Petição
pede suspensão da instalação de equipamentos para a próxima geração da telefonia
móvel.
Parem a instalação de
novas antenas, o 5G causa câncer! Este é o alerta de um abaixo-assinado
promovido pelo grupo Cellular Phone Task Force, fundado em 1996 pelo americano
Arthur Firstenberg. Até o fim do mês passado, a petição já havia alcançado mais
de 40 mil assinaturas de ao menos 110 países, incluindo associações médicas e
ambientais. Firstenberg argumenta que a próxima geração da telefonia móvel irá
potencializar a exposição de humanos e do meio ambiente à radiação por radiofrequência,
e, de fato, existem estudos científicos que correlacionam a radiofrequência com
surgimento de tumores, mas há razão para pânico?
A questão é
controversa. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, ligada à
Organização Mundial da Saúde, classifica desde 2011 os campos eletromagnéticos
da radiofrequência como “possivelmente carcinogênicos para humanos”, com base
na correlação do uso de telefones celulares com o aumento do risco para o
glioma, um tumor agressivo que atinge o cérebro. Tal classificação pode parecer
assustadora, mas é a mesma do café, da planta Aloe vera, da gasolina e do
talco.
De acordo com a agência
americana responsável pela regulação de alimentos e medicamentos (FDA, na sigla
em inglês), “os resultados da maioria dos estudos conduzidos até agora indicam
que não existe” conexão entre “certos problemas de saúde e a exposição a campos
de radiofrequência via uso de telefones celulares”. Contudo, uma pesquisa
recente conduzida pelo Programa Nacional de Toxicologia dos EUA, órgão dos
Institutos Nacionais da Saúde, concluiu que a exposição a altos níveis de
radiação por radiofrequência resultou no desenvolvimento de tumores em ratos.
No experimento, com
ratos e camundongos, os níveis de exposição foram de 1,5 a 6 watts por quilograma
em camundongos e de 2,5 a 10 watts por quilograma em ratos, ao longo de nove
horas diárias. Foram testadas frequências e modulações de redes 2G, 3G, 4G,
4G-LTE e 5G. As conclusões apontaram “clara evidência de tumores no coração em
ratos machos; e algumas evidências de tumores no cérebro e na glândula adrenal
de ratos machos”. Camundongos e ratos fêmeas não foram afetados, e os
cientistas envolvidos destacam que os resultados não podem ser extrapolados
para humanos.
— Os níveis e a duração
da exposição foram muito maiores do que as pessoas experimentam mesmo com os
mais altos padrões de uso do telefone celular, e os roedores foram expostos em
todo o corpo. Então, esses achados não podem ser extrapolados diretamente para
humanos — afirmou John Bucher, cientistas sênior do Programa Nacional de
Toxicologia. — Notamos, entretanto, que os tumores que vimos nesses estudos são
similares a tumores reportados anteriormente em alguns estudos com usuários
frequentes de celulares.
Outro estudo publicado
recentemente, conduzido pelo grupo espanhol ISGlobal, concluiu que não há
associações claras entre a exposição laboral a campos de alta frequência de
campos eletromagnéticos e o risco de glioma ou meningioma, num experimento que
envolveu quase dez mil participantes. Os cientistas buscaram correlações de
profissionais que trabalham em locais de alta exposição, como radares, antenas
de telecomunicações e até mesmo fornos de micro-ondas, com o surgimento de
tumores. Cada participante foi ranqueado, por estimativa de exposição à
radiação no trabalho.
— Apesar de nós não
termos encontrado uma associação positiva, o fato de termos observado indicação
de um aumento do risco no grupo com exposição à radiofrequência mais recente
merece mais investigações — afirmou Javier Vila, autor principal do estudo.
Prevenir com bom uso
dos celulares.
Especialista em
telecomunicações e nos efeitos biológicos de radiação não ionizante, o
professor Alvaro Augusto Salles, do departamento de Engenharia Elétrica da
UFRGS, é taxativo: as evidências indicam efeitos nocivos da radiação por
radiofrequência para a saúde humana. Ele explica que as normas que regulam o
setor, em relação aos limites de exposição à radiação, foram elaboradas há mais
de duas décadas, mas nesse tempo o padrão de uso dos telefones celulares mudou
completamente. Segundo estimativas, existem no mundo mais de 7 bilhões de
telefones celulares em operação, praticamente um para cada habitante do
planeta. Pelo sim ou pelo não, o melhor é prevenir.
— Eu não digo para as
pessoas não usarem o celular, mas para usarem bem — afirmou Salles. — A pior
situação é quando encostamos o aparelho no nosso corpo, por isso é recomendável
que as pessoas façam mais uso dos aplicativos de mensagem, do viva voz e do fone
de ouvido, evitando ao máximo colocar o telefone no ouvido.
Até então, a OMS afirma
que o uso de celulares não é mais perigoso que tomar café, mas existem indícios
de que altos níveis de exposição possam provocar danos à saúde. E esse é o
temor em relação ao 5G. Para atender o requisito de baixa latência — o tempo de
resposta da rede —, a próxima geração da telefonia móvel irá operar em altas
frequências, que possuem menor alcance. Por isso, serão necessárias mais
antenas.
“Se os planos da
indústria de telecomunicações se concretizarem, nenhuma pessoa, animal,
pássaro, inseto ou planta na Terra será capaz de evitar a exposição, 24 horas
por dia, 365 dias por ano, a níveis de radiação por radiofrequência que são de
dez a milhares de vezes maiores do que existem hoje, sem qualquer possibilidade
de escapar”, diz a petição da Cellular Phone Task Force. “Os planos do 5G
ameaçam provocar efeitos sérios e irreversíveis nos humanos e danos permanentes
a todos os ecossistemas da Terra”.
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