"Não consigo viver
sem essa pessoa". Em algum momento da vida, você já deve ter falado isso
ou até mesmo ouviu essa frase de alguém. Quando falamos de dependência
emocional, é muito comum relacionar o apego aos sentimentos de amor e amizade.
E isso pode ocorrer em
relações românticas, entre pais e filhos e até mesmo amizades. Normalmente uma
relação de dependência é embasada no amor, sim, mas o sentimento tem um fundo
patológico, transferindo para o outro toda sua fonte de felicidade. Ou seja, o
dependente só consegue se sentir pleno tendo aquela determinada pessoa em sua
vida.
Só que relações assim
fazem mal, já que nem sempre teremos aquela pessoa conosco. O problema é que
dificilmente alguém com dependência emocional consegue enxergar isso e buscar
ajuda. "A pessoa cria barreiras para situações que trariam benefício e
desenvolvimento à vida dela e demora muito para enxergar que fez isso",
ressalta Cristina Borsari, psicóloga da BP - A Beneficência Portuguesa de São
Paulo. Por isso é muito comum ver pessoas em relações longas e falidas, achando
que aquela situação é normal e com medo de reconhecer que ali tem um problema.
Como
reconhecer a dependência emocional nas relações.
Um dos processos mais
difíceis nesse tipo de relação é perceber que há, de fato, algo nocivo.
Geralmente relações de dependência acontecem com as pessoas mais próximas da
nossa vida e se misturam com amor e carinho. Mas lembre-se: sempre está
relacionada a algo ruim, já que a pessoa dependente cria expectativas irreais e
por isso sempre se sente triste ou deixada de lado pelo outro, ou então age de
forma possessiva, não deixando o outro exercer sua individualidade e ter vida
fora do relacionamento.
"A relação com
alguma dependência sempre vai ser algo prejudicial. Também pode haver traços
tóxicos e abusivos nesse relacionamento", explica Natalia Pavani,
psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. A especialista reforça ainda que é
um padrão de comportamento que remete muito à intensidade, no qual a pessoa
acha que não tem força para sair daquela situação ou até que não vai aguentar
caso rompa com determinado indivíduo.
E perceber que aquilo
não está sendo saudável e que está causando mais sentimentos ruins do que
respostas boas pode demorar meses e até anos. Um dos sinais mais evidentes é
quando a pessoa tem um sofrimento constante, com crises de choro excessivas,
inseguranças, dúvidas e brigas. Se isso ocorre sempre, vale procurar ajuda de
uma pessoa em que confia para se abrir ou procurar tratamento com um terapeuta.
Tipos
de dependência.
Nos relacionamentos
amorosos.
É muito comum que a
dependência emocional seja percebida quando o amor não existe mais: só há
brigas, xingamentos, discordâncias e um dos lados, ou mesmo ambos, não consegue
sair daquilo por medo de ficar sozinho ou não achar mais a pessoa da sua vida. "Uma
das frases mais comuns é 'eu só fico bem com ele (a)'", diz Borsari.
A pessoa dependente
sofre que o parceiro tem outras facetas e experiências em sua vida fora do
relacionamento. E pode até mesmo tornar isso uma cobrança para a outra pessoa.
Além disso, é muito comum idas e vindas, e no primeiro momento de fragilidade,
procurar o parceiro, se apegando as coisas e sentimentos do passado.
Nas relações parentais.
Embora a dependência
seja vista muito como uma relação entre casais, ela também pode ocorrer, e
muito, entre pais e filhos. Um dos exemplos mais comuns é quando os pais querem
ou só vivem a vida filho e depositam nele todo seu bem-estar, não respeitando
sua individualidade.
Chega a ser sufocante,
nocivo e uma relação muito dura. No caso dos pais, deixar o filho viver por si
é muito doloroso e pode chegar a ter situações de chantagem emocional para
impedir que ele saia da asa dos pais.
Nas relações de
amizade.
Normalmente a
dependência emocional em amizades ocorre quando há muito ciúmes daquele amigo com
outras pessoas. O amigo dependente quer atenção apenas para si e não aceita que
o outro tenha outros laços importantes. Com o tempo, isso pode evoluir para uma
amizade que não agrega mais nada.
Muitas vezes essa
amizade pode evoluir para algo mais tóxico, em que uma das partes só coloca a
outra para baixo, não valoriza suas conquistas, o que sempre acaba deixando o
outro mal.
Como
procurar ajuda.
É válido procurar uma
pessoa próxima, em que você possa confiar, para se abrir e dizer como está se
sentindo em determinada relação. O melhor é alguém que não faça julgamentos, e
sim que dê um posicionamento e uma visão de fora sobre o que você está
relatando. Dessa forma, você terá uma segunda opinião para falar que
determinada impressão não é a coisa da sua cabeça e por que sair daquilo.
Outra iniciativa é
procurar ajuda com um terapeuta para buscar respostas nessas relações e por que
há ou houve uma dependência. Muitas vezes, o profissional pode enxergar e
alertar indícios de autoestima baixa, tristeza ou depressão.
E mais importante: o
psicólogo irá proporcionar mecanismos para não haver novos ciclos e recaídas
com a pessoa do relacionamento. "Algumas relações podem até voltar ou as
pessoas se darem bem no futuro, mas isso precisa acontecer depois de um
processo muito longo e, principalmente, de muita maturidade. Por isso é
importante perceber que existia, sim, uma dependência, mas há cura e que você
pode ser sua melhor companhia", finaliza Borsari.
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