FONTE: Jamil Chade, do Estadão Conteúdo, CORREIO DA BAHIA.
No Brasil, apenas 6% do orçamento seria
usado para programas de prevenção.
O número de pessoas infectadas pelo vírus da aids volta a
subir no Brasil, enquanto a UNAids - programa da Organização das Nações Unidas
(ONU para combater a doença - alerta que os avanços pelo mundo nos primeiros
dez anos do século 21 perderam força. Dados publicados na terça-feira, 12, pela
entidade revelam que, se cerca de 43 mil novos casos eram registrados no Brasil
em 2010, a taxa em 2015 subiu para 44 mil.
Em termos globais, a agência de combate à aids aponta que
o número de novas infecções pelo mundo caiu apenas de forma modesta, de 2,2 milhões
em 2010 para 2,1 milhões em 2015. O Brasil e a América Latina, porém,
caminharam em uma direção oposta. “Estamos soando o alarme”, disse Michel
Sidibé, diretor-executivo da UNAids.
“O poder da prevenção não está sendo realizado. Se houver
um aumento de novos casos de infecção agora, a epidemia será impossível de ser
controlada. O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas”, alertou. Hoje,
são 36,7 milhões de pessoas vivendo com a doença pelo mundo e com 1,1 milhão de
mortes. No total, a população vivendo com aids no Brasil passou de 700 mil para
830 mil entre 2010 e 2015, com 15 mil mortes por ano.
“O Brasil sozinho conta com mais de 40% das novas
infecções de aids na América Latina”, alertou a Unaids. A organização destaca
importantes avanços na região no que se refere à contaminação de crianças, com
uma queda de 50% em apenas cinco anos.
Mas, entre adultos, a UNAids alerta para um aumento de
casos de 2% entre 2010 e 2015, atingindo um total de 91 mil novas infecções por
ano. Na América Central, as taxas de aumento foram de quase 20% em países como
Belize, Nicarágua e Guatemala.
No México, a alta foi de 8%, contra 5% na Colômbia e 4%
no Brasil. Em pelo menos dez países latino-americanos, porém, houve queda no
número de novos casos, incluindo Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
No Brasil, apenas 6% do orçamento seria usado para
programas de prevenção e, dos 830 mil pessoas vivendo com a doença, 452 mil
estariam recebendo a terapia, cerca de 55%. Em termos gerais, o Brasil gastaria
cerca de US$ 800 milhões com o combate à aids, segundo dados de 2014. Mas o
estudo alerta que a prevenção pode estar falhando.
Quase metade dos homens que tem relações sexuais com
outros homens nunca tinha sido testado. A preocupação dos especialistas da ONU
não é apenas com o Brasil. Segundo a entidade, depois de “quedas
significativas” da aids no mundo, os avanços se estagnaram. Desde 1997, o
número de novas infecções pelo mundo caiu em 40% e em 70% entre crianças. Mas,
ainda assim, 1,9 milhão de pessoas a cada ano desde 2010 em média foram
afetadas.
“A prevenção precisa ser fortalecida”, alerta a entidade.
A ONU espera acabar com a aids até 2030. Mas os últimos dados mostram
tendências contrárias. No Leste Europeu, o número de novos casos aumentou em
57% entre 2010 e 2015. No Caribe, depois de anos de queda, a expansão é de 9% a
cada ano desde 2010. No Oriente Médio, o aumento foi de 4%, a mesma taxa na
África.
Na Europa e na América do Norte, a queda no número de
casos foi insuficiente para compensar o aumento nas demais regiões. Em 35 anos,
35 milhões de pessoas morreram no mundo por causa da aids e 78 milhões foram
infectadas. Na avaliação da entidade, governos precisam focar seus esforços em
determinadas populações mais vulneráveis.
Homens que mantêm relações com outros homens têm 24 vezes
mais chance de ser contaminados do que a média da população, a mesma taxa que
usuários de drogas injetáveis. Já prostitutas têm dez vezes mais chances e
prisioneiros, cinco vezes mais. No total, esses grupos representam um terço das
novas contaminações no mundo.
Apesar dos avanços, apenas 57% das pessoas infectadas
sabem que são portadoras do vírus e somente 46% dos doentes têm acesso a
tratamento, cerca de 17 milhões de pessoas. O avanço da doença ocorre no mesmo
momento em que as doações internacionais sofreram quedas importantes.
Em 2013, elas foram de US$ 9,7 bilhões. Mas caíram para
US$ 8,1 bilhões em 2015. No ano passado, US$ 19,2 bilhões eram necessários para
lidar com a doença. Se não bastasse a falta de recursos, a entidade alerta que
apenas 20% dos gastos com a aids têm sido usado para programas de
prevenção.

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