Hoje, fala-se muito
sobre o que significa uma morte "boa". Há também muita discussão sobre
a arte de envelhecer com saúde.
Mas não se ouve nada
a respeito daqueles que estão entre um e outro; gente que não está morrendo,
mas ficando cada vez mais frágil; gente que tem sérios problemas de saúde;
gente que, de repente, se vê precisando de cuidados.
Gente que, na grande
maioria dos casos, está sofrendo.
Na nossa família
temos um nome para esse período da vida: é a "terra dos babadores
cor-de-rosa".
Aos 70 e poucos anos,
meu pai, um cirurgião ortopedista altamente respeitado, foi diagnosticado com o
mal de Alzheimer. Mais tarde, com o desenvolvimento da doença, fraturou a
bacia. Um dia, ao visitá-lo na casa de repouso, cerca de seis meses após o
acidente, eu o encontrei sentado em meio aos outros pacientes, todos com
babadores cor-de-rosa, mesmo depois de já terem se alimentado. Como os outros,
tinha a cabeça tombada para a frente; os olhos, embora abertos, não estavam
focalizados em nada. Os ombros se viam caídos, como os de uma boneca, e a boca
se encontrava ligeiramente aberta.
Não estava preparada
para vê-lo daquele jeito.
"Ah, não, não
foi AVC. Ele está bem. Está tomando uma nova medicação, um estabilizador de
humor, porque andava meio violento com o pessoal. É o que acontece com quem tem
o mal de Alzheimer", explicou a enfermeira.
De repente me vi
tendo que tomar decisões sobre questões de seu tratamento que não entendia
muito bem. São muitas as famílias que enfrentam dúvidas semelhantes: será que
devemos tirar a mamãe de casa e interná-la? O papai anda tão esquecido e
resmungão, será que está senil? Será que nossos pais têm dinheiro para
contratar um cuidador – e nós, temos? Quando devemos mandá-los para uma casa de
repouso? De que tipo de cuidados necessitarão quando estiverem lá?
São perguntas
difíceis; no entanto, se olhar à sua volta em busca das respostas ou de ajuda,
não vai encontrar muita coisa.
Por que não? A
maioria dos profissionais da saúde não está capacitada para cuidar de idosos.
Atualmente, 97 por cento de todos os estudantes de Medicina dos EUA não estão
interessados na especialização.
Estudos recentes
mostram que um bom acompanhamento geriátrico pode fazer uma diferença enorme.
Idosos que são monitorados por profissionais da área têm mais tempo de vida
independente, mais facilidades sociais e físicas e menos problemas de saúde.
Além disso, esses pacientes se mostram mais satisfeitos, passam menos tempo no
hospital, registram níveis significativamente mais baixos de depressão e passam
menos tempo em casas de repouso.
Nossa família
testemunhou o valor desse tipo de cuidado em primeira mão.
Depois de vir meu pai
embotado na cadeira, procurei um geriatra de renome – o Dr. Kenneth
Brummel-Smith, que também é pesquisador da Universidade Estadual da Flórida.
Depois de ouvir a minha descrição de seu histórico de saúde (a bacia quebrada e
a artrite), ele sugeriu que a causa do comportamento agressivo talvez fosse a
dor. E explicou que, de todo o sofrimento que a demência acarreta, a dor é o
sintoma mais comum e menos reconhecido simplesmente porque o paciente não pode
se expressar.
Brummel-Smith me
aconselhou a levar meu pai para um exame com o geriatra local, de sua
recomendação. Uma semana depois, o especialista foi até a casa de repouso. A
suspeita inicial estava correta: apesar da fratura no quadril e do histórico de
artrite, ele não recebera nenhum alívio para a dor. Imediatamente o médico
receitou um grama de Tylenol, três vezes por dia, e interrompeu a medicação de
estabilização de humor. Depois disso, o comportamento do meu pai se transformou
e sua qualidade de vida melhorou drasticamente: já reconhecia tudo o que havia
à sua volta; conversava; sorria quando lhe tocávamos música.
E, em questão de
dias, conseguiu escapar dos babadores rosados.
Porém, apesar de
aliviada, não podia deixar de pensar em todas as outras pessoas internadas que
não tinham a mesma sorte que meu pai.
Atualmente há menos
de oito mil geriatras atuando no país inteiro – e esse número está caindo.
"Somos uma espécie em extinção", brincou a Dra. Rosanne Leipzig, do
Centro Médico Mt. Sinai, em Nova York.
Ao mesmo tempo, a
faixa etária que mais cresce nos EUA é a do grupo acima de 65 anos. Segundo as
previsões oficiais, em 2050 haverá 90 milhões de norte-americanos com essa
idade ou mais velhos, e 19 milhões acima dos 85. A Sociedade Americana de
Geriatria alega que o ideal seria ter um especialista para cada 300 idosos –
mas com o encolhimento da especialização, o órgão calcula que, até 2030, haverá
um geriatra para cada 3.798 idosos.
Por que esse abismo
entre um número cada vez maior de pacientes e um número cada vez menor de
especialistas para cuidar deles? A Geriatria é um campo que não paga bem, mesmo
exigindo anos de especialização intensa. A maioria dos profissionais recebe
reembolso apenas do Medicare e Medicaid, cujos valores não permitem a
manutenção de um consultório. Muitas clínicas e hospitais geriátricos por todo
o país estão tendo que fechar as portas.
Aqueles que estão
entrando na meia-idade agora, de acordo com o Dr. David Reuben, geriatra
renomado do Centro Médico da UCLA, devem enfrentar uma verdadeira crise
nacional.
A grande maioria dos
norte-americanos não tem nem ideia do que vem por aí e – sem geriatras
disponíveis para lhes garantir assistência – como suas vidas vão ser afetadas
de maneira substancial.
É, eu sei. Significa
que, em breve, todos nós estaremos na terra dos babadores cor-de-rosa.
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