FONTE: Gabriela Ingrid, Do UOL,
(http://estilo.uol.com.br).
Coincidência ou não, enquanto a insônia atinge 40%
dos brasileiros, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 53,8% da
população está acima do peso, segundo a Vigitel (Pesquisa de Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico).
Especialistas no assunto confirmam a relação: “A
privação de sono aumenta o apetite por alimentos calóricos. Indivíduos que não
dormem têm maior tendência à obesidade do que os que não são privados do sono”,
diz Pedro Genta, coordenador do Centro de Medicina do Sono do HCor.
Mas o problema não é só em quem dorme de menos.
Ficar tempo demais na cama ou tirar cochilos vespertinos também tem influência
na circunferência abdominal.
“Um estudo feito com mais de 120 mil pacientes
identificou quatro fatores que relacionam o déficit de qualidade de sono com a
obesidade: dormir menos do que 7 ou mais do que 9 horas por dia; trocar a
noite pelo dia; cochilar durante o dia; ter hábitos noturnos”, disse Paulo
Giorelli, chefe do Departamento de Obesidade da Abran, durante uma palestra no
21° Congresso de Nutrologia, em São Paulo.
Dormir mal impacta no ritmo do
corpo.
O sono costuma obedecer a ritmos biológicos do
corpo. Isso quer dizer que ele sofre influência da luz, da nossa temperatura
corporal e da liberação hormonal. Tudo isso se organiza em um ciclo biológico
conhecido como ritmo circadiano. Quebrar esse ciclo impacta (e muito) no
funcionamento do organismo.
“Dormir durante o dia, com luminosidade, não é
fisiologicamente a mesma coisa que dormir à noite, com a ausência da luz”,
contou Giorelli. “Mesmo dormindo, nós captamos a claridade através da retina.
Essa luz caminha até o hipotálamo, que regula o ritmo circadiano. A partir daí,
começa um estresse crônico que altera o equilíbrio corporal.”
Segundo Genta, o mecanismo de fome e saciedade é
controlado por uma série de hormônios, principalmente a leptina e a grelina. Ao
ter um sono ruim, a liberação desses hormônios sofre alteração e aumenta a fome.
“Mas não é só isso. É um conjunto de alterações. Na privação, por exemplo, nós
gastamos mais energia, já que ficamos mais tempos acordados do que deveríamos.
Isso também faz com que o corpo demande mais energia.”
Ciclo é vicioso.
O efeito inverso também ocorre. Os dois mais
frequentes distúrbios de qualidade de sono encontrados em pacientes com
sobrepeso são o ronco e a apneia, o que aumenta ainda mais as chances de
obesidade. “A apneia induz o estresse crônico, porque toda vez que o indivíduo
acorda sem ar, a pressão e a frequência disparam. Isso se repete tantas vezes
que desequilibra muito o corpo”, explicou Giorelli.
Segundo os especialistas, parte da culpa para esses
distúrbios são justamente a vida moderna. “Nós ficamos cada vez mais
acordados. Em 1950, a média de sono era de 8 horas. Hoje, ela caiu para 6 horas”,
disse ele. Genta também culpa os “ladrões do sono”: “É uma época diferente da
de 20 anos atrás. O combo televisão, internet, computador e celular nos deixa
conectados o tempo todo. Eles estão invadindo nosso sono e a gente nem está
percebendo.”
Para Giorelli, é importante que os médicos se
atentem a essa relação, para alertar os pacientes. Segundo ele, o especialista
deve perguntar ao paciente se ele tem os sintomas de déficit de sono, porque a
pessoa nunca vai fazer essa relação. “Tem que ver se o indivíduo tem um desses
sintomas (ronco, irritabilidade, deficiência cognitiva, aumento da
testosterona, sonolência excessiva diurna) e ver se isso tem relação com o
sobrepeso dela.”
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