FONTE: *** Jairo Bouer, https://doutorjairo.uol.com.br/
Quando se fala em
anorexia nervosa, as pessoas automaticamente tendem a imaginar uma jovem
magérrima, que parece fraca e desnutrida. Porém, cuidado. Quando se
trata de transtornos alimentares, as aparências podem enganar bastante.
Isso pode fazer com que o diagnóstico ocorra apenas quando os casos estão muito
avançados, o que dificulta o tratamento e controle da condição.
O alerta acima,
repetido por muitos especialistas nesse tema, acaba de ganhar o reforço de um
grande estudo feito no Hospital Infantil Benioff, da Universidade da
Califórnia, nos EUA. A equipe, liderada pelo especialista em medicina do
adolescente Jason Nagata, analisou dados de quase 15 mil garotos e garotas
acompanhados por sete anos.
A conclusão do estudo é
clara: comportamentos alimentares inadequados, que podem evoluir para
transtornos alimentares graves, afetam jovens independente de peso, sexo,
orientação sexual, raça ou etnia. E, com frequência, passam
despercebidos por pais e médicos, pois a aparência desses adolescentes não
tem nada de anormal.
Cerca de metade dos
pacientes com anorexia nervosa está com peso normal ou acima do ideal, segundo
os pesquisadores. Mas transtornos alimentares não se resumem a querer perder
peso. Hoje, para muitas mulheres, não basta ser magra. É, preciso, também, ter
“barriga tanquinho”. As magrinhas, que já sonhavam com mais curvas, passaram a
lutar para ter músculos bem delineados.
A pressão para os
garotos também aumentou. Eles, agora, não sonham só com bíceps e tórax
volumosos, mas também com veias saltadas. Basta dar uma olhada nas buscas do
Google relacionadas ao tema. E quando a ideia é ter corpo de fisiculturista,
não basta malhar muito, evitar doces, frituras e sanduíches. Uma grande
quantidade de proteínas, com aminoácidos de diferentes nomes, precisam entrar
na dieta em horários específicos, o que só é possível com suplementação e
disciplina rígida.
Essa obsessão com
músculos também pode virar doença: o transtorno dismórfico corporal. Para a
pessoa, o espelho nunca agrada, por mais que todo mundo diga que ela está ótima
e que um pedaço de pizza com os amigos não vai fazer mal. Além de se isolarem,
esses jovens podem até desenvolver quadros de insuficiência cardíaca por
excesso de esforço associado à privação calórica.
A pesquisa americana,
publicada no International
Journal of Eating Disorders, mostra que 22% dos homens e 5% das
mulheres de 18 a 24 anos se esforçam para ganhar peso e/ou músculos. Para isso,
cultivam hábitos arriscados: tomam suplementos pouco testados e fiscalizados;
usam esteroides anabolizantes; e se privam de gorduras e carboidratos.
Aqui vale outro alerta,
já que muita gente acha que cortar gorduras e carboidratos é algo positivo,
quase uma obrigação. Esses nutrientes também são essenciais para o organismo, e
não podem ser restringidos sem orientação de um profissional. E mais: sucos
miraculosos “detox’, dietas para limpar o fígado e tantas outras maluquices que
invadem a internet com uma falsa aparência de saudáveis também podem ser
arriscados. Restrições alimentares podem levar a deficiências
nutricionais graves, que afetam o cérebro, o humor e o crescimento dos jovens,
quando não colocam a vida deles em risco.
Os especialistas avisam
que a pandemia tem exacerbado muito os casos de transtornos alimentares. Com a
rotina alterada e mais tempo em casa, muita gente perdeu o controle sobre a
alimentação e os exercícios. Sem desgrudar dos eletrônicos, os corpos perfeitos
exibidos nas mídias sociais aumentam a sensação de culpa, e muitos apelam para
medidas drásticas, como vômitos, jejuns, laxantes, diuréticos e anorexígenos.
Também podem abusar do álcool para tentar aliviar todo esse estresse (mas sem
comer, para compensar as calorias da bebida, o que é ainda mais perigoso).
Para quem tem filhos
adolescentes, a dica é aproveitar que a turma está mais perto para
fazer refeições em família. Esse hábito antigo é uma das principais
recomendações dos médicos especializados em transtornos alimentares. Outro
conselho para os pais é ficar de olhos nos próprios hábitos, cobranças e críticas.
E, se desconfiarem que algo não vai bem, não demorem nem hesitem em buscar
ajuda especializada.
*Texto extraído da coluna do Dr. Jairo Bouer no UOL
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