FONTE: Roseli Tardelli e Henrique
Contreiras, da Agência de
Notícias da Aids, Em Durban (África
do Sul), (noticias.uol.com.br).
O lançamento da
publicação "Mito vs Realidade: sobre a resposta brasileira à epidemia de
HIV e aids em 2016", pela ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de
Aids) foi um dos destaques da quarta-feira (20), na 21ª. Conferência
Internacional de Aids, em Durban (África do Sul). O evento aconteceu no
Treatment Networking Zone, espaço para ativistas que demandam expansão e
melhoria no tratamento, no Global Village.
Richard Parker,
presidente da ABIA, disse que os remédios hoje usados no Brasil estão muito
atrasados em relação aos dos países desenvolvidos.
"O Brasil, que
já foi uma referência, agora é um exemplo dessa divisão que existe entre o
norte e o sul", disse Richard, que é professor titular de Ciências
socio-médicas e antropologia e diretor do Centro para Estudos de Cultura,
Política e Saúde na Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia, em
Nova York.
A publicação sustenta
que, no passado modelo para o mundo na resposta à epidemia do HIV e da aids, o
Brasil de 2016 caminha em retrocesso.
"Mergulhado na
pior crise político-econômica experimentada desde a fase pós-democratização, o
maior país da América do Sul perdeu a capacidade de construir uma resposta à
epidemia utilizando o seu maior trunfo: a experiência dos movimentos
sociais", diz o editorial.
"Esse documento
que estamos lançando analisa várias faces da epidemia brasileira. Ao contrário
do que faz supor um discurso fantasioso baseado no passado da resposta do
Brasil à aids, temos inúmeros desafios", reforçou, no evento, o
pesquisador Veriano Terto, coordenador de projetos da ABIA, e um dos autores
que assinam textos no documento.
Também escrevem
artigos na publicação Sônia Corrêa, Alexandre Grangeiro, Mario Scheffer, dentre
outros, compondo um panorama crítico do país à luz da atual conjuntura política
e econômica.
Os autores
consideram, à luz da atual conjuntura política e econômica no país e no
contexto internacional, que há graves ameaças ao programa de acesso a
medicamentos no Brasil e à política de direitos humanos.
Avaliação do
Departamento.
A diretora do
Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Brasil, Adele Benzaken, leu o
documento da ABIA e fez algumas considerações. "Trata-se de um documento
político, de posição e de apontamentos para onde deve ir a resposta brasileira
no atual contexto do sistema de saúde (SUS)", disse ela.
Os artigos da
publicação enfatizam muito a falta de diálogo com a sociedade civil. Quanto a
isso, Adele diz que tem buscado o diálogo com todos os atores. E reforça que
não há como construir a resposta à aids sem a ampla participação de diferentes
setores
"É preciso
também compreender que devemos estar harmonizados com as evidências científicas
produzidas nacional e internacionalmente. A comprovação de que alguns avanços
ocorreram estão bem documentados no report 90-90-90 lançado nesta conferência
internacional, ratificando que estamos no caminho certo adotando o tratamento
para todos. Estudos financiados pelo Ministério da Saúde, com populações-chaves,
com foco na sobrevida de soropositivos, estão sendo realizados e teremos novas
evidências norteadoras até o fim do ano. O espaço de diálogo está aberto para,
juntos, enfrentarmos a epidemia do HIV", concluiu a diretora.
"Aprecio a
expansão da testagem, mas o estigma que sofrem os soropositivos não é mais
discutido nos dias de hoje. A propaganda diz 'teste e viva melhor'. Mas como
viver melhor com tanta discriminação, com um tratamento ultrapassado, com o
sistema de saúde entrando em colapso?", perguntou Mathew Kavanagh,
americano, da Health GAP, uma das entidades que organizaram a marcha, junto com
Treatment Action Campaign e Section 27.
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