A prevalência de
obesidade é crescente em praticamente todo o mundo. Uma estimativa recente indica
que, a cada ano, 42% da população mundial faz alguma tentativa para emagrecer.
Esse número realmente impressiona. Mas o grande problema é que mesmo tendo
atingido sucesso na perda de peso, a maioria das pessoas acaba reganhando o
peso ao longo do tempo, e somente uma pequena minoria consegue manter o peso
pelos próximos anos.
Uma revisão de várias
pesquisas indicou que mais de 50% do peso é recuperado após dois anos e que
mais de 75% do peso é recuperado ao longo de cinco anos. A recuperação do
peso ocorre tanto após tratamento com mudança de estilo de vida (dieta aliada a
exercícios), mas também com tratamentos mais invasivos como cirurgia
bariátrica.
E por que é tão difícil
emagrecer de uma vez por todas? Uma das razões é não encarar a obesidade como
uma doença crônica e como tal, uma condição que necessita de tratamento
contínuo. Assim como diabetes, pressão alta e colesterol
alto, que exigem tratamento pela vida toda, a obesidade também precisa ser
tratada de forma contínua, independente da modalidade de tratamento indicada
(mudança de estilo de vida, remédios ou cirurgia).
Infelizmente, existe
muito estigma em torno do tratamento da obesidade. Muitos acreditam
erroneamente que o problema está na "força de vontade". Mas obesidade
não é uma escolha.
Existem mecanismos
complexos que regulam o apetite e o metabolismo e acabam por impactar
diretamente no peso do indivíduo. Só para dar um exemplo, estudos com
ressonância magnética funcional trouxeram muitas contribuições para o
entendimento de como o cérebro de quem sofre com obesidade funciona
diferente daqueles que tem peso normal. Ao visualizar um alimento mais
calórico, rico em açúcar e gordura o cérebro de quem tem obesidade ativa de
maneira muito mais intensa uma região cerebral envolvida em prazer e
recompensa, aumentando a motivação para comer. Isso faz com que a pessoa,
mesmo antes de comer, só ao visualizar aquele prato gostoso, tenha uma vontade
bem maior de comer e menor controle sobre a escolha do que comer.
Os mesmos estudos
mostram também que quando a ressonância é realizada durante o consumo desse
alimento tão desejado, a ativação de áreas envolvidas com prazer é bem menor
que aquela vista em pessoas de peso normal. Portanto, o que esses estudos
mostraram é que o prazer esperado antes de comer não é o obtido durante o
consumo, levando com que a pessoa coma mais.
Mas esse é apenas um
exemplo. Existem pessoas que sofrem com obesidade e não comem errado ou em
grande quantidade. O metabolismo é diferente. A capacidade de obter energia
vinda dos alimentos é muito eficiente e faz com que a pessoa tenha bem mais
facilidade de estocar gordura. Isso tem um componente genético muito forte.
Além disso, algumas
pessoas têm muita dificuldade de mobilizar os estoques de gordura. Chamamos de
lipólise a quebra da gordura que está depositada. Pesquisas recentes têm
demonstrado que algumas pessoas com obesidade têm esse mecanismo de lipólise
muito ineficiente e, portanto, mesmo diante de uma dieta de baixas calorias,
acaba tendo muita dificuldade para emagrecer.
É muito importante
respeitar quem luta contra a obesidade. Não é uma questão de falta de força de
vontade. É uma doença complexa. Cada vez mais a ciência comprova novos
mecanismos que contribuem para o desenvolvimento do problema. Encarar que
obesidade é doença crônica e que deve ser tratada de forma contínua é um
primeiro passo que precisa ser dado.
Sobre
a autora.
Cintia Cercato é médica
endocrinologista pela USP (Universidade de São Paulo), que se dedica à
obesidade desde que defendeu doutorado nessa área em 2004. É a professora
responsável por essa disciplina na pós-graduação da Faculdade de Medicina da
USP, onde desenvolve várias pesquisas sobre o tema. Foi presidente da
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
(Abeso) e atualmente é diretora do departamento de obesidade da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
- Site: www.cintiacercato.com.br
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Sobre o blog.
Este é um espaço com
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da obesidade. Todas as publicações têm como base a melhor evidência científica
disponível, garantindo informações de credibilidade.
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