Resultado consta em
pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco.
No Recife, 60% dos
policiais percebem que pretos e pardos são priorizados nas abordagens, mas não
falam em racismo. O resultado é trazido na pesquisa "Quando a polícia
chega para nos matar, nós estamos praticamente mortos: discursos sobre
genocídio da população negra no cenário de Recife-PE" da Universidade
Federal de Pernambuco.
"Tratar sobre o
genocídio da população negra não é uma tarefa simples se não o atrelarmos à
compreensão do racismo no Brasil, vinculando a isso a especificidade das nossas
relações raciais", diz Joyce Amancio de Aquino Alves, autora da pesquisa.
Para a pesquisadora, os fenômenos do racismo e da violência estão interligados
e refletem a situação da população negra no Brasil.
A pesquisa também
constatou que "a democracia racial, já tensionada, se encontra em crise a
partir dos discursos evidenciados no cenário político". A pesquisa
considerou o termo jurídico para genocídio com o significado de qualquer ato
que seja cometido com a intenção de destruir um grupo nacional, religioso,
étnico ou racial, em todo ou em parte, mas ressaltando o conceito de “Continuum
Genocida”, de Nancy Sherper Huges, que representa uma série de acontecimentos
sequenciais e ininterruptos, fazendo com que haja uma violência direta contra
um determinado grupo social.
O estudo aponta que uma
das maiores dificuldades dos movimentos sociais negros é fazer o Brasil
entender que é um país racista e quebrar o mito da democracia racial. Para
Joyce, é importante compreender que o racismo institucional é reproduzido pelos
militares como aparelho ideológico e repressivo do Estado, porém é negado e
contrario em termos discursivos. "Pensar sobre as práticas policiais
racistas ainda é urgente", ressalta.
A reivindicação pelo
fim do genocídio negro brasileiro tem sido levantada pela militância
antirracista desde a fundação do Movimento Negro Unificado no Brasil, na década
de 70. Os dados coletados revelam que a violência contra a população negra no
país vem aumentando nos últimos anos − morrem 2,6 vezes mais negros do que
brancos vítimas de arma de fogo − e Pernambuco é apontado como um estado que
apresenta alta vulnerabilidade juvenil negra, de acordo com o levantamento
feito pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, pelo Ministério da Justiça e pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
O objetivo do estudo
foi identificar como são construídos os discursos da Polícia Militar de
Pernambuco e como eles apontam ou configuram a questão racial em suas
intervenções e abordagens, assim como os discursos da militância antirracista
no Recife, que mobilizam a bandeira do genocídio, pedindo seu fim e
posicionando a Polícia Militar como um personagem central nesse processo. Para
tanto, foram realizadas, além da pesquisa bibliográfica, dez entrevistas, entre
os agentes policiais e os militantes negros. Foram entrevistados, no município
de Recife, cinco membros que compõem o Movimento Negro Unificado e do coletivo
Cara e cinco membros da Polícia Militar.
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