Se alguém te pedir para citar algum defeito na entrevista de emprego,
diga que é perfeccionista. O conselho já se tornou batido, mas não dá mais para
duvidar de quem usa a resposta. Estudos têm mostrado que o nível de
perfeccionismo aumentou bastante entre as novas gerações e essa epidemia traz
consequências graves para a saúde mental dos jovens.
Um grupo de pesquisadores das universidades de York St John, no Reino
Unido, e Dalhouse, no Canadá, estuda esse tema há bastante tempo e, no início
deste ano, publicou novos resultados que confirmam a tese. A equipe analisou um
total de 77 estudos científicos, que envolveram mais de 25 mil participantes, a
maioria estudantes canadenses, britânicos e norte-americanos com idades entre
15 e 49 anos.
Os resultados mostram que, nos últimos 25 anos, houve um aumento
significativo nos três aspectos do perfeccionismo: a autocrítica exagerada, o
nível de exigência mais alto em relação aos outros e, ainda, a tendência achar
que a sociedade tem cobrado um desempenho melhor da gente. Homens e mulheres
são igualmente afetados por essa tendência, segundo os dados.
A análise descreve os três principais culpados por trás do fenômeno: os
pais, que têm cobrado mais dos filhos e, muitas vezes, exageram nas
expectativas projetadas neles; a cultura atual, que supervaloriza o sucesso; e,
claro, as mídias sociais, que levam as pessoas a se compararem o tempo todo com
as outras. Nessas plataformas, todo mundo parece bonito, feliz e bem-sucedido.
Se o perfeccionismo pode trazer alguma vantagem inicial (como, por
exemplo, fazer um jovem conseguir um bom emprego), com o passar do tempo, tudo
vira do avesso. Quem se impõe metas inatingíveis acaba acumulando mais
fracassos, segundo a análise. E o risco de transtornos como depressão,
anorexia, bulimia aumenta, bem como o suicídio.
Os pesquisadores dizem que, conforme esses jovens perfeccionistas
envelhecem, eles tendem a se tornar mais neuróticos, isto é, mais propensos a
emoções negativas como culpa, inveja e ansiedade. Tudo isso acaba tendo impacto
em qualidades como disciplina, organização e eficiência. No fim, o feitiço se
volta contra o feiticeiro.
Os especialistas alertam que está na hora de fazer um grande esforço para
reduzir a pressão sobre os jovens. Eles recomendam, por exemplo, que os pais
tomem cuidado com a crítica e a superproteção, e que deem mais valor ao esforço
demonstrado pelos filhos, em vez de se concentrar tanto nos resultados. Outra
dica é estimular, desde cedo, o espírito crítico entre os adolescentes, para
que eles aprendam a questionar a suposta perfeição apresentada em novelas,
anúncios e nas redes sociais.
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