FONTE:
Fernanda Cruz, da Agência Brasil, em São Paulo (noticias.uol.com.br).
Cientistas da USP
(Universidade de São Paulo) desenvolveram uma nova técnica para o tratamento da
depressão. Uma estimulação elétrica indolor feita com a ajuda de dois
eletrodos, colocados na cabeça do paciente, poderá servir como alternativa para
quem sofre da doença, mas não toma os medicamentos antidepressivos devido aos
fortes efeitos colaterais.
De acordo com o
coordenador da pesquisa, o médico psiquiatra Andre Russowsky Brunoni, pessoas
jovens, as mais acometidas pela depressão, evitam remédios para a doença porque
muitas vezes eles vêm acompanhados de ganho de peso e disfunção sexual.
Mulheres grávidas ou que estão amamentando também são impedidas de ingerir essa
medicação.
Segundo o cientista,
os eletrodos transmitem uma corrente elétrica contínua de baixa intensidade
para a área do cérebro que envolve a depressão, o córtex dorso lateral
pré-frontal. A corrente corrige o baixo funcionamento dessa região cerebral,
característica de quem sofre de depressão. "A estimulação elétrica aumenta
a atividade dessa área do cérebro. Com isso, a gente tenta melhorar os sintomas
depressivos", explicou.
O procedimento dura
30 minutos e é repetido por 15 dias consecutivos. "Algumas pessoas sentem
um leve formigamento na cabeça, mas outras não sentem absolutamente nada",
conta.
Outra vantagem da
nova técnica em relação aos antidepressivos é a forma de atuação no organismo.
Enquanto o remédio age em neurotransmissores que atuam no cérebro inteiro,
ocasionando reflexos negativos em outras partes do corpo, a estimulação
elétrica atua diretamente no córtex pré-frontal.
Além disso, embora o
resultado de ambos os tipos de tratamentos (remédio e estimulação elétrica)
seja o mesmo, o medicamento acaba passando por outras áreas subcorticais para
só depois chegar ao córtex pré-frontal.
Esta não é a primeira
vez que a eletricidade é usada no tratamento de transtornos mentais. Russowsky
cita a tradicional técnica do eletrochoque, usada há 75 anos por psiquiatras.
De acordo com ele, esse é um tratamento bem mais radical do que a estimulação
que está sendo desenvolvida pela USP, destinado a pacientes com quadros muito
graves. "É uma carga elétrica mil vezes maior do que a gente usa", disse.
O tratamento por
eletrochoque tem como objetivo provocar uma crise convulsiva em pacientes que
apresentam casos graves de transtornos mentais, o que estimula a regulação de
hormônios e de alguns neurotransmissores. "A única semelhança entre as
duas técnicas é que elas usam a eletricidade, mas de forma bem diferente. O
eletrochoque é um pulso elétrico para fazer uma crise convulsiva, a gente usa
uma corrente elétrica de baixa intensidade para aumentar a atividade no
cérebro", define.
A estimulação criada
pelo grupo de Russowsky já foi testada, há três anos, em 120 pacientes. "O
resultado principal foi que a combinação da estimulação com o antidepressivo
dava efeitos mais potentes que cada tratamento separado", disse o médico.
O próximo passo da
pesquisa será testar a estimulação sozinha. Serão recrutados 240 voluntários,
entre 18 e 75 anos, com diagnóstico de depressão, no mínimo, moderada e que
apresentem sintomas da doença.
Em um teste cego,
metade dos pacientes vai receber o antidepressivo Escitalopram, e a outra
metade recebe a estimulação elétrica. "Nem o paciente, nem o pesquisador
saberão o que estão recebendo, senão favorece inconscientemente um dos
grupos", esclarece.
Ao final da pesquisa,
aqueles voluntários que foram testados com o antidepressivo, e que não tiveram
melhora do seu quadro, poderão receber o tratamento com a estimulação elétrica.
Nos próximos três
anos, as equipes de Russowsky vão aceitar voluntários interessados em
participar da pesquisa. Basta enviar e-mail para pesquisa.depressao@gmail.com. Mais informações estão disponíveis no
site.
Nenhum comentário:
Postar um comentário