Ao contrário do que
muitos especialistas acreditavam, os indivíduos que hoje têm em torno de 55 e
75 anos de idade, chamados de “baby boomers”, não estão mais solitários que os
de gerações anteriores. De acordo com dois estudos publicados nesta semana pela
Associação Americana de Psicologia (APA, em inglês), a tal “epidemia de
solidão” a que todo mundo se refere pode não ser um problema tão preocupante
para essa faixa etária como se imaginava. E a boa notícia talvez sirva de lição
para quem se sente só, independente da idade.
Um dos estudos,
liderados por pesquisadores da Universidade de Chicago, comparou dados de mais
de 3 mil adultos nascidos entre 1920 e 1947, entrevistados em duas épocas
diferentes. Além dessa amostra, foram analisados outro grupo de 4.777
indivíduos, que incluía também pessoas nascidas entre 1948 e 1965, os “baby
boomers”.
Os autores viram que os
níveis de solidão tendem a ser um pouco mais baixos entre os 50 e 74 anos de
idade, mas sobem após os 75, quando problemas de saúde se agravam, a
independência diminui e há perdas de amigos, parceiros ou parentes.
Esforço para interagir.
Independente da
geração, o que se sabe é que indivíduos que mantém uma boa saúde, têm um
parceiro romântico e cultivam relacionamentos são menos propensos a relatar
solidão. O segundo estudo divulgado pela APA comprova essas afirmações ao
analisar uma amostra de 4.880 holandeses nascidos entre 1908 e 1957.
O que essa última
pesquisa como fator mais importante para o “alívio” da solidão é a sensação de
estar no controle. Quando a pessoa descobre que pode ter bons relacionamentos
se fizer um esforço para isso a sensação desagradável de estar só diminui. Em
outras palavras, quando alguém reúne os amigos, vai a eventos, à igreja etc,
ela passa a compreender que ficar só é uma opção, e não destino.
Para os autores de
ambos os trabalhos, descritos no periódico Psychology and Aging,
muito da impressão que se tem ao ler, na imprensa, sobre os níveis alarmantes
de solidão se deve, na verdade, ao envelhecimento da população. Com mais idosos
vivos, há proporcionalmente mais queixas, mas isso não significa que os adultos
mais velhos de hoje são mais solitários que os de antigamente, o que é uma boa
notícia.
E os jovens solitários?
É curioso destacar que
dois outros estudos recentes mostram que muitos adultos jovens têm se sentido
solitários, apesar do advento das redes sociais. Um deles, feito com 1.200
norte-americanos, concluiu que 1 a cada 3 indivíduos com menos de 25 anos de
idade tem essa sensação, enquanto apenas 11% dos adultos com mais de 65 anos
relataram o mesmo. Esses resultados foram publicados este ano, no Annals
of Family Medicine.
Outra pesquisa que saiu
no ano passado, com mais de 55 mil britânicos, trouxe dados ainda mais
alarmantes: 40% dos entrevistados de 16 a 24 anos de idade afirmaram se sentir
solitários sempre ou quase sempre. Na faixa dos 65 aos 74 anos, o resultado foi
de 29%, e na de indivíduos acima de 75 anos, ficou em 27%. As informações,
divulgadas pela BBC, ainda mostram que os jovens mais solitários eram os que
tinham mais amigos “exclusivamente on-line”, ou seja, amigos que só são
contactados pelas redes sociais.
Se idosos podem
aprender a vencer a solidão com esforço pessoal, e quem sabe até aproveitar as
redes sociais para retomar amizades antigas ou criar grupos com interesses em
comum, é possível que os mais jovens possam aprender com os mais velhos. Evitar
que os relacionamentos fiquem restritos ao universo virtual pode ser um caminho
para se sentir mais conectado na fase que, até então, era considerada “o auge”
da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário