Novos testes
em animais e em células de melanoma em cultura mostraram que uma molécula
conhecida como RMEL3, presente na maioria dos casos desse tipo agressivo de câncer
de pele, tem função importante na sobrevivência e na proliferação do tumor. As
novas descobertas sugerem que a inibição do RMEL3 pode ser uma nova opção de
tratamento, auxiliando nos casos resistentes ao medicamento mais usado hoje.
O estudo teve a colaboração
de pesquisadores da Harvard Medical School e da Universidade do Texas, ambas
nos Estados Unidos, do Hospital do Câncer de Barretos, da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (FCFAr-Unesp) e
do Centro de Terapia Celular (CTC).
Os cientistas
observaram que a molécula RMEL3, quando é introduzida em células não tumorais
[que normalmente não o expressam], ela passa a sobreviver como se fosse uma
célula tumoral, isto é, dispensa estímulos dos fatores de crescimento do meio
extracelular, de acordo com Enilza Espreafico, professora da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e
coordenadora do estudo.
Em outro experimento, o
grupo introduziu o RMEL3 em uma linhagem de células de melanoma que normalmente
apresenta baixa expressão desse RNA. "Essas células passaram a proliferar
mais em cultura e, quando implantadas em animais, geraram tumores que cresceram
mais rápido que os tumores das células parentais [sem RMEL3]", disse Espreafico.
Segundo a professora,
um dos medicamentos usados atualmente para o tratamento do melanoma é o
vemurafenib, capaz de inibir diretamente as formas mutadas da proteína BRAF
--presentes na maioria dos melanomas. No entanto, poucos pacientes se beneficiam
desse tratamento no longo prazo devido à resistência desse tipo de câncer ao
fármaco. "Podemos criar uma molécula para silenciar o RMEL3 e usá-la como
um tratamento complementar. Essa abordagem talvez possa diminuir a resistência
da célula tumoral", disse.
O RMEL3 pode ser uma
boa alternativa como alvo para medicamentos porque é um RNA muito específico do
melanoma, não sendo encontrado em praticamente nenhum tecido saudável. Essa
característica sugere que sua inibição não afeta outros tecidos e não causa
efeitos sistêmicos importantes.
"Essa propriedade
de ser expresso de modo tecido específico e câncer específico é observada para
muitos RNAs longos não codificantes e os tornam excelentes alvos
terapêuticos", disse.
Testes
in vivo.
Para a realização dos
testes em animais, um grupo de camundongos recebeu uma injeção com células de
melanoma previamente infectadas com um vetor viral que carregava o gene RMEL3.
Já outro grupo controle recebeu células infectadas apenas com o vetor viral
vazio (sem o RMEL3).
Os dois grupos de
receberam a mesma quantidade de células malignas. Nos primeiros 15 dias, os
tumores cresceram de modo relativamente semelhante. Depois, porém, os que
tinham o RMEL3 começaram a aumentar em maior proporção. Ao fim do experimento,
no 24º dia, já tinham um volume significativamente superior ao do grupo
controle.
Atualmente, o grupo
está trabalhando para definir os mecanismos moleculares de ação do RMEL3, um
passo importante para o desenho de drogas e a proposição de testes clínicos.
*Com
informações da Agência Fapesp.
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