Especialistas alertam
para os perigos à saúde física e mental e sugerem formas de se desconectar.
Utilizado por mais de 5
bilhões de pessoas em todo o mundo, o celular já é quase uma extensão do corpo
humano, visto que está frequentemente nas mãos do usuário.
Segundo a Pesquisa
Anual do Uso de TI nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas, até o
fim de 2019 o Brasil terá 420 milhões de aparelhos digitais ativos, ou seja,
dois dispositivos por habitante. É fato que smartphones facilitam a vida e a comunicação,
entretanto, o uso abusivo pode gerar um transtorno psicológico, a nomofobia.
O medo irracional de
ficar sem celular e outros aparelhos eletrônicos, bem como a incapacidade de
usá-los por insuficiência de bateria, ausência de sinal ou falta de internet
são alguns dos sintomas da síndrome de dependência digital. Do inglês “No
Mobile Phobia” (medo de ficar sem o celular), mais do que o tempo gasto no
aparelho, o abuso acarreta prejuízos à vida do usuário.
As grandes vilãs por
trás dos excessos são as redes sociais. A preocupação com o número de curtidas
e compartilhamentos, a apresentação de uma vida que não corresponde com a real
e a procura da selfie perfeita são sinais de que o uso se tornou prejudicial
para a saúde, visto que o indivíduo vive em função da realidade virtual. À
medida que se intensifica o contato com aparelhos eletrônicos, sutilmente
efeitos como dificuldade em socializar, estresse, ansiedade e depressão surgem.
Não apenas
psicológicos, a nomofobia pode motivar também problemas físicos, como fadiga,
sedentarismo, dores musculares, distúrbios do sono e problemas oculares. Não
obstante, o uso de celulares desvia a atenção cotidiana, podendo acarretar em
acidentes de trânsito, por exemplo.
Uso na infância.
"Estamos em plena
era tecnológica e as crianças desta geração já crescem com um tablet na mão,
porque muitos pais querem tranquilidade e, por isso, apelam para os
eletrônicos”, comentou Sueli de Oliveira, coordenadora pedagógica da unidade
Guará do Colégio Objetivo DF. De acordo com uma pesquisa divulgada pela
Associação Americana do Coração (AHA), crianças de 8 a 18 anos passam cerca de
sete horas por dia com dispositivos eletrônicos, tempo que deveria ser reduzido
drasticamente para não prejudicar o desenvolvimento físico e intelectual.
A coordenadora alertou
que o vício em celulares pode se iniciar desde cedo, porque as crianças já não
sabem o que é brincar, correr e pular com os amigos num parque, por exemplo, já
que estão constantemente envolvidas na realidade virtual. “A maioria dos alunos
que recebemos na escola apresentam prejuízos grandes, principalmente na
coordenação motora ampla. Eles não têm destreza para correr e se exercitar,
além de alguns ainda apresentarem dificuldades de se relacionar, porque estão
imersas nos celulares e não interagem com os demais colegas e familiares”,
lamentou Oliveira.
O deslumbramento, desde
a infância, com a infinidade de possibilidades que os aparelhos eletrônicos
oferecem resulta, futuramente, na nomofobia. Como se já não bastasse, os
excessos geram um efeito dominó que compromete outras áreas da vida. Por
exemplo: a pesquisa realizada pela AHA indicou que o uso contínuo de celulares
predispõe o indivíduo a adotar um comportamento sedentário, fator de risco para
obesidade e que, por sua vez, pode provocar doenças cardiovasculares e
diabetes.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) sustenta que crianças de até cinco anos não devem passar mais de
60 minutos por dia inertes em frente a uma tela. Para bebês de até 12 meses, a
recomendação é não passar sequer um minuto com eletrônicos.
Desconectando.
“Quantos carregadores
de celular as pessoas costumam ter? Um em casa, outro no trabalho, um na bolsa
e mais um carregador dentro do carro”, pontuou o coach e facilitador dos
Seminários Insight, Jacques Giraud. O especialista questionou: “Não podemos
deixar de estar conectados com o celular, mas quando é que conseguimos olhar o
próprio carregador interno? É preciso ter tempo também para descansar, repor as
energias e conectar consigo mesmo”.
Solucionar a nomofobia
parece uma tarefa simples: basta diminuir o tempo gasto com aparelhos
eletrônicos. Na prática, no entanto, trata-se de uma tarefa bastante
desafiadora, uma vez que a conectividade é uma característica do mundo
globalizado. “Parece quase impossível não estarmos conectados, mas tomado
algumas pequenas atitudes é possível fazer um uso mais consciente tanto dos
aparelhos quanto das redes sociais. Primeiro, prestar atenção aos comentários
ou mesmo consultar amigos e familiares sobre como eles percebem sua relação com
o celular”, comentou a diretora dos Seminários Insight em Brasília, Stèphanie
Brasil.
A diretora explicou que
o feedback externo é uma fonte importante de informação e pode ser o pontapé
inicial para o despertar individual, “porque às vezes, se a pessoa escuta que
ela não para de mexer no celular, que as outras pessoas não estão conseguindo
interagir e se comunicar de maneira satisfatória, pode ser que ela se
conscientize de que algo precisa mudar”.
Nesse sentido, antes de
se conectar com o mundo afora, é necessário melhorar a sua conexão interna, ou
seja, ter uma maior autoconsciência, olhar para si, observar quem você é fora
das redes sociais e escolher o que é melhor e mais saudável para o corpo e a
alma.
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