É comum que as pessoas
de que mais gostamos --ou aquelas por quem temos maior consideração-- também
sejam, ironicamente, as mesmas que costumam nos tirar do sério e encher o saco
frequentemente. Seriam essas atitudes propositais para testar nosso afeto? Bem,
pode ser difícil de acreditar --e de aceitar--, mas o problema está em você,
não nos outros. Em outras palavras, é sua responsabilidade modificar a forma
como lidar com as circunstâncias, porque, no fundo, elas falam mais de você do
que das pessoas com quem convive. Avalie o próprio comportamento e cheque se
toda essa sua irritação, na verdade, tem a ver com as seguintes possibilidades:
Você adora ter o
controle das coisas.
"Não são as
pessoas que nos irritam. Nós é que nos irritamos quando somos contrariados e
quando percebemos que não estamos no controle, inclusive no controle da vida
alheia", fala Mara Lúcia Madureira, psicóloga especializada em terapia
cognitivo-comportamental, de São José do Rio Preto (SP). De acordo com a
especialista, formatamos ideias segundo nossas experiências. Ao esperar que o
marido ou a amiga ajam conforme o esperado, na verdade, desejamos
inconscientemente que as coisas saiam de acordo com nossas expectativas (eis aí
a necessidade de controle) e que essas pessoas afirmem nossas convicções. E,
conforme lembra Joselene L. Alvim, psicóloga clínica de Presidente Prudente
(SP), pessoas que têm personalidade centralizadora não toleram quando o outro não
atende sua vontade, mesmo que seja pequena. "Individualistas querem os
próprios desejos sejam sempre atendidos, sem se importar com o desejo do outro.
Qualquer atitude contrária será vista como afronta e, portanto, irá
irritar", conta.
Você quer o melhor das
pessoas.
De um jeito meio torto,
né? Quando se trata de pessoas amadas, investimos afeto, tempo, esforços e
recursos (inclusive materiais) para que elas tenham sempre resultados positivos
e um bom desempenho. Nesse processo, no entanto, acabamos desconsiderando o
perfil e o livre arbítrio de cada uma delas. "Em vez de levar isso em
conta, criamos expectativas e torcemos para que elas cumpram o papel que
definimos para suas vidas", diz Mara Lúcia. Esse mecanismo, se você parar
para pensar, é um tanto quanto egoísta. Será que você quer que as pessoas sejam
melhores pelo bem delas ou para evitar o seu próprio sofrimento?
Você quer que atendam
aos seus desejos e expectativas.
Para Rita Calegari,
psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo (SP), se irritar com as
manias alheias corresponde à mania (consciente ou não) de achar que o nosso
jeito de fazer as coisas é o correto, o ideal. "Aprender a lidar com
diferenças e opiniões contrárias é uma das tarefas mais difíceis do
mundo", declara. Na opinião de Aline Melo, psicóloga do Grupo São
Cristóvão Saúde, encaixar os outros na nossa maneira de pensar é um caminho sem
volta rumo à frustração. "Se até mesmo as mudanças emocionais buscadas
dentro de nós são difíceis de alcançar, imagine modificar uma pessoa para
deixá-la do jeito que você deseja?", pergunta. Ninguém muda porque alguém
quer ou se esforça para isso se não houver vontade genuína --daí a decepção e a
irritação.
Você se sente à vontade
para expressar suas emoções.
"Quando lidamos
com quem amamos, costumamos estar menos defensivos, já que essas interações são
menos ameaçadoras do que as com as demais pessoas. Isso torna a relação mais
relaxada e descontraída e permite abordar questões mais delicadas com menos
reserva e, em alguns casos, menos cuidado", afirma Luciano Passianotto,
psicoterapeuta e terapeuta de casal, de São Paulo (SP). A psicóloga Joselene,
por sua vez, lembra que nosso espaço familiar, por exemplo, é um espaço de
convivência íntima onde as regras sociais são mais flexibilizadas. "Assim,
muitas vezes, agimos em casa de modo diferente daquele que nos comportamos no
trabalho. Se numa discussão com o chefe ou a colega de equipe você se cala por
receio de prejudicar o relacionamento, pode deslocar essa irritação interna
para as pessoas da família, porque sabe que dificilmente perderá o vínculo e o
amor delas", pontua.
Você alimenta a
idealização.
Segundo a psicóloga
Aline Melo, muitas vezes, lançamos nossas expectativas na outra pessoa
esperando condutas e gestos que sequer sabemos se ela está preparada para
atender. "Quando essas expectativas não acontecem do jeito que esperamos,
ficamos chateados e nos irritamos. Descobrir nossas carências e necessidades
pessoais, antes de projetar tais aspectos em alguém, pode evitar boa parte dessa
irritação projetada em quem amamos", afirma.
Impaciência sob
controle.
Para quebrar o padrão
de se irritar por bobagens com as pessoas de quem mais gosta, que tal colocar
as três dicas a seguir em ação?
1. Invista no
autoconhecimento. Conhecer-se bem e compreender suas
necessidades emocionais pode minimizar as expectativas que o outro não pode
cumprir --até porque são aspectos seus que precisam ser trabalhados
internamente.
2. Aprenda a reconhecer
sua individualidade. A partir disso, você se tornará capaz
de defender o direito de decidir a direção que quer dar à sua vida, respeitando
as decisões alheias. Mesmo que elas sejam conflitantes com as suas, você vai
sentir menos ansiedade.
3. Repense suas
atitudes. "Muitas vezes não percebemos que aquilo que o
outro tem de negativo, e que tanto nos irrita, inconscientemente diz algo sobre
nós, ou seja, sobre nossas limitações que tentamos esquecer", explica
Joselene. "Em vez de criticar o comportamento de alguém, use-o como
parâmetro para repensar as próprias atitudes e, principalmente, compreender o
outro e tentar ajudá-lo se necessário", completa.
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