Em meados de fevereiro,
eu não conseguia mais dormir à noite. Às 2 da manhã, me pegava bebendo leite
direto da caixinha para ver se conseguia apagar o fogo que sentia nas minhas
entranhas. A sensação torturante na boca do estômago se alternava com uma
náusea tão intensa que me obrigava a manter um balde ao lado do computador. Já
estava até pensando em fazer um teste de gravidez, mesmo que tivesse 99 por
cento de certeza de que não estava grávida.
Um dia, na plataforma
do metrô, me contorci e soltei um gemido tão patético que levou um completo
estranho a perguntar se estava tudo bem comigo. Foi nesse momento que percebi
que precisava de ajuda médica. Nova-iorquinos não falam com desconhecidos no
metrô, eu repetia para mim mesma. É como romper a quarta parede.
No dia seguinte, meu
clínico-geral me disse que eu provavelmente tinha uma úlcera, uma ferida na
parede do estômago ou do intestino delgado. A seguir, algumas coisas que
aprendi a respeito da úlcera durante a odisseia que se seguiu.
Qualquer
pessoa pode ter uma úlcera.
Nos anos 1980, quando
os médicos e a maioria das pessoas acreditavam que estresse psicológico e
comidas muito temperadas causavam úlceras, dois cientistas australianos
revelaram que a maior culpada na verdade era uma bactéria chamada Helicobacter
pylori. Essa descoberta levou a um Prêmio Nobel in 2005, dando início a uma
nova era de uso de antibióticos.
Mas isso não foi
suficiente para eliminar as úlceras. Longe disso. Na verdade, minha tribo de
doentes estomacais é gigante. Quase 16 milhões de adultos nos EUA sofriam com
úlceras em 2014, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas de Saúde do
Centro de Controle e Prevenção de Doenças. O maior grupo, cerca de 6,2 milhões
de pessoas, tem entre 45 e 64 anos. O grupo de pacientes entre 18 e 44 anos de
idade corresponde a 4,6 milhões de pessoas, o de 65 a 74 corresponde a 2,6
milhões, e o de mais de 75 a 2,4 milhões.
Fiz um exame de sangue
para ver se estava infectada com o H. pylori; o resultado foi negativo, então
eu não precisava de antibióticos. O uso regular de medicamentos
anti-inflamatórios não esteróides, como ibuprofeno e aspirina, também pode
causar úlceras, mas esse não era o meu caso. A minha úlcera revelou ser
"idiopática", uma forma chique de os médicos dizerem que não sabem o
que está acontecendo.
–
Demora até descobrirmos o que podemos comer.
Meu médico disse que eu
precisava da terapia padrão: omeprazol, um medicamento que controla a acidez,
durante um mês para que a ferida aberta no meu estômago tivesse tempo para se
recuperar. Embora algumas úlceras não tratadas acabem causando sangramento
intenso e exijam até cirurgia e hospitalização, ele me garantiu que eu melhoraria
logo.
Enquanto isso, eu
precisava descobrir como me alimentar. Mas com a úlcera, descobri que estava
fazendo parte de um reality show maldito chamado "O Que Comer?". Se
escolhesse mal, meu estômago queimaria como lava, me deixando prostrada. Se
escolhesse bem, seria premiada com um alívio temporário, até que a fome
chegasse outra vez. O "jogo" recomeçava em intervalos de poucas
horas.
Para piorar, não sabia
quais alimentos podia comer, até prová-los. Por exemplo, porque um pacote
aparentemente inócuo de amendoins me levou a tanta agonia?
A verdade é que os
gastroenterologistas não sabem por que determinados tipos de comida causam
indigestão e queimação em pacientes com úlcera. Mas existem algumas regras:
evite beber álcool, qualquer coisa com cafeína ou rica em gordura.
Alimentos gordurosos
"ficam muito tempo no estômago", afirmou Lori Welstead, nutricionista
que trabalha no centro de doenças digestivas da Faculdade de Medicina da
Universidade de Chicago. Será que era esse o problema com o amendoim?
O Dr. David Y. Graham,
antigo presidente do Colégio Americano de Gastroenterologia, resumiu bem a
questão: "A regra geral é: não coma o que te faz mal".
Pacientes com úlcera
são cobaias de si mesmo, realizando testes até encontrar algo que alimenta, mas
não causa desconforto. Demorei semanas para perceber isso.
Barriga
vazia não ajuda, e pode até atrapalhar.
