FONTE: Do UOL, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Há pessoas que
conseguem se divertir com os formatos das letras mais do que outras. Elas
possuem uma mistura de sentidos associados ao som das palavras que os
cientistas chamam de sinestesia. Neurocientistas da Universidade de Emory, nos
EUA, descobriram que os sinestésicos podem até ver cores e sentir o gosto das
sílabas --sem precisarem para isso de uma sopa de letrinhas no jantar.
Uma pesquisa liderada
pelo neurologista Krish Sathian pediu para 17 pessoas com sinestesia fazerem um
teste chamado IAT (teste de associação implícita, em português). No estudo,
publicado no European Journal of Neuroscience, a conexão entre as
letras ou outros símbolos e cores foi a mais comum.
Contudo, outras
conexões foram observadas. "As pessoas com sinestesia não são todas iguais",
diz o pesquisador Simon Lacey, um dos autores do artigo. Foram descritas
conexões entre formas e gostos e, até mesmo, sensações táteis percebidas ao ver
uma situação que geraria tal sensação -- como um beijo ou um tombo.
A pesquisa revela que
as pessoas com sinestesia exibem hiper-conectividade entre partes de seus
cérebros relacionadas às suas experiências sinestésicas. Os cientistas
acreditam que a sinestesia representa alterações na distribuição de conexões
cerebrais.
Origem da linguagem.
"Tem havido um
debate relacionado à sinestesia", diz Sathian. "Quem possui
sinestesia tem apenas uma versão extrema de correspondências que todas as
pessoas podem fazer, ou há algo qualitativamente diferente, ligado ao
significado das palavras?", questiona o pesquisador.
Tendo essa indagação
em mente, os pesquisadores da Universidade de Emory buscaram testar se o estudo
da sinestesia poderia ajudar a esclarecer as origens evolutivas da linguagem.
Explicando: todas as
pessoas conseguem fazer associações entre palavras e formas ou posições no
espaço. Basta pensarmos que letras como "m" e "l" são
normalmente consideradas mais "suaves" e "arredondadas". Já
o "k" e o "t" são vistos como formas mais pesadas e
angulares. A questão a ser explorada era se quem possuía sinestesia poderia ir
além de uma sensação extremada dessas conexões.
Nos testes, os
"sinestésicos" não foram significativamente mais sensíveis às
associações puramente sensoriais entre o tom de um som e o tamanho ou a posição
de uma forma, em comparação com os não-sinestésicos.
Contudo, Sathian e
seus colegas descobriram que as pessoas com sinestesia foram mais sensíveis às
correspondências entre os sons de pseudopalavras --palavras sem significado-- e
formas arredondadas ou angulares. As associações que estas pessoas faziam
também eram mais consistentes em comparação com quem não possui sinestesia.
"Isso mostra que
algo da sinestesia está transbordando para outro domínio", diz ele .
"Esse transbordamento é simbólico, não é puramente sensorial", diz
Sathian. Tais correspondências, chamadas de "som-simbólicas", podem
ajudar a esclarecer as origens evolutivas da linguagem, explica o pesquisador.
Outra forma de ler e
ouvir.
Estima-se que de 1% a
4% das pessoas tenham sinestesia. Ela pode ser herdada, embora os genes que a
caracterizam ainda não tenham sido identificados. Muitos artistas e
compositores descreveram suas experiências com sinestesia, e crianças relatam
distrações quando estão tentando ler.
A compreensão das
origens da sinestesia pode ajudar pessoas com dislexia ou outras
características que dificultam a aprendizagem. Também pode auxiliar pessoas que
perderam a visão ou a audição e que estão em reabilitação.
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