"Imagine que seu médico prescreveu esses remédios", disseram
os pesquisadores a pessoas com idades entre 55 e 74 anos que estavam
participando de uma experiência em vários centros de saúde de Chicago.
"Por favor me mostre quando você tomaria esses medicamentos ao
longo de um dia." Depois de ler as instruções em sete bulas de pílulas,
foi pedido que os participantes as dividissem em uma caixinha de remédios com
24 espaços, um para cada hora do dia.
O ideal é que os sete remédios fossem divididos em apenas duas doses por
dia. Mas só 15% dos 464 participantes pensaram nesta possibilidade. O mais
comum foi a decisão de tomar as pílulas seis vezes por dia; um terço organizou
os medicamentos em sete doses diárias.
Dois dos remédios tinham instruções idênticas, mas um terço dos
participantes não percebeu que eles poderiam ser tomados juntos. Quase 80% não
entendeu que eles poderiam tomar duas pílulas juntas se uma bula dizia "a
cada 12 horas" e outra "duas vezes por dia" – mesmo que, nesse
contexto, elas significassem a mesma coisa.
"Aprendemos de novo como é desafiador manter uma rotina de
medicamentos", conta Michael Wolf, epidemiologista da Escola de Medicina
Feinberg na Universidade Northwestern, que liderou a experiência.
A adesão aos remédios, uma ampla preocupação de saúde pública, é um
problema especial para pessoas mais velhas. Eles tomam mais remédios do que os
pacientes mais novos – não é incomum que tenham sete receitas. Ainda assim os
estudos têm mostrado repetidamente que "quanto mais vezes por dia você tem
que usar remédios, menor a sua adesão", explica Wolf.
Quando os pacientes não conseguem pensar em um plano que funcione, ou se
ater a um, pode haver consequências ruins.
O remédio X parece não fazer efeito, levando o médico a prescrever
também o Y quando o problema real é que o paciente não entendeu a dose ou não
está tomando o suficiente de X. Ou um paciente mais velho simplesmente desiste
de uma rotina complexa de remédios e fica sem medicamentos ou com menos do que
o necessário, arriscando-se a cair severamente doente.
"Eu vejo isso todos os dias em minha prática clínica. Existe uma
possibilidade tremenda de confusão", diz o doutor William Hall, geriatra
que dirige o Centro para o Bem Estar da Vida da Universidade de Rochester em
Nova York.
Vamos deixar claro que algumas das razões pelas quais os idosos tomam
seus remédios de maneira errada são difíceis de resolver.
Os custos, por exemplo. Apesar de o Medicare e o Obamacare resolverem
parte do problema, alguns idosos não conseguem pagar por seus remédios com a
frequência necessária.
Ou pior: "Talvez você não compre os remédios porque o farmacêutico
diz que não está no seu formulário do Medicare e você terá que pagar do seu
bolso", explica Tood Semla, farmacêutico e ex-presidente da Sociedade
Americana de Geriatria.
Problemas cognitivos, claro, também afetam a habilidade dos pacientes
mais velhos de lidar com seus medicamentos. Os idosos podem deliberadamente
parar de tomar remédios quando não gostam dos efeitos colaterais.
Mas os lapsos com os medicamentos também acontecem por problemas que, em
um mundo mais racional, deveriam ser muito simples de resolver. Os
pesquisadores e reformadores descobriram maneiras fáceis.
- O calendário universal dos medicamentos: ao invés de pedir
aos pacientes para decifrar bulas complexas (algumas usam abreviações em latim,
como TID para três vezes ao dia), elas deveriam ter quatro padrões de tempo –
de manhã, ao meio-dia, de noite, na hora de dormir – para tomar os remédios.
Quase todos os medicamentos podem seguir esse calendário, que ajuda os
pacientes a agrupar as pílulas para que não seja necessário tomar as doses
frequentemente, pular algumas ou desistir totalmente.
Em uma conferência do Instituto Nacional de Saúde no mês passado, Wolf e
seus colegas relataram um teste (ainda não publicado) envolvendo 845 pacientes
no norte da Virgínia. Aqueles que receberam a chamada bula focada no paciente
usando o calendário universal – em letras grandes – erraram significativamente
menos na hora de usar seus remédios.
As melhoras mais notáveis aconteceram entre pacientes com maior risco de
não adesão aos remédios: os menos escolarizados e com rotinas complexas.
A Califórnia começou a pedir (não exigir) que se use o calendário
universal – junto com bulas mais simples e com letras grandes – em 2011, apesar
da resistência da indústria de medicamentos. Mas até agora nenhum outro estado
fez o mesmo.
– Uma aparência consistente: pessoas mais velhas geralmente usam
o tamanho, o formato e a cor das pílulas para lembrar o que tomar e quanto. Mas
como as farmácias constantemente negociam preços mais baratos em medicamentos
genéricos e frequentemente trocam de fornecedores, a aparência das pílulas muda
muito.
Em um estudo com mais de 11 mil pessoas que saíram de hospitais depois
de um ataque cardíaco e a quem foram prescritos remédios cardiovasculares, por
exemplo, 29% tomou pílulas que mudaram de formato ou cor durante o primeiro
ano. Os pacientes precisam tomar esses remédios por anos, então facilmente irão
se deparar com essas alterações.
"O primeiro ano depois de um infarto do miocárdio é um período na
vida da pessoa em que a adesão aos remédios é extremamente importante",
explica Aaron Kesselheim, interno e pesquisador de políticas de saúde do
Hospital Brigham and Women em Boston e principal autor do estudo.
Essas alterações cosméticas levam a problemas. Enquanto a maioria dos
pacientes permaneceu com suas rotinas, aqueles cujas pílulas mudaram de cor
eram 34% mais propensos a parar de tomá-las, comparados com um grupo de
controle. Quando as pílulas mudavam de formato, os pacientes tinham um risco
66% maior de abandoná-las.
Kesselheim e sua equipe sugerem que a FDA exija que os fabricantes façam
remédios genéricos iguais em cor e formato àqueles com nomes de marca que
substituem. Em junho o FDA produziu um guia de recomendações não obrigatórias,
afirmando que as mudanças em tamanho (não mencionava cor) poderiam afetar a
maneira como as pessoas seguiam a rotina.
"Achamos que não foi amplo o suficiente. As coisas se movem
lentamente", afirma Kesselheim, cuja equipe está desenvolvendo outro
estudo que podem fazer com que o FDA tome mais ações.
Enquanto espera por melhorias que poderiam ajudar os idosos a lidar com
suas rotinas de remédios, alguns se aproveitam de um programa gratuito
disponível por meio do Medicare.
A Terapia de Gerenciamento de Medicamento, oferecida por seguros
privados que cobrem os remédios, vai rever as prescrições, as doses, os custos
e outras questões para os idosos que possuem várias condições crônicas e tomam
muitos medicamentos. Isso poderia ajudá-los a se manter na rotina.
Ainda assim, deveria ser mais fácil fazer isso. "O incrível é que
ninguém faz direito", diz Hall.
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