Como uma alma que sofre
por amor e jura que nunca mais irá namorar para evitar a dor, comecei a comer
cada vez menos. O mesmo aconteceu com Megan McMillen, enfermeira em Morgantown,
Virgínia Ocidental, quando descobriu que tinha uma úlcera.
"Dá muito medo do
que pode acontecer sempre que comemos", afirmou. Por isso, ela passou dois
dias sem se alimentar. O lado negativo da fome era a náusea – e o estômago
vazio dói duplamente.
Sem comida no estômago,
a úlcera fica coberta de suco digestivo, afirmou o Dr. David Greenwald, diretor
de gastroenterologia clínica e endoscopia no Hospital Mount Sinai, em Nova
York. "É muito comum ouvir esse comentário de pacientes com úlcera, que
qualquer alimento melhora os sintomas temporariamente."
Não coma antes de
dormir.
Outro erro grave: comer
antes de dormir, afirmou Graham, professor de gastroenterologia da Faculdade de
Medicina Baylor, em Houston.
"Se você quer
sofrer durante a madrugada, coma antes de dormir", afirmou. Isso porque
quando você se alimenta, seu estômago produz muito ácido para digerir a comida.
Mas "assim que a comida é digerida", afirmou, os níveis de acidez
continuam elevados. Como resultado, você provavelmente vai acordar morrendo de
dor.
Não
se preocupe com alimentos ácidos.
Eu nunca havia confiado
no Dr. Google até então, mas estava desesperada. Encontrei um gráfico de pH na
internet que mostrava quais alimentos eram ácidos, quais eram neutros e quais
eram alcalinos. Quanto menor fosse o pH, em uma escala de 3 a 10, mais ácido
seria o alimento e, portanto, mais eu deveria evitá-lo, afirmava o gráfico.
Esse pequeno gráfico
colorido se tornou minha bíblia. Cortei o queijo de cabra, o atum enlatado,
carne de vaca, de porco e todos os nozes, menos amêndoas, que foram
classificadas como alcalinas. Minha refeição ideal era um abacate inteiro com
meio quilo de morangos.
Infelizmente, demorou
uma semana para esta pretensa jornalista de saúde se perguntar se o gráfico de
pH ou qualquer outro gráfico alimentar on-line tinha base em pesquisas reais.
Welstead, a
nutricionista de Chicago, resolveu minha vida: "O pH dos alimentos não é
um dado relevante para terapias alimentares ou em qualquer campo da medicina. O
suco gástrico é tão ácido, que os alimentos que ingerimos não são capazes de
alterar sua acidez".
A má notícia é que caí
em um abismo de desinformação. Me senti um pouco melhor depois de conversar com
Laurie Keefer, psicóloga de saúde especializada em doenças digestivas na
Faculdade de Medicina Icahn, no Hospital Mount Sinai, que me contou que seus
pacientes com úlcera muitas vezes se sentem "descontrolados".
Keefer me aconselhou a
não causar mais estresse "tentando controlar coisas que não vão alterar em
nada os sintomas". Como gráficos de pH furados.
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Não ignore o estresse.
"Não há qualquer
evidência de que o estresse e a ansiedade causam úlceras", afirmou
Greenwald. Mas ele e outros especialistas afirmam que o estresse pode agravar
os sintomas.
"Se você está
sentindo algum desconforto causado pela úlcera e está se sentindo ansioso ou
estressado por causa da úlcera, os sintomas podem se tornar um pouco mais
pronunciados", afirmou Greenwald.
Na verdade, "um
número cada vez maior de especialistas em saúde comportamental está fazendo
parte das práticas gastroenterológicas. Chamamos isso de
psicogastroenterologia", afirmou Keefer.
Ela faz parte do
programa gastrointestinal de Hospital Mount Sinai. Assim, depois que os
pacientes se consultam com um nutricionista para saber mais sobre a úlcera, a
doença de Crohn, ou a síndrome do intestino irritável, podem se consultar com
uma psicóloga. "É muito menos estigmatizante dessa maneira", afirmou.
"O estresse, a
ansiedade e a preocupação só atrapalham a recuperação. Estresse é qualquer
coisa que exige que o corpo se adapte. Se você está consumindo recursos por
causa do estresse, seu corpo não está se concentrando na recuperação",
afirmou Keefer.
Demorou cinco semanas
para minha úlcera sarar. Então, imagino que já posso comer um burrito carregado
de molho apimentado. Mas meu medo continua lá. Ainda não perdoei o iogurte
probiótico que deixou meu estômago em chamas um dia depois do diagnóstico. E
tenho certeza que nunca vou perdoá-lo.