Em geral, o método
mais usado para avaliar o número de calorias em alimentos tem falhas,
superestimando a energia fornecida ao corpo pelas proteínas, nozes e comidas
com alto teor de fibra em até 25%, garantem nutricionistas.
"A quantidade de
calorias que uma pessoa recebe da proteína e da fibra é exagerada", disse
Geoffrey Livesey, diretor da Independent Nutrition Logic, consultoria de
nutrição da Grã-Bretanha, e consultor nutricional dos Estados Unidos.
"Isso causa mais enganos em quem tem dietas com muita proteína e fibras ou
no caso dos diabéticos", que devem limitar a ingestão de carboidratos.
O adulto que deseje
ingerir duas mil calorias por dia em uma dieta com muita proteína e baixo
carboidrato pode, na verdade, consumir centenas de calorias a menos. As
estimativas de calorias das "junk foods", principalmente carboidratos
processados, são mais precisas.
O atual sistema de
contagem de calorias foi criado no final do século XIX por Wilbur Atwater,
cientista do Departamento da Agricultura dos EUA, e foi levemente modificado
nos últimos cem anos. Os pesquisadores colocam uma porção de alimento no
aparelho chamado calorímetro e queimam para ver quanta energia ela contém. O
calor é absorvido pela água; uma caloria é a quantidade de energia necessária
para elevar a temperatura de um grama de água em um grau Celsius.
Entretanto, quando os
especialistas falam em calorias, eles costumam se referir a quilocalorias; uma
quilocaloria equivale a mil calorias. São essas as quantidades vistas nos
rótulos de alimentos.
O sistema é mais
exato quando os alimentos são facilmente digeridos e toda a sua energia se
torna disponível para o organismo – como quando se consome carboidratos
altamente processados. Porém, nas últimas décadas, cientistas começaram a
compreender que um número substancial de calorias se perde no esforço de
digestão do alimento. Por exemplo, carne e nozes são mais difíceis de
fragmentar e assim o corpo gasta energia tentando digeri-las.
No final, alguns
alimentos não são completamente digeridos: porções significativas são
excretadas e essas calorias não deveriam ser contabilizadas. As nozes estão
entre as mais complicadas de digerir, e as estimativas das calorias que contém
pelo método antigo são as mais exageradas – a conta é 25 por cento mais alta, segundo
estudo recente de David Baer, nutricionista do Departamento da Agricultura.
Costuma-se dizer que
as amêndoas têm 160 calorias por porção, quando a cifra real fica na casa das
120 calorias, disse Karen Lapsley, cientista-chefe da associação que representa
os produtores do alimento na Califórnia. Alguns fabricantes estão pensando em
fazer as alterações nos rótulos.
Segundo ela, embora o
exagero no caso da amêndoa seja claro, nutricionistas temem que a redução da
estimativa de calorias de modo geral talvez passe a ideia errada – a de que os
consumidores podem comer mais – num instante em que os norte-americanos
deveriam comer menos.
Um sistema
alternativo e mais exato de contar calorias foi criado por Livesey e
apresentado à Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que
faz recomendações aos estados-membros. O novo método foi discutido, mas ainda
não foi adotado oficialmente.
O sistema conta não
apenas quanta energia (ou calorias) está disponível num alimento, mas quanta
dessa energia o organismo pode usar. Cálculos adicionais são feitos para levar
em consideração a energia gasta pelo corpo na digestão e o grau com que a
comida é processada.
"As pessoas me
perguntam por que o método não foi mudado se sabemos que ele está errado. Como
o sistema está em vigor na maioria dos países desenvolvidos, coordenar as
mudanças exigiria um empreendimento administrativo e político gigantesco",
contou Rachel Carmody, pós-doutoranda da Universidade da Califórnia, campus de
San Francisco.
"Não se pretende
criar uma crise de confiança dos consumidores. Prestar atenção ao rótulo do
alimento é muito melhor do que não prestar atenção, mesmo que ele não esteja
correto", ela acrescentou.
Pode não ser
necessário mudar a contagem de calorias amplamente, disse David Klurfeld,
diretor do programa de nutrição humana do Departamento da Agricultura. Para dar
aos consumidores uma ideia melhor de quanto estão comendo, pode ser mais
eficiente revisar a contagem de alimentos específicos em vez de descartar a
abordagem antiga de uma vez.
"Na média, o
sistema está certo, mas no caso de alimentos individuais, não está. Não é
possível testar cada alimento ou combinação de alimentos, mas se testá-los
individualmente pode obter maior precisão", ele disse.
O Dr. David Ludwig,
administrador de uma clínica de obesidade no Hospital Infantil de Boston, disse
que, embora possa existir maior valor científico em ter uma contagem de
calorias mais exata para todos os alimentos, mudanças no sistema talvez não
façam muita diferença prática no mundo real.
Segundo ele, o corpo
resiste à perda de peso aumentando a fome. Em sua clínica, os pacientes não
contam calorias, mas aprendem a escolher tipos e quantidades de alimentos que
irão saciar a fome e promover o emagrecimento sem restrição calórica.
A agência
norte-americana reguladora de alimentos e medicamentos é responsável pelos
rótulos de calorias na maioria das comidas, mas a tarefa de fazer o cálculo é
delegada aos fabricantes, contou Theresa Eisenman, porta-voz da entidade. As
empresas são responsáveis pela exatidão das estimativas. Segundo ela, se
ocorrerem modificações, será porque as empresas decidiram revisar os rótulos.
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