Estudos
relacionam metabolismo de ácidos graxos a partir de consumo de fibras com
imunidade.
O ditado “você é o que
você come” pode ser confirmado pela ciência quando o assunto é a microbiota
intestinal (no passado mais conhecida, erroneamente, como flora intestinal) e o
impacto na saúde humana.
Isso porque esses
micro-organismos que habitam nosso intestino metabolizam as fibras dos
alimentos em um processo que culmina em proteção contra diferentes doenças, que
vão de bronquiolite, doença com alta mortalidade em bebês, passando por
obesidade e até câncer.
Quando comemos
alimentos saudáveis, como leguminosas e frutas, suas fibras solúveis são
digeridas pelas bactérias para gerar energia para elas próprias. Esse
metabolismo resulta também na liberação de ácidos graxos de cadeia curta
(AGCCs) .
Os ácidos são
absorvidos tanto por colonócitos, células do tecido do intestino, como caem na
corrente sanguínea, chegando a diferentes órgãos para cumprir diversas funções,
inclusive a de proteção.
Inúmeras pesquisas
apontam para a importância da microbiota para a imunidade. Uma das mais
recentes, publicada na revista Nature, mostra como o intestino pode ter reflexo
no pulmão.
O estudo concluiu que
os camundongos que consumiam uma dieta rica em fibras conseguiram se recuperar
do vírus sincicial respiratório grave (VSR), que causa bronquiolite em
crianças.
O trabalho resulta da
investigação da doutoranda Krist Antunes, da Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS), bolsista da Capes.
Depois dos testes com
animais, a cientista passou a testar o nível de ácidos graxos de cadeia curta
nas fezes de bebês com bronquiolite internados no Hospital São Lucas, da PUCRS,
em Porto Alegre.
“Os bebês que tinham
mais acetato [um tipo de ácido graxo de cadeia curta] nas fezes ficavam menos
tempo internados”, diz Antunes.
Como os bebês ainda não
consomem alimentos, as substâncias são produzidas especialmente a partir do
aleitamento. Por este motivo, a amamentação é fundamental para a microbiota e
para a proteção e imunidade dos recém-nascidos. “O povoamento do intestino pela
microbiota inicia logo após o nascimento”, diz Marco Vinolo, do laboratório de
imuno inflamação, da Unicamp.
Um dos estudos de
Vinolo concluiu que é possível reverter parte de alterações que o uso intensivo
de antibióticos causa e proteger da infecção por Clostridium difficile, que
gera risco ao paciente por causar diarreia intensa e perda de absorção de
nutrientes.
A microbiota pode
também ser relacionado ao câncer, diz Emmanuel Dias-Neto, cientista do A.C.
Camargo Cancer Center. “O corpo é um grande sistema, bastante complexo, com
diversos componentes, incluindo células humanas e não humanas. Tudo está
interligado e pode ser modificado por sistemas externos, especialmente a
dieta”, explica Dias-Neto.
Pesquisa recente,
vencedora na categoria Pesquisa em Oncologia do 10º Prêmio Octavio Frias de
Oliveira, mostrou que presença de 16 bactérias na microbiota intestinal pode
indicar a presença de câncer colorretal em estágio inicial.
Dias-Neto cita como
exemplo estudos que mostram como o cigarro e o álcool afetam a microbiota
bucal, com risco de diferentes tipos de câncer. Diversos estudos também têm
relacionado o câncer colorretal a um consumo maior de carnes vermelhas e
embutidos. Pesquisas têm demonstrado que dietas ricas em vegetais, frutas e
grãos, além de atividade física, são associadas a menores taxas desse tipo de
câncer.
“Se o hábito de fumar
era comum e hoje parece inaceitável, daqui a vinte anos talvez as pessoas digam
que é nocivo também é o consumo de carne”, afirma.
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