na nova série, que contabilizou
pela primeira vez os custos globais do sedentarismo, a inatividade da população
em geral acarreta em prejuízos de pelo menos US$ 67,5 bilhões anuais e a perda
de 13,4 milhões de anos de vida saudável. Já um terceiro levantamento aponta
que os governos o redor do mundo incrementaram a confecção e implantação de
políticas de incentivo às atividades físicas nos últimos quatro anos, mesmo que
os resultados delas ainda sejam incipientes, com 23% da população adulta global
e 80% dos adolescentes nas escolas não cumprindo o mínimo de 150 minutos de
exercícios moderados semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Assim, ganham força e
importância a adoção de “estratégias inteligentes” que estimulam ou até
obriguem as pessoas a serem mais ativas, com exemplos que são destaques do
quarto e último artigo da nova série. Entre eles está o sistema BRT de
Curitiba, em que as estações um pouco mais afastadas umas das outras que os
pontos de ônibus “normais” fazem os usuários caminharem mais na sua rotina
diária.
“O mundo precisa levar a
sério a atividade física”, alertam Pamela Das e Richard Horton, respectivamente
editora-executiva da série e editor-chefe da “Lancet”, em comentário que
acompanha os estudos na revista. “E isso significa dinheiro – para capacitação
dos departamentos de saúde pública realizarem a vigilância adequada, parcerias entre
setores, intervenções, monitoramento de políticas e pesquisas, em especial
sobre o custo-benefício das intervenções. Há grandes evidências da necessidade
de ação para aumentar a atividade física, quais ações são mais promissoras e
quem precisa estar envolvido. Mas a capacitação e o investimento continuam
insuficientes, pois a atividade física não é levada a sério o bastante para
subir ao topo das prioridades de financiamento”.
E um exemplo do tipo de
trabalho neste sentido é justamente o primeiro estudo da série. Após um extenso
levantamento nas principais bases de dados de pesquisas relacionadas à saúde no
mundo, cientistas liderados por Ulf Ekelund, da Escola Norueguesa de Ciências
Esportivas e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, identificaram apenas
16 estudos com informações sobre a quantidade de tempo que as pessoas passavam
sentadas no dia, o quão ativas elas eram e um acompanhamento posterior que
variou de dois a 18 anos.
Ao todo, os cientistas
analisaram dados sobre pouco mais de 1 milhão de pessoas, das quais quase 85
mil morreram nos períodos das respectivas pesquisas. Eles então harmonizaram os
dados dos 16 estudos e separaram o conjunto total de pessoas em quatro grandes
grupos (quartis) de mesmo tamanho em duas categorias: as que passavam mais e
menos tempo sentadas durante o dia, entre menos de quatro horas a de quatro a
seis horas, seis a oito horas e mais de oito horas; e seu nível de atividade
física, expressada numa unidade de horas de tarefa metabólica equivalente por
semana (MET-h por semana).
Cruzando as informações sobre estes grupos e a
mortalidade, os pesquisadores observaram que pessoas que passavam oito ou mais
horas do dia sentadas mas que também estavam no topo do ranking das mais
ativas, com 35,5 MET-h semanais ou mais - o equivalente a atividades moderadas
como caminhar a uma velocidade de 5,6 km/h ou andar de bicicleta a 16 km/h de
60 a 75 minutos diários -, tinham um risco de morte muito inferior ao de
pessoas que ficavam sentadas por menos horas mas eram sedentárias. Segundo os
cientistas, as análises sugerem que a atividade física é importante
independente da quantidade de tempo que se passa sentado durante o dia, com a
alta no risco de morte associada a longos períodos sentado sendo eliminada nas
pessoas que faziam um mínimo de 60 minutos de atividades moderadas diárias.
"Há uma grande
preocupação com os riscos associados aos estilos de vida mais sedentários de
hoje", lembra Ekelund. - Mas nossa mensagem é positiva: é possível
reduzir, ou mesmo eliminar, estes riscos se formos ativos o bastante, mesmo que
não pratiquemos um esporte regularmente ou frequentemos uma academia. Para
muitas pessoas que vão de casa para o trabalho e do trabalho para casa e têm
empregos baseados em escritórios, não há maneira de escapar de ficar sentado
por longos períodos de tempo. Para estas pessoas em particular, não podemos
deixar de destacar a importância de praticar exercícios, seja saindo para uma
caminhada na hora do almoço, correndo de manhã ou indo de bicicleta para o
trabalho. Uma hora de atividade física por dia é o ideal, mais se isso não é
possível, pelo menos fazer algum exercício diário pode ajudar a diminuir o
risco.
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