Segundo levantamento, no total, foram 13,8 mil
assassinatos durante roubos desde 2010.
O
estudante Raphael Souza, de 19 anos, estava nas margens do canal de São
Joaquim, na zona oeste de Belém, quando foi abordado por dois homens que pediam
o seu celular. Negou-se a entregar o aparelho e foi atingido com um tiro no
peito, o que causou pânico no seu irmão, testemunha do crime. "É uma
sensação ruim lembrar disso. Vi meu irmão morrer e nada pude fazer, porque
também morreria se reagisse", disse o parente, que prefere esconder a identidade
e ainda vive com medo.
Duas
pessoas chegaram a ser presas pela morte de Souza em setembro do ano passado,
mas hoje estão soltas. Um adolescente de 17 anos foi liberado sem cumprimento
de medida socioeducativa O seu suposto parceiro, Júlio Oliveira, de 25 anos,
disse à Justiça que foi o rapaz quem fez o disparo, conseguindo pouco tempo
depois também sair da prisão. Em 2016, o Pará foi o Estado que teve a mais alta
taxa desse tipo de crime, o latrocínio, no País: 2,4 por 100 mil habitantes.
Dados
inéditos do 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que divulgado
nesta segunda-feira, 30, mostram que esse crime subiu 57,8% no País entre 2010
e o ano passado, quando houve 2,5 mil registros ou sete casos por dia. A
análise do Fórum, que reúne números oficiais, é a mais relevante do setor. A
organização reúne pesquisadores e policiais no debate de políticas públicas.
No total,
foram 13,8 mil assassinatos durante roubos desde 2010. De acordo com
especialistas, a crise econômica associada a problemas em programas estaduais
de redução de criminalidade - que perderam investimentos - é um dos fatores
para entender os indicadores. Com a recessão, em muitos Estados houve queda
tanto da capacidade de policiamento nas ruas quanto de investigação.
O
latrocínio tem punição pesada prevista no artigo 157 do Código Penal. A pena de
prisão é de 20 a 30 anos, o máximo permitido pela lei brasileira.
Ainda
assim, os bandidos não têm se desencorajado. No Rio, a situação é especialmente
preocupante. Pernambuco (cujo número de casos saltou de 114 para 167) e
Espírito Santo (de 35 para 53) são outros que tiveram altas proporcionais
relevantes. Pernambuco, por exemplo, teve um programa considerado modelo em
redução de mortes violentas, que perdeu força nos últimos anos.
A liderança
é do Pará, que subiu uma posição em relação a 2016. Rondônia passou da 20ª para
a 7ª posição; Pernambuco pulou nove posições, sendo agora o 8º. Os latrocínios
cresceram em 19 Estados, como Rio e Pará, entre 2015 e 2016.
A
Secretaria de Segurança do Pará disse que esclareceu vários latrocínios e que o
resultado disso já está no Judiciário. A pasta contesta os dados do anuário,
afirmando que seu levantamento não bate com o resultado da pesquisa, mas não
apresentou seus dados. O Ministério da Justiça e da Segurança Pública não
comentou os dados.
Causas.
O diretor
executivo do Instituto Sou da Paz, Ivan Marques, associa o fenômeno ao
crescimento dos crimes patrimoniais. "O latrocínio é um tipo de crime
contra o patrimônio, não à toa as polícias falam que é o roubo que deu errado.
Aumentando o roubo, como vimos em 2016, o latrocínio também vai crescer,
gerando esses dados espantosos."
Marques
diz que há um conjunto de fatores que influenciam, entre eles o "momento
econômico". "O roubo produz uma sensação de insegurança ligada ao
cerceamento da liberdade de ir e vir, levando as pessoas a mudarem hábitos. Com
o latrocínio, esse sentimento é agravado, pois há violência letal."
O Fórum
divulgará hoje os dados completos do anuário. O principal número esperado é o
de homicídios totais de 2016. O balanço deve mostrar crescimento da violência,
segundo apurou a reportagem.
Em relação
a 2017, o Estado mostrou em agosto que o País já havia registrado 28 mil
homicídios no primeiro semestre.
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