FONTE: Leia Já, site parceiro da Tribuna da Bahia Online, TRIBUNA DA BAHIA.
Só no ano passado, foram registradas 300 denúncias de discriminação.
Carol
Nunes e Batoul Khamis. Ambas são jovens, cursam ensino superior e moram em
Guarulhos, porém as semelhanças não são apenas essas. Infelizmente, as duas
sofrem ou já sofreram algum tipo de ofensa por conta de suas religiões.
O
preconceito religioso é um tema abordado no mundo inteiro. No ano passado,
foram registradas 300 denúncias de discriminação religiosa no país, 19% a mais
que no ano passado.
De
acordo com o SOS Racismo, órgão responsável por receber denúncias de
preconceito religioso em Guarulhos, foram recebidas 30 denúncias no ano
passado. A maioria das vítimas de preconceito é de candomblecistas e judeus.
“Recebo
ofensas só pelo fato de usar véu”, diz a estudante de biomedicina Batou Khamis,
18 anos. Ela é muçulmana desde que nasceu e conta que ouve, constantemente,
vários tipos de insultos. “Trabalho em um restaurante com o meu pai e várias
vezes aparecem clientes que são ofensivos comigo. Falam que sou terrorista e
que roubo o emprego dos brasileiros, sendo que eu sou brasileira”, diz.
De
acordo com Khamis, a falta de informação é o principal fator que contribui para
o preconceito religioso. “Muitas pessoas não conhecem a religião e logo pensam
que todos os muçulmanos são terroristas ou algo do tipo. Falta uma divulgação
maior da mídia”.
Porém,
nem sempre a discriminação religiosa vem apenas de desconhecidos. A estudante
de jornalismo Carol Nunes, 25, diz que recebe ofensas de familiares e
conhecidos pelo fato de ser candomblecista.
Ela
segue a religião desde 2012 e conta que sua tia a ofendia constantemente.
“Minha tia não aceita de jeito nenhum. Ela frequenta uma igreja muito
tradicional aqui em Guarulhos e me faz ameaças, falando que vai me tirar de
casa e que Deus um dia vai me cobrar pelas minhas escolhas”, conta.
Até
mesmo a sua mãe, Dona Marli, de 60 anos, foi contra a decisão da filha no
começo. “Quando contei pra minha mãe que eu estava indo para o Candomblé e
estava gostando, ela ameaçou se matar. Surtou de uma forma que eu não esperava.
A ponto de pegar uma faca na cozinha e querer cortar os pulsos. Eu fiquei muito
mal. Cheguei até a sair da religião por um tempo”, relata.
De
acordo com Carol, os almoços em família acabam sendo uma dor de cabeça pois,
sempre que podem, os parentes a ofendem e rebaixam a sua religião. “Sempre
quando estão falando de Deus e eu tento falar sobre o Candomblé, caem de pau em
cima de mim”.
Ela diz
que não só ela sofre com as ofensas, mas sua mãe também é vítima. “Como o
centro de Candomblé que eu frequentava era do lado da minha casa, eu saía com
as vestimentas e todo mundo via. Assim que os vizinhos descobriram, fizeram a
vida da minha mãe um inferno”.
Carol
acredita que, além da falta de informação na mídia sobre a religião, um dos
fatores que contribuem para o preconceito são as pessoas que usam a fé como uma
ferramenta de extorsão de dinheiro.
”Eu
quero morrer quando eu vejo cartazes na rua com as frases ‘trago seu amor de
volta’, pois isso mancha a imagem do Candomblé. Essas tentativas de ganhar
dinheiro em cima da fé alheia são as parte negativa de muitas religiões”.
Carol
acredita que dificilmente as religiões cristãs vão ajudar a reduzir o
preconceito educando seus integrantes para a tolerância. “Quando você vai
em casas de Candomblé, ninguém fala mal da Igreja Evangélica ou de outras
religiões. Em compensação, a Igreja desce o pau no Candomblé, falando que
qualquer evento negativo na vida de um fiel é culpa de algum espírito ou obra
do Candomblé”, desabafa.
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