Ingestão
exagerada de bebidas alcoólicas durante isolamento social pode afetar
imunidade, piorar condições de saúde, causar mudanças comportamentais e até
mesmo favorecer dependência.
Devido à pandemia
da Covid-19,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou recentemente que os governos
limitassem o acesso a bebidas alcoólicas pela população.
De acordo com a médica
nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora da Associação Brasileira de
Nutrologia, tal recomendação está relacionada à preocupação do órgão com o
abuso do álcool durante o período de isolamento social, que pode ser realmente
prejudicial à saúde. “O consumo de álcool aumentou
na quarentena, o que é problemático, visto que, entre outros problemas, a
substância pode afetar a imunidade. Isso porque o álcool, quando em excesso,
leva tempo para ser metabolizado pelo fígado e acaba entrando na corrente
sanguínea, causando danos e alterações em diferentes órgãos. O organismo então
passa a trabalhar em dobro na tentativa de retomar seu equilíbrio, assim
sobrecarregando os mecanismos de defesa e resultando na queda da imunidade”,
afirma a médica.
Além disso, de acordo
com Dr. Paolo Rubez, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica, as bebidas alcoólicas desregulam o sono,
favorecem o sangramento e causam desidratação. “O organismo precisa de água
para metabolizar o álcool. No entanto, se não houver água suficiente, o
organismo vai buscá-la nos tecidos periféricos para realizar o seu trabalho. E
esse é o grande problema, pois a perda d’água afeta a pele, diminuindo o viço e
colaborando para o ressecamento e a descamação”, explica. O médico ressalta
também que, quanto mais elevado o teor alcóolico da bebida, mais difícil a
recuperação da pele ou mais intenso o dano causado. “O consumo de bebidas
alcoólicas ainda favorece um processo inflamatório na
pele que, a longo prazo, pode causar envelhecimento precoce, com o surgimento
de rugas, flacidez e linhas de expressão”, afirma a dermatologista Dra. Paola
Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Por favorecer a
desidratação, o álcool, além de aumentar a incidência de câimbras e dores
musculares, ainda pode fazer com que o organismo retenha mais líquidos. “Como
resultado, ficamos mais inchados e a pressão sobre as veias e artérias aumenta,
o que pode contribuir para o surgimento de problemas vasculares como varizes e
trombose”, afirma a cirurgiã vascular e angiologista Dra. Aline Lamaita, membro
da Sociedade Brasileira de
Angiologia e Cirurgia
Vascular. Existe ainda uma preocupação dos órgãos da saúde com relação às
mudanças comportamentais causadas pelo álcool, que pode tornar o indivíduo mais
intolerante e impulsivo, resultando, em muitos casos, em violência,
principalmente a doméstica. “O aumento no consumo de bebida alcoólica durante a
quarentena pode fazer com que o hábito se mantenha após o fim do período de
reclusão, o que, a longo prazo, pode transformar-se em dependência”, diz a Dra.
Marcella
E a desinformação não
ajuda. Circulam notícias na internet afirmando que o consumo de álcool seria
capaz de eliminar o novo Coronavírus do
corpo humano, o que pode fazer com que mais pessoas aumentem a ingestão da
substância durante o isolamento social. Mas a Dra. Marcella faz questão de
ressaltar que a informação é um mito e não há nenhuma comprovação cientifica
desse fato.
Porém, de acordo com a
especialista, certas bebidas alcoólicas, quando consumidas com moderação, podem
sim trazer benefícios à saúde. “O ideal então é limitar o consumo diário a, no
máximo, uma taça de até 150ml e optar sempre pelas variedades que apresentam
funcionalidades, como o vinho tinto e seco. O vinho tinto, na verdade, figura
entre as bebidas alcoólicas mais saudáveis, pois, é fermentado e rico em
polifenóis, como o resveratrol, que são substâncias com grande poder
antioxidante”, afirma. Segundo a Dra. Aline Lamaita, quando ingerido na
quantidade adequada, o vinho tinto ainda favorece a circulação e melhora a
saúde cardiovascular.
A cerveja, por ser
fermentada, também oferece benefícios à saúde, pois, assim como o vinho, também
possui polifenóis, porém em quantidades menores. Logo, tem propriedades e
funcionalidades benéficas ao organismo, lembrando que esses benefícios são
obtidos com quantidades próximas a 300ml, uma lata, por dia e volumes maiores
podem trazer maléficos que superam os efeitos positivos. “Os destilados, por
sua vez, não são fontes de polifenóis e possuem maior concentração de álcool em
sua composição, o que reduz seus benefícios à saúde. Além disso, bebidas como
cachaça, vodca, whisky e tequila tendem a ser absorvidas mais rapidamente e, no
geral, são mais agressivas para o fígado. Ou seja, devem ser evitadas ou
limitadas a quantidades menores que uma dose diária”, destaca a médica.
A Dra. Marcella Garcez
ainda afirma que, mesmo uma eventual e pequena quantidade de qualquer tipo de
bebida alcoólica deve ser acompanhada do consumo de água, pois a hidratação
adequada é fundamental para manter o organismo funcionando corretamente e
obviamente a ingestão de água não deve ser realizada apenas junto às bebidas
alcoólicas. “A água exerce diversas atividades essenciais que garantem o
funcionamento adequado do corpo humano, auxiliando, inclusive, na eliminação de
toxinas. Por isso, seu consumo deve ser constante ao longo do dia”, completa.
Além disso, o Dr. Abdo
Salomão Jr., membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que, após
a ingestão de álcool, o ideal é apostar em uma alimentação leve e balanceada.
“Como o fígado, que é o principal órgão responsável pela síntese de proteínas,
já estará sobrecarregado na tentativa de metabolizar o álcool, o recomendado é
que, depois de consumir bebidas alcóolicas, você evite alimentos pesados, como
carnes vermelhas, dando preferência a carnes brancas cozidas e grelhadas, além
de muita salada e fruta”, finaliza o médico.
*** Por: DRA.
MARCELLA GARCEZ, DRA. ALINE LAMAITA, DR. ABDO SALOMÃO JR, DRA. PAOLA
POMERANTZEFF, DR. PAOLO RUBEZ.
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