Um estudo publicado na última sexta-feira (24), nos EUA, traz um alerta
importante para todo mundo: quem confia apenas nas redes sociais ou nos
agregadores de notícias como fonte única de informações sobre a covid-19 é mais
propenso a acreditar em teorias conspiratórias sem qualquer fundamento
científico. E isso pode ter consequências para a saúde de todo mundo.
O estudo, realizado por pesquisadores do Centro Annenberg de Políticas
Públicas das universidades da Pensilvânia e de Illinois, contou com uma amostra
de mais de 1.000 adultos, e tem uma margem de erro de mais ou menos 3,57%. As
entrevistas foram feitas no início de março, quando os números de infecções no
país ainda não eram tão altos. Atualmente, os EUA são o país com maior número
de mortes pela doença.
A análise mostrou que o público que confiou apenas em meios de
comunicação mais conservadores (como a Fox News), bem como nas redes sociais
(como Facebook, YouTube e Twitter) e nos agregadores de notícias (como Google
News, Yahoo news etc), foram mais propensos a acreditar em dados para os quais
faltam evidências ou até qualquer base científica, como você vê abaixo:
– 23% tinham certeza ou achavam provável que o novo coronavírus tenha
sido criado como arma biológica pelos chineses. Muitos (10%) ainda afirmavam que
o responsável pelo desenvolvimento do agente causador da covid-19 deveria ser o
próprio governo norte-americano. Não há nenhuma evidência científica para ambas
as teorias.
– 21% achavam provável ou certo que a vitamina C pode evitar a infecção
por covid-19, recomendação para a qual faltam evidências;
– 19% achavam provável ou certo que autoridades médicas exageraram na
avaliação dos riscos do coronavírus para prejudicar a imagem do presidente
Donald Trump, que minimizou a pandemia no início.
Quem confiou nas fontes de informação citadas também foi menos propenso a
acreditar que lavar bem as mãos é a melhor arma contra a transmissão do vírus.
E essa tem sido a principal recomendação divulgada pelos médicos desde o
início. Dar mais importância a boatos, portanto, pode afastar as pessoas de
verdades simples, como a importância da higiene para a prevenção de doenças.
O exemplo acima é apenas uma das consequências possíveis da disseminação
de teorias conspiratórias, segundo uma meta-análise (tipo de revisão de estudos
científicos) sobre o tema publicada no ano passado por pesquisadores da
Universidade de Lübeck, na Alemanha. O preconceito é outro problema comum
associado a esses pensamentos, de acordo com o trabalho.
Muitos estudos, feitos nos últimos anos, têm tentado desvendar o que está
por trás da crença de que grandes tragédias podem ser explicadas por planos
mirabolantes de alguém, ou de algum país, em busca de vantagens econômicas.
Com tantos escândalos reais que circulam nos sites de notícias e nas
redes sociais, é natural que as pessoas deixem de ser ingênuas. Mas é preciso
tomar cuidado com generalizações. Quem acha que todo mundo tem más intenções
pode cair na tentação de ser antiético também, e reproduzir aquilo que tanto
critica nos outros.
Para saber mais (em
inglês):
“Use of Conservative and
Social Media Linked with COVID-19 Misinformation”
https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/the-relation-between-media-consumption-and-misinformation-at-the-outset-of-the-sars-cov-2-pandemic-in-the-us
Centro Annenberg de Políticas Públicas:
https://www.annenbergpublicpolicycenter.org/
“A Systematic Review and Meta-Analysis of Psychological Research on Conspiracy Beliefs: Field Characteristics, Measurement Instruments, and Associations With Personality Traits”
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00205/full
https://misinforeview.hks.harvard.edu/article/the-relation-between-media-consumption-and-misinformation-at-the-outset-of-the-sars-cov-2-pandemic-in-the-us
Centro Annenberg de Políticas Públicas:
https://www.annenbergpublicpolicycenter.org/
“A Systematic Review and Meta-Analysis of Psychological Research on Conspiracy Beliefs: Field Characteristics, Measurement Instruments, and Associations With Personality Traits”
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2019.00205/full
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