FONTE: Juliana Nakamura, Colaboração para o UOL, em São Paulo, (estilo.uol.com.br).
Verdadeiros modelos de comportamento, os pais
influenciam o jeito de ser, as crenças e os hábitos dos seus filhos. Isso se
aplica a diferentes áreas, inclusive à forma como o adolescente se relaciona
com o álcool. “A família é a nossa primeira fonte de socialização. Assim como
um jovem pode se interessar por esportes, inspirado pela prática dos pais,
também pode desenvolver uma relação nociva com a bebida diante do mau exemplo
vindo de casa”, diz a psicóloga Mariana Sanches, pesquisadora do GREA (Grupo
Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas), ligado ao Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
O álcool é a substância psicoativa mais consumida
entre os jovens, que têm tido contato com a bebida cada vez mais cedo. Dados do
CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) apontam que os adolescentes
que iniciam a ingestão de álcool antes dos quinze anos têm predisposição quatro
vezes maior a desenvolver dependência, em comparação com aqueles que fizeram
seu primeiro uso aos vinte anos ou mais. O uso precoce da bebida também está
associado a uma série de comportamentos de risco, dificuldades de aprendizado e
prejuízos no desenvolvimento de habilidades cognitivo-comportamentais e
emocionais.
O problema é tão sério que motivou a SPSP
(Sociedade de Pediatria de São Paulo) a realizar uma campanha permanente de
prevenção e combate ao álcool e às drogas na infância e adolescência. “O
objetivo é conscientizar profissionais da saúde e a sociedade civil sobre os
efeitos nocivos do consumo precoce de drogas lícitas e ilícitas por crianças e
jovens”, explica Cláudio Barsanti, presidente da instituição. Para se ter uma
ideia, no Brasil, 67% dos estudantes de 13 a 15 anos de idade já experimentaram
alguma bebida alcoólica. Desses, 22% já tiveram algum episódio de embriaguez na
vida. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2013.
Franqueza e transparência.
Exercer influência sobre o comportamento dos
adolescentes não significa necessariamente que os pais devam manter-se
abstêmios ou parar de beber na frente dos filhos. “Mais importante é os adultos
pensarem no tipo de relação que têm com o álcool e como isso é transmitido e
compreendido pelos jovens”, afirma a psiquiatra Carolina Hanna, pesquisadora do
CISA.
Diante de um pai que bebe compulsivamente em
situações sociais ou que precisa de uma dose todos os dias quando chega do
trabalho, o filho pode entender que só é possível se divertir bebendo ou que
trabalhar é algo tão desgastante que merece ser aliviado com a ingestão de
álcool. “Esse tipo de mensagem fica grudada na mente dos jovens, ainda mais se
repetidas desde a infância”, diz Mariana.
Além do exemplo negativo, os adultos erram ao
naturalizar o uso abusivo do álcool, criando um ambiente permissivo para os
jovens. “Os pais têm que assumir o papel de responsáveis, desaprovar o uso
precoce do álcool, impor limites, sanções, e monitorar o que seus filhos estão
fazendo”, afirma Carolina Hanna. A médica explica que a vulnerabilidade ao
álcool, assim como a outras drogas, diminui consideravelmente em famílias cujos
pais têm um estilo de vida saudável, com a prática constante de atividades
prazerosas, além de diálogo e afeto.
Por isso, vale investir em um ambiente familiar
equilibrado, baseado em definição de regras claras, respeito mútuo e relações
verdadeiras.
Para os pais de adolescentes, a recomendação dos
especialistas é abordar o tema de modo claro, sem mentiras, hipocrisia e
amedrontamento. Durante a conversa, os pais devem ser francos, podem contar
suas experiências, manifestar suas opiniões e suas preocupações.
A adolescência é por si só um momento de
turbulências e transformações para o jovem (no corpo, nas relações, na escola,
etc.). Daí a importância de os pais estarem atentos e dispostos a ajudar,
diminuindo a chance de a bebida ser encarada como um diluidor de aflições ou
uma solução rápida para aliviar as angústias.
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