quinta-feira, 30 de agosto de 2018

POR QUE AS PESSOAS QUE MAIS AMAMOS SÃO AS QUE MAIS NOS IRRITAM?...


FONTE: Heloísa Noronha, Colaboração com Universa,https://universa.uol.com.br




É comum que as pessoas de que mais gostamos --ou aquelas por quem temos maior consideração-- também sejam, ironicamente, as mesmas que costumam nos tirar do sério e encher o saco frequentemente. Seriam essas atitudes propositais para testar nosso afeto? Bem, pode ser difícil de acreditar --e de aceitar--, mas o problema está em você, não nos outros. Em outras palavras, é sua responsabilidade modificar a forma como lidar com as circunstâncias, porque, no fundo, elas falam mais de você do que das pessoas com quem convive. Avalie o próprio comportamento e cheque se toda essa sua irritação, na verdade, tem a ver com as seguintes possibilidades:

Você adora ter o controle das coisas.
"Não são as pessoas que nos irritam. Nós é que nos irritamos quando somos contrariados e quando percebemos que não estamos no controle, inclusive no controle da vida alheia", fala Mara Lúcia Madureira, psicóloga especializada em terapia cognitivo-comportamental, de São José do Rio Preto (SP). De acordo com a especialista, formatamos ideias segundo nossas experiências. Ao esperar que o marido ou a amiga ajam conforme o esperado, na verdade, desejamos inconscientemente que as coisas saiam de acordo com nossas expectativas (eis aí a necessidade de controle) e que essas pessoas afirmem nossas convicções. E, conforme lembra Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente (SP), pessoas que têm personalidade centralizadora não toleram quando o outro não atende sua vontade, mesmo que seja pequena. "Individualistas querem os próprios desejos sejam sempre atendidos, sem se importar com o desejo do outro. Qualquer atitude contrária será vista como afronta e, portanto, irá irritar", conta.

Você quer o melhor das pessoas.
De um jeito meio torto, né? Quando se trata de pessoas amadas, investimos afeto, tempo, esforços e recursos (inclusive materiais) para que elas tenham sempre resultados positivos e um bom desempenho. Nesse processo, no entanto, acabamos desconsiderando o perfil e o livre arbítrio de cada uma delas. "Em vez de levar isso em conta, criamos expectativas e torcemos para que elas cumpram o papel que definimos para suas vidas", diz Mara Lúcia. Esse mecanismo, se você parar para pensar, é um tanto quanto egoísta. Será que você quer que as pessoas sejam melhores pelo bem delas ou para evitar o seu próprio sofrimento?

Você quer que atendam aos seus desejos e expectativas.
Para Rita Calegari, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo (SP), se irritar com as manias alheias corresponde à mania (consciente ou não) de achar que o nosso jeito de fazer as coisas é o correto, o ideal. "Aprender a lidar com diferenças e opiniões contrárias é uma das tarefas mais difíceis do mundo", declara. Na opinião de Aline Melo, psicóloga do Grupo São Cristóvão Saúde, encaixar os outros na nossa maneira de pensar é um caminho sem volta rumo à frustração. "Se até mesmo as mudanças emocionais buscadas dentro de nós são difíceis de alcançar, imagine modificar uma pessoa para deixá-la do jeito que você deseja?", pergunta. Ninguém muda porque alguém quer ou se esforça para isso se não houver vontade genuína --daí a decepção e a irritação.

Você se sente à vontade para expressar suas emoções.
"Quando lidamos com quem amamos, costumamos estar menos defensivos, já que essas interações são menos ameaçadoras do que as com as demais pessoas. Isso torna a relação mais relaxada e descontraída e permite abordar questões mais delicadas com menos reserva e, em alguns casos, menos cuidado", afirma Luciano Passianotto, psicoterapeuta e terapeuta de casal, de São Paulo (SP). A psicóloga Joselene, por sua vez, lembra que nosso espaço familiar, por exemplo, é um espaço de convivência íntima onde as regras sociais são mais flexibilizadas. "Assim, muitas vezes, agimos em casa de modo diferente daquele que nos comportamos no trabalho. Se numa discussão com o chefe ou a colega de equipe você se cala por receio de prejudicar o relacionamento, pode deslocar essa irritação interna para as pessoas da família, porque sabe que dificilmente perderá o vínculo e o amor delas", pontua.

Você alimenta a idealização.
Segundo a psicóloga Aline Melo, muitas vezes, lançamos nossas expectativas na outra pessoa esperando condutas e gestos que sequer sabemos se ela está preparada para atender. "Quando essas expectativas não acontecem do jeito que esperamos, ficamos chateados e nos irritamos. Descobrir nossas carências e necessidades pessoais, antes de projetar tais aspectos em alguém, pode evitar boa parte dessa irritação projetada em quem amamos", afirma.

Impaciência sob controle.
Para quebrar o padrão de se irritar por bobagens com as pessoas de quem mais gosta, que tal colocar as três dicas a seguir em ação?

1. Invista no autoconhecimento. Conhecer-se bem e compreender suas necessidades emocionais pode minimizar as expectativas que o outro não pode cumprir --até porque são aspectos seus que precisam ser trabalhados internamente.

2. Aprenda a reconhecer sua individualidade. A partir disso, você se tornará capaz de defender o direito de decidir a direção que quer dar à sua vida, respeitando as decisões alheias. Mesmo que elas sejam conflitantes com as suas, você vai sentir menos ansiedade.

3. Repense suas atitudes. "Muitas vezes não percebemos que aquilo que o outro tem de negativo, e que tanto nos irrita, inconscientemente diz algo sobre nós, ou seja, sobre nossas limitações que tentamos esquecer", explica Joselene. "Em vez de criticar o comportamento de alguém, use-o como parâmetro para repensar as próprias atitudes e, principalmente, compreender o outro e tentar ajudá-lo se necessário", completa.

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